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sexta-feira, 15 de maio de 2009

PRA QUÊ TABUADA SE TENHO DEDOS?

Acho muito engraçado quando vejo algumas mães, orgulhosas pelo progresso de seus filhos, passando outras companheiras de maternidade para trás. É algo mais ou menos assim: “... pois o meu filho já sabe fazer a, e, i, o, u ... Beto (filho “burrinho” da mãe humilhada) ainda não sabe?”. Outra mãe coruja suspira: “pois minha menina já sabe até tirar do quadro”. E quando o assunto é matemática? Ver a intimidade dos filhotes com os números é algo que requer a perda de qualquer resquício de modéstia: “Meu filho é muito inteligente... tu acreditas que ele já sabe fazer de 1 até 100 sozinho?”. E o meu? - Retruca a outra mãe -, na tentativa de dar a volta por cima: “pode perguntar a tabuada de 2 que ele sabe todinha (a essa altura já chama o filho, coloca-o na roda, e aí já viu...2x1...2x2..etc. E se o gênio errar? “Tá envergonhado!” - a solução está na ponta da língua). Situações como essas, ao contrário do que possa parecer - comentários simplórios - são bastante sintomáticas. Não importa se a criança ainda não tem maturidade cognitiva para compreender a abstração da matemática; não importa se as letras ou a tabuada ainda não fazem para ela o menor sentido e que as repetem apenas como um “papagaio” também repetiria. O que não dizer do sistema de notas? O que é mais importante: a nota ou o que efetivamente aprendemos? Certa vez fiz a seguinte experiência com um grupo de alunas da cadeira de filosofia da educação: após a avaliação, no dia da entrega das notas, comecei perguntando se elas consideravam que o trabalho durante o semestre havia sido produtivo, se haviam aprendido algo, incorporado novos conhecimentos. Para minha satisfação, ouvi comentários muito positivos sobre os trabalhos realizados. A alegria era geral e só parou –brusca e repentinamente – quando comecei a entregar as notas: 1,5; 3,0; 2,5 e até um 4,0. Entreguei a última nota e comecei a anotar no quadro o próximo assunto a ser estudado. Não consegui prosseguir com a aula tal era o grau de perplexidade. Houve quem demonstrasse acintosa insatisfação e quem não parava de rir, pela nota patética. Claro que as notas eram fictícias, mas a reação deixou muito evidente o que já sabemos: estudamos para tirar boas notas e não para aprender. Tanto é assim que ninguém – nem professores, nem alunos, nem diretores, nem pais – está preocupado com as questões erradas. Será que o que o aluno errou na prova também não era importante? Mas quem liga, se o objetivo é “apenas” atingir a média? Estudamos para obter o diploma e não os “conhecimentos puros” (desprovidos de outros objetivos). E se a faculdade não pudesse, por algum motivo, diplomar? Algum aluno permaneceria pelo “amor ao saber”? Vivemos a geração da “plataforma Windows” na educação, isto é, o usuário sabe apenas clicar, mas não conhece os processos internos; não sabe como os comandos são executados, diferentemente da geração MSDOS (que sabe exatamente o que há por trás do clique, além de também saber clicar). Neste sentido, contar nos dedos porque “ainda” não decorou a tabuada é um excelente sinal. É o próprio aluno construindo, ativamente, seu conhecimento. Isso é uma prova inconteste que ele sabe executar os comandos e não apenas clicar no botão resultado. Em última análise, se seu filho conta nos dedos ao fazer alguma operação matemática, fique feliz!

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