
Nesse sentido, está certo o poeta ao reafirmar sua preferência em ser “essa metarmofose ambulante”; erra, porém, ao considerar esse um fato opcional. Michael Jackson é a constatação empírica do que acabamos de argumentar acima.
Sua vida foi marcada pelas mudanças, pelas transformações. A nossa também, mas nem sempre percebemos. Os holofotes que iluminaram o Rei do Pop, entretanto, não nos brindaram “apenas” com um talento incomum; refletiram, como um espelho, o que exatamente somos e o que, apesar de já sabermos, insistimos em não admitir: a transitoriedade da nossa vida. Se até os “Reis” passam, como não passaríamos nós também? “Que é o homem para que dele tomes conhecimento? E o filho do homem, para que o estimes? - Pergunta o salmista, respondendo ele mesmo - O homem é como um sopro; os seus dias, como a sombra que passa (Salmos 144:3-4). E ainda outro salmista afirma: “Os dias da nossa vida sobem a setenta anos ou, em havendo vigor, a oitenta; neste caso, o melhor deles é canseira e enfado, porque tudo passa rapidamente, e nós voamos” (Salmo 90:10).
Alguém, consciente, pode negar essa verdade? Mas, ao lado dessa nossa mutabilidade incondicional colocamos agora a imutabilidade de Deus, para provocar nossas mentes, deixando claro nossa loucura em não glorificá-lo. O filósofo medieval Agostinho de Hipona, em seu embate contra os maniqueus, afirma a imutabilidade de Deus, baseando-se no Seu atributo incomunicável da Eternidade. Ora, o que é eterno não pode, por definição, mudar nem variar. Afirma ele: “Porventura, Senhor, tu és eterno, já não conheces o que te digo? Não vês no tempo o que se passa no tempo? Por que motivo te narro então tantos acontecimentos? Não é, certamente, para que os conheças por mim, mas para despertar meu amor por ti" (CONFISSÕES XI, 1.1). O teólogo holandês Louis Berkhoff, expondo sobre o assunto, afirma que “A imutabilidade de Deus é necessariamente concomitante com sua asseidade. É a perfeição pela qual não há mudança nele, não somente em seu Ser, mas também em suas perfeições, em seus propósitos e em suas promessas. Em virtude deste atributo, ele é exaltado acima de tudo quanto há, e é imune de todo acréscimo ou diminuição e de todo desenvolvimento ou decadência em seu Ser e em suas Perfeições [...]. Até a razão nos ensina que não é possível nenhuma mudança em Deus, visto que qualquer mudança é para melhor ou para pior. Mas em Deus, a perfeição absoluta, melhoramento e deterioração são igualmente impossíveis” (BERKHOF, 1998. p.61).
O argumento está em perfeita harmonia com o que afirma Tiago, em sua epístola: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança (TG 1:17). O que fazer diante da irrefutável imutabilidade de Deus? Como nós, seres finitos e transitórios – todos nós – devemos proceder diante daquele que é o Oleiro? Um importante documento teológico do século XVII responde a essa questão: O fim supremo e principal do homem é Glorificar a Deus e gozá-lo para sempre (CATECISMO DE WESTMISTER, Pergunta 1).
Àquele pois que Era, que É e que há de vir; ao Alfa e Ômega, princípio, fim e preservador de todas as coisas, honra, louvor e glória!