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terça-feira, 25 de maio de 2021

BREVE REFLEXÃO SOBRE A POSSIBILDIADE DO USO DA LÓGICA DO TERCEIRO INCLUÍDO NA CONSTRUÇÃO DO DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

 


Começo nossa reflexão citando trecho do texto "Entre santos e orixás e outras pontes teológicas": "Para o cristão o que permite passar de um nível de compreensão para um outro mais profundo não é, como para o físico, a reflexão simplesmente, mas a experiência de um Amor gratuito que se dá ao homem". Sobre a visão do Deus criador, no mesmo texto é afirmado: "a visão cristã dessa temática deve permitir-nos uma nova compreensão e uma nova vivência".

Os dois trechos do texto e suas consequências diretas implicam, necessariamente, que a visão cristã, por conta da própria característica interna do cristianismo, baseada no amor, precisa ser colocada em prática, realinhada e reenquadrada para que, por fim, seja possível "incluir" as outras crenças em um diálogo inter-religioso.

Mas, pensemos: Jesus, o Cristo, o sempre citado exemplo de amor, aquele que é, por assim dizer, fundador do cristianismo, estaria disposto a adotar a lógica do terceiro incluído, no sentido de entender o "deus" do outro como sendo um "Deus", também, igualmente merecedor de adoração, tanto quanto seu Pai? Estaria disposto à partilhar a crença do outro, a orar a oração do outro? Oraria ele à deusa Diana, por exemplo, tal qual orou ao seu "Deus"?

Não fazer isso poderia ser considerado falta de amor? A resposta à essas questões dará a dimensão do que se pode esperar do cristão na direção da promoção da lógica do terceiro incluindo e do aguardado diálogo inter-religioso.

Espera-se certo protagonismo do cristianismo na promoção desse diálogo. Mas, seria isso possível? Aqui chegamos no momento de responder à indagação inicial, proposta, sobre a "possibilidade de um diálogo aberto, inclusive com produção de conhecimentos trans-religiosos, entre pessoas das comunidades cristãs e dos terreiros afro-brasileiros. Você acha que isso é mesmo possível?".

Sinceramente? Acredito que sim, mas apenas num ambiente acadêmico, dentro do contexto das ciências da religião. Porém, bem longe das igrejas e bem longe dos terreiros.

Isso não é um desejo, é um entendimento da realidade. Sendo isso verdadeiro, pelo menos como uma verdade possível, não seria o caso de buscarmos uma alternativa à lógica do terceiro incluído?

Assim como a lógica do terceiro excluído impossibilita o diálogo inter-religioso, será que a lógica do terceiro incluído, também, não o tornaria inviável e improvável?

Será que a retomada da antiga "lógica do respeito", já incluída nas palavras: "portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós a eles" (Mateus 7:12), não seria uma alternativa viável? Algo do tipo: "tenho minha crença e penso que ela está certa, mas também respeito a sua".

Mas, ainda teríamos uma dificuldade a superar: a questão da evangelização e das missões. Como posso dizer respeitar a crença do outro se quero torná-lo um prosélito da minha crença?

Proponho o seguinte caminho:

1) A pregação de um crente no sentido de "convencer" o outro a adotar sua fé deve ser encarado como uma expressão da alteridade. Sim, o que prega prega porque entende sua crença como benéfica e reconfortante. Considera algo tão positivo que isso o impulsiona a querer que o outro também tenha essa "experiência maravilhosa". Não é por pura disputa de "crença". Não podemos esquecer que o crente é, também, de alguma forma, um "místico" que é afetado, sempre positivamente (caso contrário não seria levado a "pregar" sua crença), por sua experiência religiosa. Entender dessa forma, penso, resolveria o problema da diversidade de crença e da necessidade da pregação e das missões;

2) O fim do sistema de apelo. O sistema de apelo, pelo menos dentro da cristandade protestante, foi introduzido no século XIX, por Charles Finey. Ele consiste na “insistência” para que o ouvinte acate e creia no que se estar sendo pregado. Essa insistência varia de acordo com o pregador e com sua comunidade religiosa, denotando, muitas vezes, de fato, falta de respeito pela crença original do outro. Observemos: uma coisa é pregar ou falar acerca da sua crença e outra é você empreender esforço extra e insistente no sentido de promover ou tentar promover a conversão do outro. Então, como deveria ser a pregação do missionário? Ele deve apenas apresentar sua mensagem, nada mais. Não deve ter sequer nenhum compromisso, além da pregação de "sua verdade", com a conversão do seu ouvinte. Assim, o pregador "A" prega sua mensagem, da mesma forma que o pregador "B", "C", "D", "Z", etc. Teríamos, então, uma diversidade de crenças expostas e colocadas como alternativa. Quem sabe isso não promoveria o diálogo acerca das mais variadas crenças?

E a conversão? Como se daria? Isso passaria a ser assunto para os "deuses". Que eles trabalhem nos corações e os convertam para si.

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