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domingo, 27 de setembro de 2015

A QUESTÃO DA ETERNIDADE EM AGOSTINHO DE HIPONA – PARTE 9/11


A antropologia agostiniana em contraponto com os pelagianos - Continuação


A antropologia Agostiniana tem sido ainda bastante estudada, sobretudo pelos calvinistas, e tem sido considerada como um ponto fundamental  para a  soteriologia, de forma que não é errado afirmar que a visão  agostiniana/calvinista da depravação total do homem é o pilar principal do Pensamento Reformado, de forma que dele depende a compreensão de todo o resto do sofisticado sistema filosófico/teológico desenvolvido por Agostinho e seus sucessores.

A “Confissão de Westminster”, formulada em 1889, pelos puritanos ingleses, subscreve integralmente a antropologia Agostiniana:


Deus dotou a vontade do homem de tal liberdade, que ele nem é forçado para o bem ou para o mal, nem a isso é determinado por qualquer necessidade absoluta da sua natureza.  O homem, caindo em um estado de pecado, perdeu totalmente todo o poder de vontade quanto a qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação, de sorte que um homem natural, inteiramente adverso a esse bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu pr6prio poder, converter-se ou mesmo preparar-se para isso. Deus dotou a vontade do homem de tal liberdade, que ele nem é forçado para o bem ou para o mal, nem a isso é determinado por qualquer necessidade absoluta da sua natureza. O homem, em seu estado de inocência, tinha a liberdade e o poder de querer e fazer aquilo que é bom e agradável a Deus, mas mudavelmente, de sorte que pudesse decair dessa liberdade e poder[1].

Outro importante documento agostiniano/calvinista, intitulado “contra o arminianismo” , formulado em 1618, no sínodo de Dort, para combater  um dos mais entusiasmado seguidores de Pelágio, o holandês Thiago Armínius, mais uma vez  subscreveu integralmente a Antopologia  Agostiniana:

No princípio o homem foi criado à imagem de Deus. Foi adornado em seu entendimento com o verdadeiro e salutar conhecimento de Deus e de todas as coisas espirituais. Sua vontade e seu coração eram retos, todos os seus afetos, puros; portanto, era o homem completamente santo. Mas, desviando-se de Deus [...] pela sua livre vontade, ele privou desses dons excelentes. Em lugar disso trouxe sobre si cegueira, trevas terríveis, leviano e perverso juízo em seu entendimento; malícia, rebeldia e dureza em sua vontade e em seu coração; e ainda impureza em todos os seus afetos[2].

Também devemos citar aqui o testemunho de um importante monge agostiniano do século de XVI, Martinho Lutero, que em reação à retomada dos ensinamentos pelagianos, em relação ao livre-arbítrio, por Erasmo de Rotterdam, escreveu sua obra “A escravidão da vontade”, que é uma contundente crítica aos ensinamentos pelagianos no melhor estilo agostiniano; diz ele:

Erasmo [...] você assevera que o “livre-arbítrio” é a capacidade que a vontade humana tem, por si mesma, de decidir [...] Os pelagianos também fizeram isso. Mas você os ultrapassa! [...] Prefiro até mesmo o ensinamento de alguns dos antigos filósofos aos seus. Eles diziam que um homem entregue a si mesmo só faria o errado. O homem só poderia escolher o bom com a ajuda da graça divina. Eles diziam que os homens são livres para decair, mas que precisam de ajuda para elevarem-se! Porém, é motivo de riso chamar a isso de “livre-arbítrio”. Com base em tais conceitos, eu poderia afirmar que uma pedra tem “livre-arbítrio”, pois só pode cair, a menos que seja erguida por alguém! O ensino daqueles filósofos, põem, ainda é melhor do que o seu. A sua pedra, Erasmo, pode escolher se sobe ou desce![3].

Como já dissemos, esta controvérsia com os pelagianos foi de suma importância. Sua discórdia com Pelágio tem sido atualizada na História por várias pessoas e por diversas vezes, a exemplo de Erasmo e Lutero, Calvinistas e Arminianos.

Assim diferem radicalmente as antropologias de Pelágio e de Agostinho, e, conseqüentemente, sua éticas e doutrina da salvação. Agostinho não vai contra a natureza. Pelágio não vai contra a graça. Pelágio escreveu seu livro para defender a força, os dotes das condições naturais do homem. Agostinho para defender a graça, que não vai contra a natureza, mas a restaura, a salva demonstrando que, para não tornar vã a cruz de Cristo, é preciso defender não só a natureza, mas também a graça, que cura e liberta a natureza [...] Dessa polêmica nasceram as doutrinas ocidentais do pecado original, da graça, da predestinação e da satisfação vicária[4].



[1]WESTMINSTER, 1996, p.11
[2] OS CÂNONES DE DORT. Contra o Arminianismo. São Paulo: Ed.Cultura Cristã, 1996, p.34.
[3] LUTERO. Fragmentos. In: Nascido escravo. Trad.Born Slaves. São José dos Campos: Fiel, 1988, p.41
[4] Ibid., p.108, 109

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