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terça-feira, 4 de setembro de 2012

O AMOR LIMITADO DE DEUS - Parte 4 (final)



A consequência lógica da antropologia Agostiniana só pode ser uma: o amor limitado de Deus. Evidentemente que esse termo precisa ainda ser esclarecido. Quando dizemos “amor limitado” de Deus, não estamos querendo reduzir algo que, por si só, é infinito. Mas queremos dizer que a destinação eterna desse “amor salvífico” tem caráter específico e não contempla toda a raça humana, antes, pelo contrário, contempla apenas, só e somente só, o número exato daqueles que foram eleitos “antes da fundação do mundo” para a salvação. Nenhum a mais, nenhum a menos. Para esses, e somente para esses, repetimos, o “amor salvífico” de Deus não teve limites, chegando ao ponto extremo de entregar seu unigênito Filho para morrer no lugar deles. “O amor salvífico de Deus é limitado na medida em que atinge, por pura vontade Soberana do próprio Deus, somente os eleitos, tirando-os da condição de perdição que um dia se meteram, em Adão, por vontade livre, e não tirando o restante da raça humana desse estado de justa condenação eterna, mas apenas deixando-os onde, naturalmente, sua natureza decaída tem prazer em estar: distante de Deus. Por outro lado, o amor salvífico de Deus é ilimitado porque não mede esforços para salvar os predestinados”.

Para Agostinho, sendo o homem incapaz de qualquer bem por si só, estando com sua natureza corrompida e totalmente depravado, resta-lhe tão somente esperar o favor não merecido da graça divina. A partir desse ponto, e como consequência lógica e racional de sua antropologia, ele desenvolve seu conceito de predestinação. Essa doutrina, embora tenha suas bases firmadas em escritos paulinos, é a alternativa racional encontrada por Agostinho para resolver o problema da natureza decaída do homem.

Ora, se o homem, segundo Agostinho, não possui mais as condições para, por suas próprias forças, fazer qualquer bem que concorra para a reabilitação de sua própria natureza e considerando ainda que a revelação escriturística o fazia entender que nem todos, por mais que tentassem, alcançariam tal reabilitação, Agostinho avança, para a única conclusão cabível como desfecho de sua antropologia, para a única alternativa de reabilitação da alma decaída, isto é, a predestinação. Agostinho chega à conclusão que, na eternidade, Deus teria escolhido alguns homens para agraciá-los com essa graça salvífica, não por merecimento, pois, por merecimento todos deveriam, justamente, perecer eternamente na condição decaída, como ele mesmo afirma:

Esses testemunhos demonstram a concessão da graça de Deus não em atenção aos nossos merecimentos. Às vezes verifica-se a concessão não somente faltando merecimentos, mas existindo desmerecimentos prévios (AGOSTINHO. A graça. p.37).

No segundo volume de sua obra “A graça” Agostinho desenvolve de forma clara e inequívoca, não somente as bases de sua soterologia, mas, sobretudo, o desfecho lógico de sua antropologia, diz ele:

Procuremos entender a vocação própria dos eleitos, os quais não são eleitos porque creram, mas são eleitos para que cheguem a crer. O próprio Senhor revela a existência desta classe de vocação ao dizer: Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi (Jo 15: 16). Pois, se fossem eleitos porque creram, tê-lo-iam escolhido antes ao crer nele e assim merecerem ser eleitos. Evita, porém, esta interpretação aquele que diz: Não fostes vós que me escolhestes. Não há dúvida que eles também o escolheram, quando nele acreditaram. Daí o ter ele dito: Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi, não porque não o escolheram para ser escolhidos, mas para que o escolhessem, ele os escolheu. Isso porque a misericórdia se lhes antecipou (Sl 53:11) segundo a graça, não segundo uma dívida. Portanto, retirou-os do mundo quando ele vivia no mundo, mas já eram eleitos em si mesmos antes da criação do mundo. Esta é a imutável verdade da predestinação da graça. Pois, o que quis dizer o Apóstolo: Nele ele nos escolheu antes da fundação do mundo?(Ef 1:4). Com efeito, se de fato está escrito que Deus soube de antemão os que haveriam de crer, e não que os haveria de fazer que cressem, o Filho fala contra esta presciência ao dizer: Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi. Isto daria a entender que Deus sabia de antemão que eles o escolheriam para merecerem ser escolhidos por ele. Consequentemente, foram escolhidos antes da criação do mundo mediante a predestinação na qual Deus sabia de antemão todas as suas futuras obras, mas são retirados do mundo com a vocação com que Deus cumpriu o que predestinou. Pois, o que predestinou, também os chamou com a vocação segundo seu desígnio. Chamou os que predestinou e não a outros; predestinou os que chamou, justificou e glorificou (Rm 8:30) e não a outros com a consecução daquele fim que não tem fim. Portanto, Deus escolheu os crentes, mas para que o sejam e não porque já o eram. Diz o apóstolo Tiago: Não escolheu Deus os pobres em bens deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam? (Tg 2:5). Portanto, ao escolher, fá-los ricos na fé, assim como herdeiros do Reino. Pois, com razão, se diz que Deus escolheu nos que crêem aquilo pelo qual os escolheu para neles realizá-lo. Pergunto: quem ouvir o Senhor, que diz: Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi, terá atrevimento de dizer que os homens têm fé para ser escolhidos, quando a verdade é que são escolhidos para crer? A não ser que se ponham contra a sentença da Verdade e digam que escolheram antes a Cristo aqueles aos quais ele disse: Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi (AGOSTINHO. A graça. p.194,195).

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