Já no século XIX, os Calvinistas
ingleses, conhecidos como Puritanos[1], que
também influenciaram positivamente a política e a economia, continuavam com
essa forma característica de vida, de busca pela retidão moral e ética, que não
se permitia conviver com uma consciência conivente com a corrupção. Parker, em
sua importante obra sobre os Puritanos, intitulada “Entre os Gigantes de Deus”,
afirma:
Todos os teólogos
Puritanos, desde Perkins, concordavam em conceber a consciência como uma
faculdade racional, um poder de autoconhecimento e juízo moral, que trata com
questões de certo e errado, de dever e privilégio, lidando com essas coisas
autoritativamente, como a voz de Deus (PARKER, 1996, p.117).
E ainda:
A
atenção que os puritanos davam à boa consciência emprestava grande força ética
ao seu ensino [...], os puritanos foram os maiores pregadores da retidão
pessoal (PACKER, 1999. p.11).
Sobre os Puritanos e sua consciência
cativa à ética e à moral, por força de sua devoção a Deus, Ryken, em sua
reconhecida obra “Santos no mundo”,
afirma: “As recompensas do trabalho, de acordo com a teoria puritana, eram
morais e espirituais, isto é, o trabalho glorificava a Deus e beneficiava a
sociedade” (RYKEN, 2013, p.70).
Apesar dos necessários exemplos de
como Calvino e os Calvinistas Puritanos se relacionam com a questão da
equidade, da justiça, da moral e da ética, nossa intenção, neste ensaio, é
tentar identificar o que há no Calvinismo que cria esse ambiente favorável ao
proceder ético e moral.
A produção dessa ética particular,
entendida aqui como Modus vivendi,
apresentada por Calvino e seus seguidores, é atribuída, principalmente, aos
efeitos psicológicos causados pela doutrina da eleição ou da predestinação[2].
A crença nessa
sistematização doutrinária calvinista leva o “eleito” a um imenso sentimento de
gratidão a Deus, uma vez que, mesmo sem merecer, recebe esta graça
extraordinária.
Dessa forma, coube aos puritanos, que se consideravam eleitos, viver a santificação da vida cotidiana. Pois o caráter sectário – a consciência de ser minoria e a motivação de ser eleito de Deus – fazia de cada membro dessas comunidades não mero adepto do rebanho mas, mas um vocacionado que se dedicava simultaneamente ao aprimoramento ético, intelectual e profissional (WEBER, 2002. p.21).
Como consequência e
em gratidão, o “eleito” passa a viver e a dedicar todos os seus momentos,
inclusive atividades seculares, para a “glória de Deus”.
Weber considera a
doutrina da eleição ou predestinação como ponto central na produção dessa ética
Calvinista:
Consideramos
apenas o Calvinismo e adotamos a doutrina da predestinação como arcabouço
dogmático da moralidade puritana, no sentido de racionalização metódica da
conduta ética (WEBER, 2002, p.91).
Para os Calvinistas,
o conhecimento e aceitação dessa verdade escriturística compreende,
necessariamente, uma mudança nas próprias práticas, isto é, o conhecimento não
pode ser apenas intelectual, antes, precisa descer ao coração e traduzir-se em
ações: “O propósito da verdade de Deus colocada nas mentes do seu povo é que,
ao compreendê-las, eles venham a conhecer o seu efeito na sua experiência
pessoal” (MARTINS, 2001. p.9).
Um importante
Catecismo calvinista dá o tom dos objetivos dessa nova vida outorgada pela
graça, já na pergunta inicial: “Qual é o Fim supremo e principal do homem? O
fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus” (CATECISMO MAIOR, 2007.
p.31).
Martins, sobre isso
faz uma pertinente colocação:
Quando
Deus torna uma pessoa Calvinista [...] esse encontro traz um conhecimento
íntimo da voz de Deus, uma total resignação à vontade e aos caminhos de Deus
(MARTINS, 2001. p.19).
[1]
Movimento
religioso protestante dos séculos 16 e 17 que buscou “purificar” a Igreja da
Inglaterra em linhas mais reformadas. O movimento foi calvinista quanto à
teologia e presbiteriano ou congregacional quanto ao governo eclesiástico.
Conforme: http://www.mackenzie.br/7058.html,
acessado em 31/08/2016.
[2]
Aspecto da
pré-ordenação de Deus, através do qual a salvação do crente é considerada
efetuada de acordo com a vontade de Deus, que o chamou e o elegeu em Cristo,
para a vida eterna, sendo a sua aceitação voluntária, da pessoa e do sacrifício
de Cristo, uma consequência desta eleição e do trabalho do Espírito Santo, que
efetiva esta eleição, tocando em seu coração e abrindo-lhe os olhos para as
coisas espirituais. Conforme: http://www.monergismo.com/textos/predestinacao/predestinacao_isaias.htm, Acessado em 28/08/2016.
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