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quinta-feira, 28 de maio de 2009

OS CINCO PONTOS DO CALVINISMO

Introdução

Uma macro-visão da história da humanidade, facilmente, revelará, de forma sintomática, a tendência do homem em agrupar-se em sistemas de vida. Na antiguidade, numa era pré-filosófica, a vida dos seres humanos, com pontuais exceções, girava em torno dos mitos e das formas mais primitivas da religiosidade. Esse sistema de vida “alimentava” apenas um de seus elementos constitutivos – a alma – anulando, na maioria das vezes, seu outro elemento de constituição – o corpo – aqui entendido como racionalidade, como capacidade de solucionar problemas de sua exclusiva competência.
Com o surgimento da Filosofia, no século VII a.C., o homem migra para um novo sistema de vida. Dessa vez, o elemento constitutivo material do homem – o corpo – em sua expressão máxima – a racionalidade – tripudia sobre a alma. A máxima da antropologia socrática: “conhece-te a ti mesmo”, dá a tônica do novo sistema.
Cansado de alimentar apenas a razão – enquanto expressão máxima do elemento material – corpo -, mais uma vez, o “nômade homem” migra para mais um sistema. Dessa vez, para um sistema apenas reformulado, porém, não totalmente novo, que chamaremos de “a ditadura da alma”. Durante toda a Idade Média, a principal atividade desse sistema foi sufocar toda e qualquer expressão do elemento constitutivo material do homem. Ao menor sinal de rebelião da racionalidade, logo, a fogueira era acesa.

Não havendo como manter a fogueira sempre acesa, o homem prossegue no seu êxodo, em busca de um novo sistema de vida, passando repentinamente, por Genebra[1], fixa seus olhos em uma outra ditadura: “a ditadura do corpo” – da razão. Como é próprio das ditaduras, mais mortes deveriam ocorrer para que a eliminação do inimigo (a alma – entendida como expressão da religiosidade) fosse definitiva. Considerando a força do oponente demonstrada por séculos no comando do sistema, durante todo o medievo, a dose do remédio deveria ser não para curar, mas para matar, definitivamente. Com a modernidade (sistema de vida que transcende até a contemporaneidade), o homem assume como máxima de sua nova ditadura a anunciação “da morte de Deus”[2]: “Nenhum Deus, nenhum Senhor”, é a palavra de ordem. O homem assume, definitivamente, o cetro. O ideal científico procura a alma e já não a encontra; em seu lugar, ondas e teias cerebrais. Não há mais lugar para os “fracos providos de almas”, mas, apenas para o Super-Homem Nietzscheniano.

Como pudemos perceber acima, a busca cíclica do homem por novos sistemas de vida – ora beneficiando a alma (religiosidade) ora beneficiando o corpo (racionalidade), tende a continuar. O homem só se fixará em um sistema de vida quando assumir que sua natureza é diversa e dual, uma não é contra a outra, mas, pelo contrário, uma completa a outra e, ambas, precisam igualmente ser alimentadas. Voltemos então à Genebra!

O Calvinismo é um poderoso sistema de vida, hermeticamente fechado, que atende aos interesses mais profundos da humanidade, tanto da alma quanto da racionalidade. O Calvinismo reconhece Deus como Deus, soberano, acima de tudo e de todos; ao mesmo tempo em que põe o homem na sua situação de criatura decaída. O Calvinismo entende o homem e o próprio Deus, pelo prisma das Sagradas Escrituras; ao mesmo tempo que se distancia do misticismo, abrindo, com isso, uma importante janela para o desenvolvimento e a racionalidade, aproxima-se, de forma profunda e coerente, com a antropologia e teologia da revelação escrita.

Kuyper, comentando sobre o sistema de vida calvinista, faz a seguinte afirmação:

Não há dúvida, então, de que o Cristianismo está exposto a grandes e sérios perigos. Dois sistemas de vida estão em combate mortal. O Modernismo está comprometido em construir um mundo próprio a partir de elementos do homem natural, e a construir o próprio homem a partir de elementos da natureza; enquanto que, por outro lado, todos aqueles que reverentemente humilham-se diante de Cristo e o adoram como o Filho do Deus vivo, e o próprio Deus, estão resolvidos a salvar a “herança cristã”. Esta é a luta na Europa, esta é a luta na América, e esta também é a luta por princípios em que meu próprio país está engajado, e na qual eu mesmo tenho gasto todas as minhas energias por quase quarenta anos.Nessa luta apologética não temos avançado um único passo. Os apologistas invariavelmente começam abandonando a defesa assaltada, a fim de entrincheirarem-se covardemente em um revelim atrás deles. Desde o início, portanto, tenho sempre dito a mim mesmo, -“Se o combate deve ser travado com honra e com esperança de vitória, então, princípio deve ser ordenado contra princípio. A seguir, deve ser sentido que no Modernismo, a imensa energia de um abrangente sistema de vida nos ataca; depois também, deve ser entendido que temos de assumir nossa posição em um sistema de vida de poder, igualmente abrangente e extenso. E este poderoso sistema de vida não deve ser inventado nem formulado por nós mesmos, mas deve ser tomado e aplicado como se apresenta na História. Quando assim fiz, encontrei e confessei, e ainda sustento, que esta manifestação do princípio cristão nos é dada no Calvinismo (KUYPER, 2002, p.19).

1 Entendendo o contexto histórico

Os Cinco Pontos do Calvinismo foram formulados em resposta a um “documento” que ficou conhecido na história como “Remonstrance” ou “Protesto”, que fora apresentado ao Estado da Holanda pelos “discípulos” do professor de um seminário holandês chamado Jacob Hermann, cujo sobrenome latino era Arminius (1560-1600). Mesmo estando inserido na tradição reformada, Arminius tinha sérias dúvidas quanto à graça soberana de Deus, visto que era simpático aos ensinos de Pelágio e Erasmo, no que se refere à livre vontade do homem. Este documento formulado pelos discípulos de Arminius tinha como objetivo mudar os símbolos oficiais de doutrinas das Igrejas da Holanda (Confissão Belga e Catecismo de Heidelberg ), substituindo-os pelos ensinos do seu mestre. Desta forma, a única razão pela qual “Os Cinco Pontos do Calvinismo” foram elaborados era a de responder ao documento apresentado pelos discípulos de Arminius.

2 Analisando os cinco pontos do calvinismo

2.1 Depravação total

Para compreendermos bem a doutrina da salvação, é de fundamental importância entendermos também a antropologia Bíblica. Quem é o homem para Deus? O que a Bíblia fala acerca do homem? Possui o homem livre arbítrio? Das respostas a esses questionamentos virá, necessariamente, o remédio sotereológico. Exatamente essa discursão – motor desencadeador de todas as outras referentes à salvação – tem sido atualizada ao longo do tempo. Primeiramente por Agostinho e Pelágio e, posteriormente, atualizado, principalmente, por Calvino e Armínius. Sproul, citando Hornack, confirma a importância do debate, diz ele:

A questão entre Pelágio e Agostinho era clara. Não estava ofuscada por argumentos teológicos intricados, especialmente no começo. Nunca houve, talvez, uma outra crise de igual importância na história da igreja na qual os oponentes tenham expressado os princípios em debate tão clara e abstratamente. Somente a disputa Ariana pode ser comparada a ela (SPROUL, 2001, p.31).

Agostinho costumava dizer que a antropologia bíblica se divide em duas fases, com relação ao homem natural: a) Antes do pecado o homem podia não pecar; b) Depois do pecado o homem não pode não pecar. É nesse caminho também que trilha o calvinismo. Enquanto os arminianos defendem que a queda do homem não foi total e que, nesse homem, restou bem suficiente capaz de habilitá-lo a querer aceitar a Cristo como Salvador; os calvinistas afirmam, um após outro, que, com a queda, o homem tornou-se totalmente depravado, morto espiritualmente, e, como tal, não restou bem algum a fim, de sozinho, querer a Deus. Um dos principais documentos calvinistas, em seu capítulo sobre o livre arbítrio, expõe com clareza a antropologia bíblica e a situação do homem diante de Deus, pré-queda e pós-queda:

Deus dotou a vontade do homem de tal liberdade, que ele nem é forçado para o bem ou para o mal, nem a isso é determinado por qualquer necessidade absoluta da sua natureza. Ref. Tiago 1:14; Deut. 30:19; João 5:40; Mat. 17:12; At.7:51; Tiago 4:7. O homem, em seu estado de inocência, tinha a liberdade e o poder de querer e fazer aquilo que é bom e agradável a Deus, mas mudavelmente, de sorte que pudesse decair dessa liberdade e poder.Ref. Ec. 7:29; Col. 3: 10; Gen. 1:26 e 2:16-17 e 3:6. O homem, caindo em um estado de pecado, perdeu totalmente todo o poder de vontade quanto a qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação, de sorte que um homem natural, inteiramente adverso a esse bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu pr6prio poder, converter-se ou mesmo preparar-se para isso. Ref. Rom. 5:6 e 8:7-8; João 15:5; Rom. 3:9-10, 12, 23; Ef.2:1, 5; Col. 2:13; João 6:44, 65; I Cor. 2:14; Tito 3:3-5.(WESTMINSTER, 1999, p.23).

Após a entrada do pecado, isto é, da queda do homem, fato extremamente grave, na visão calvinista, não tanto na arminiana, a situação do homem muda terrivelmente. Vejamos também o testemunho de Lutero, por ocasião do seu debate com Erasmo de Roterdan, com relação ao homem pós-queda:

Erasmo [...] você assevera que o “livre-arbítrio” é a capacidade que a vontade humana tem, por si mesma, de decidir [...] Os pelagianos também fizeram isso. Mas você os ultrapassa! [...] Prefiro até mesmo o ensinamento de alguns dos antigos filósofos aos seus. Eles diziam que um homem entregue a si mesmo só faria o errado. O homem só poderia escolher o bom com a ajuda da graça divina. Eles diziam que os homens são livres para decair, mas que precisam de ajuda para elevarem-se! Porém, é motivo de riso chamar a isso de “livre-arbítrio”. Com base em tais conceitos, eu poderia afirmar que uma pedra tem “livre-arbítrio”, pois só pode cair, a menos que seja erguida por alguém! O ensino daqueles filósofos, põem, ainda é melhor do que o seu. A sua pedra, Erasmo, pode escolher se sobe ou desce! (LUTERO, 1988, p.41).

2.2 Eleição incondicional

O segundo ponto do Calvinismo, Eleição Incondicional, tem por objetivo combater o também segundo ponto do arminianismo – Eleição Condicional -. Armínius e seus seguidores acreditavam que Deus havia elegido os homens que elegeu baseado em seu pré-conhecimento ou presciência. Ou seja, Deus anteviu aquele que iria, por seu próprio mérito, (não podemos esquecer que o homem arminiano é um homem que ainda está habilitado, mesmo depois da queda, a buscar a Deus mesmo sem que, necessariamente, haja alguma intervenção divina para isto) crer Nele, e, por conta disso, o elegeu. Isso faz de Deus um mero jornalista que apenas registra os “atos soberanos” do homem.

No sínodo de Dort, foi elaborada a seguinte contra-argumentação, relativamente ao condicionamento ou não da eleição do homem, por Deus, a algum movimento ativo desse homem:

Esta eleição é o imutável propósito de Deus, pelo qual Ele, antes da fundação do mundo, escolheu um número grande e definido de pessoas para a salvação, por graça pura. Estas são escolhidas de acordo com o soberano bom propósito de sua vontade, dentre todo o gênero humano, decaído pela sua própria culpa de sua integridade original para o pecado e a perdição. Os eleitos não são melhores ou mais dignos que os outros, porém envolvidos na mesma miséria dos demais. São escolhidos em Cristo, quem Deus constituiu, desde a eternidade, como Mediador e Cabeça de todos os eleitos e fundamento da salvação (DORT, 1996, p.34).

Na visão calvinista, diferentemente da arminiana, nada havia no homem, que fosse condição, a seu favor, para que justificasse um merecimento, por menor que seja, muito menos ainda um merecimento do tamanho da salvação eterna. A eleição de Deus baseou-se exclusivamente por sua graça (que por definição já denota um favor não merecido) e imensa bondade. Isso faz de Deus o autor da salvação e não apenas um coadjuvante dos direcionamentos humanos.
Agostinho também subscrevia uma eleição incondicional, como afirma:

Procuremos entender a vocação própria dos eleitos, os quais não são eleitos porque creram, mas são eleitos para que cheguem a crer. O próprio Senhor revela a existência desta classe de vocação ao dizer: Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi (Jo 15: 16). Pois, se fossem eleitos porque creram, tê-lo-iam escolhido antes ao crer nele e assim merecerem ser eleitos. Evita, porém, esta interpretação aquele que diz: Não fostes vós que me escolhestes (AGOSTINHO, 1999, p.194).

Analisemos o texto Escriturístico: “Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom, se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elas se teriam arrependido, assentadas em pano de saco e cinza” (Lucas 10:13). Nesse texto, fica muito evidente que o decreto de Deus sobrepõe-se à sua presciência. Deus conhece todas as possibilidades, evidentemente, mas permite acontecer tão somente o que já de antemão decretou.

A confissão de Westminster, em seu capítulo sobre os “Eternos decretos de Deus”, faz as seguintes afirmações:

Desde toda a eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo conselho da sua própria vontade, ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece [...]. Ref. Isa. 45:6-7; Rom. 11:33; Heb. 6:17; Sal.5:4; Tiago 1:13-17; I João 1:5; Mat. 17:2; João 19:11; At.2:23; At. 4:27-28 e 27:23, 24, 34. Ainda que Deus sabe tudo quanto pode ou há de acontecer em todas as circunstâncias imagináveis, ele não decreta coisa alguma por havê-la previsto como futura, ou como coisa que havia de acontecer em tais e tais condições Ref. At. 15:18; Prov.16:33; I Sam. 23:11-12; Mat. 11:21-23; Rom. 9:11-18. Segundo o seu eterno e imutável propósito e segundo o santo conselho e beneplácito da sua vontade, Deus antes que fosse o mundo criado, escolheu em Cristo para a glória eterna os homens que são predestinados para a vida; para o louvor da sua gloriosa graça, ele os escolheu de sua mera e livre graça e amor, e não por previsão de fé, ou de boas obras e perseverança nelas, ou de qualquer outra coisa na criatura que a isso o movesse, como condição ou causa. Ref. Ef. 1:4, 9, 11; Rom. 8:30; II Tim. 1:9; I Tess, 5:9; Rom. 9:11-16; Ef. 1: 19: e 2:8-9. (WESTMINSTER, 1999. p.13)

Como bem afirma Spencer: “Se a eleição dependesse do homem, ele nunca creria, porque o homem é totalmente depravado e incapaz de fazer aquilo que é bom aos olhos de Deus. Deixando a si mesmo para decidir-se por cristo, sem que antes a fé lhe seja outorgada por um ato de Deus, o homem nunca irá a Cristo”. (SPENCER, 1992. p.39).

3.3 Expiação limitada

O terceiro e, talvez, o mais polêmico (apenas aparentemente, porque, nada mais é, que um elo perfeito que liga ao ponto anterior e ao posterior) dos pontos do calvinismo, a Expiação Limitada, foi formulada para combater a idéia de Expiação (redenção) Universal, formulada pelos seguidores de Armínius. Para eles, a morte de Cristo foi extensiva a todos os homens, sem exceção. Uma pergunta, porém não quer calar: Teria Cristo morrido, de fato, também por aqueles que passarão toda a eternidade no inferno? Se a resposta a essa questão é afirmativa, teremos que, indubitavelmente, escolher entre estas duas proposições: ou o sacrifício de Cristo não foi tão perfeito e eficaz quanto pretendia ou Deus, ainda que tenha boa vontade em salvar esses indivíduos, chegando até a verter o sangue precioso do seu Unigênito Filho, não tem poder suficiente para levar a termo a sua própria vontade.
Em favor de quem Cristo morreu? Morreu por todos? Quais foram aqueles em favor dos quais derramou Ele o seu sangue?

A questão do propósito limitado da morte de Cristo (Expiação Limitada) tem sido alvo de inúmeras e intensas controvérsias. Certamente o nosso Senhor Jesus Cristo tinha alguma determinação absoluta em vista, quando subiu à cruz. Certamente tinha Ele um propósito bem definido, e assim sendo, necessariamente tinha que ser levado a efeito, tinha que ser cumprido. Se este propósito de Cristo incluísse a totalidade da humanidade, por certo, toda a humanidade teria de ser salva. E, isto, sabemos, não ocorrerá!. Cristo não morreu para possibilitar a salvação de toda a humanidade, mas para assegurar a salvação de todos aqueles que lhe tinham sido concedidos pelo Pai (Jo 10:29). Cristo não morreu simplesmente para possibilitar o perdão dos pecados, mas para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo (Hb 9:26-28).

3.3.1 Propósito Limitado da expiação

O propósito limitado da expiação é uma conclusão lógica da escolha eterna. Se Deus escolheu alguns desde o princípio e se a vontade de Cristo era a vontade do Pai (Hb 10:7; Jo 6:38), nada mais óbvio do que chegarmos à conclusão de que Cristo subiu naquela cruz apenas para salvar os que foram eleitos antes da fundação do mundo. Analisemos os textos: (Jo 6:37,39; 17:1,2,6,9 e 24).

Analisando a questão da expiação no V.T., em Levíticos 1:4-5 e outros textos, podemos ver que a culpa da pessoa era como que transferida para o animal. Aquele que oferecia o animal em sacrifício era considerado perdoado do seu pecado, da sua culpa. Uma vez por ano o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos para oferecer sacrifício, com sangue, por si e pelo povo (Lv 16:17-24, 23:28; Hb 9:7) e o povo era expiado, considerado perdoado. Diz-se que o animal expiou o pecado do povo, levando-o sobre si (Lv 16:21). De fato a expiação do V.T. era uma tipologia da morte de Cristo (GI 1:4; Hb 7:27; Rm 3:24-25).

Diante desses fatos bíblicos perguntamos: Em favor de quem foi oferecido este resgate? Ou quem foi expiado com a morte de Cristo? Se respondemos que tudo isto foi em prol da raça humana inteira, então foi cancelada a divida de todo ser humano. Se Cristo levou sobre si o pecado de toda a raça humana, então ninguém mais perecerá; ninguém sofrerá a condenação final. Deus não pode exigir o pagamento de uma divida por duas vezes. Uma vez do fiador, que derramou seu sangue, e depois outra vez da mão do devedor. Ou teria o sacrifício expiatório de Cristo sido insuficiente?

O fato é que Cristo não saldou a dívida de todos (1 Pd 3:19; Jo 8:21; Mt 25: 41). Dizer que Cristo morreu por todos é dizer que foi substituto e fiador de toda raça humana. Dizer que Cristo morreu por todos é dizer que Ele levou sobre si a maldição de muitos que agora levam sua própria maldição, é dizer que sofreu a punição de muitos que agora sofrem a sua própria punição no inferno.

Por outro lado, dizer que foi ferido pelas transgressões do povo de Deus, que deu sua vida em resgate de muitos e que morreu pelas suas ovelhas é dizer o que dizem as escrituras. Vejamos alguns textos: Ef 1:4,5;Jo 10:16; 13:1; 17:19; 10:11; 11:49-52; At 20:28; Mt 20:28 Is 53:8.

Quando Cristo deu a sua vida na cruz do Calvário, deu-a por suas ovelhas, os eleitos! Não são todos os homens que estão incluídos na expressão “minhas ovelhas”. Portanto, Cristo não deu sua vida por todos os homens. Aos que estavam ao seu redor, ele disse: “Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas” (Jo 10:26). Os reprovados, os não-eleitos, os descrentes não estão incluídos no número daqueles por quem Cristo deu a sua vida. Ele morreu só pelas suas ovelhas. (SPENCER, 1992. p.39).

3.4 Graça irresistível

Sendo o homem um ser “morto”, espiritualmente falando, e, por conta disso, não podendo oferecer, absolutamente, nada para ter sido escolhido, por algum mérito ativo, tendo tão somente sido eleito pela graça e misericórdia de Deus que, incondicionalmente, o resgatou da escuridão das trevas, não é de se admirar que o quarto ponto do calvinismo verse sobre a impossibilidade de uma resistência, por parte do homem, ao chamado divino. Esse ponto foi formulado em contra-argumentação da idéia arminiana que afirma: mesmo Deus querendo chamar o homem para dar-lhe salvação, esse pode, por seu poder e vontade resistir a esse chamado divino. Chega a ser inacreditável a inversão de valores promovida pela doutrina arminiana, que apresenta um Deus, cheio de boas intenções, mas que esbarra na vontade “soberana” do homem. É uma verdadeira aclamação ao humanismo de Nietzsche.

A Confissão de Fé de Westmister faz a seguinte afirmação sobre o chamado eficaz (apesar de irresistível o homem não é obrigado a atender ao chamado, contudo, seu coração é transformado, para, a partir de então “querer” e ter prazer nesse chamado) que Deus direciona ao homem:

Todos aqueles que Deus predestinou para a vida, e só esses, é ele servido, no tempo por ele determinado e aceito, chamar eficazmente pela sua palavra e pelo seu Espírito [...]. Isto ele o faz, iluminando os seus entendimentos espiritualmente a fim de compreenderem as coisas de Deus para a salvação, tirando-lhes os seus corações de pedra e dando lhes corações de carne, renovando as suas vontades e determinando-as pela sua onipotência para aquilo que é bom e atraindo-os eficazmente a Jesus Cristo, mas de maneira que eles vêm mui livremente, sendo para isso dispostos pela sua graça. Ref. João 15:16; At. 13:48; Rom. 8:28-30 e 11:7; Ef. 1:5,10; I Tess. 5:9; 11 Tess. 2:13-14; IICor.3:3,6; Tiago 1:18; I Cor. 2:12; Rom. 5:2; II Tim. 1:9-10; At. 26:18; I Cor. 2:10, 12: Ef. 1:17-18; II Çor. 4:6; Eze. 36:26, e 11:19; Deut. 30:6; João 3:5; Gal. 6:15; Tito 3:5; I Ped. 1:23; João 6:44-45; Sal. 90;3; João 9:3; João6:37; Mat. 11:28; Apoc. 22:17. Esta vocação eficaz é só da livre e especial graça de Deus e não provem de qualquer coisa prevista no homem; na vocação o homem é inteiramente passivo, até que, vivificado e renovado pelo Espírito Santo, fica habilitado a corresponder a ela e a receber a graça nela oferecida e comunicada. Ref. II Tim. 1:9; Tito 3:4-5; Rom. 9:11; I Cor. 2:14; Rom. 8:7-9; Ef. 2:5; João 6:37; Eze. 36:27; João5:25. .(WESTMINSTER, 1999. p.5)

Spencer faz a seguinte afirmação sobre essa chamada irresistível:

O homem não tem o poder para resistir a Deus, se Deus “quiser salvá-lo”. O homem não é apenas um poder de terceira classe, submetido ao deus dos mortos, mas não pode nem mesmo resistir a seus maus hábitos e às luxúrias de sua carne! O homem necessita que Deus o domine irresistivelmente por sua graça, pois, do contrário, o homem não poderá dar jamais um passo na direção de Cristo. Daí as palavras do Senhor: “Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer” (Jo 6:44). (SPENCER, 1992. p.54).

3.5 Perseverança dos santos

Finalmente chegamos ao último ponto da doutrina calvinista. Aquele que é a conclusão obvia e lógica de todos os outros pontos e quer responder à seguinte questão: Pode o homem uma vez regenerado decair da graça? Perder a salvação? Esse ponto, assim como os outros, foi motivado pela doutrina arminiana que afirma: uma vez salvo por um ato de sua própria vontade livremente exercida, aceitando a Cristo por sua própria decisão, pode também perder-se depois de ter sido salvo. Para sermos bem sinceros, essa é a conclusão que todo arminiano deveria chegar, depois de toda a sua construção racional, mas não é bem isso que ocorre.
Os calvinistas, por sua vez, baseados na situação de morte espiritual do homem, no chamado eficaz de Deus, como única possibilidade de reverter quadro tão tenebroso, na sua graça, que não pode ser resistida e, principalmente, nas gotas benditas do sangue de Cristo vertido na cruz., em favor dos eleitos, afirmam que a salvação não pode ser perdida; primeiro por que é eterna; que por definição é algo que não pode ter fim, depois porque é o próprio Deus, único ativo no processo de salvação, que faz o homem reviver espiritualmente, quem o elege irresistivelmente, quem derrama o sangue para providenciar a expiação dos pecados e, finalmente, preserva a vida e a alma do eleito para todo o sempre.

Mais uma vez invocamos o testemunho, que é uma síntese das melhores confissões formuladas em todas as épocas, a Confissão de Fé de Westminster:

Os que Deus aceitou em seu Bem-amado, os que ele chamou eficazmente e santificou pelo seu Espírito, não podem decair do estado da graça, nem total, nem finalmente; mas, com toda a certeza hão de perseverar nesse estado até o fim e serão eternamente salvos.Ref. Fil. 1: 6; João 10: 28-29; I Ped. 1:5, 9. Esta perseverança dos santos não depende do livre arbítrio deles, mas da imutabilidade do decreto da eleição, procedente do livre e imutável amor de Deus Pai, da eficácia do mérito e intercessão de Jesus Cristo, da permanência do Espírito e da semente de Deus neles e da natureza do pacto da graça; de todas estas coisas vêm a sua certeza e infalibilidade. Ref. II Tim. 2:19; Jer. 31:3; João 17:11, 24; Heb 7:25; Luc. 22:32; Rom. 8:33, 34, 38-39; João 14:16-17; I João 2:27 e 3:9; Jer. 32:40; II Tess. 3:3; I João 2:19; João 10:28. (WESTMISNTER, 1999. p.16)

Spencer, comentando sobre esse assunto, afirma: “Sim, os santos perseverarão porque o Salvador declara que quer perseverar em favor deles, e quer guardá-los [...]. A perseverança dos santos depende da graça irresistível que nos é assegurada porque Cristo morreu por nós, uma vez que a expiação que temos, pelo seu sangue, é limitada aos eleitos”. (SPENCER, 1992. p.61).
3.6 Conclusão

As palavras de Charles Spurgeon, pastor Batista e um dos maiores entusiastas da doutrina calvinista, ecoarão melhor que quaisquer outras nesse momento conclusivo:

As velhas verdades que Calvino pregou, que Agostinho pregou, que Paulo são as verdades que eu devo pregar hoje, ou, de outro modo, serei falso à minha consciência e ao meu Deus. Eu não posso fabricar a verdade. Eu nada sei a respeito de como abrandar as ásperas arestas de uma doutrina. O Evangelho de João Knox é o meu evangelho. Aquele Evangelho que ribombou através da Escócia deve ribombar através da Inglaterra outra vez [...].Deleito-me em proclamar estas velhas e fortes doutrinas apelidadas de Calvinismo, porque são certa e seguramente a verdade revelada por Deus, como ela está em Jesus Cristo. (SPENCER, 1992, p.8).





[1] A história da cidade está associada à história da Reforma Protestante. Genebra ganhou o cognome de "Roma protestante" ou "a cidade de Calvino". A partir de 1536, a história da cidade de Genebra passa a estar associada com a história da Reforma Protestante. O líder protestante francês João Calvino instalou-se em Genebra pela primeira vez em 1536 e definitivamente em 1541. Calvino faleceu em Genebra em 1564.
[2] Frase muito citada do filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900). Aparece pela primeira vez em A gaia ciência, na seção 108 (Novas lutas), na seção 125 (O louco) e uma terceira vez na secção 343 (Sentido da nossa alegria). Uma outra instância da frase, e a principal responsável pela sua popularidade, aparece na principal obra de Nietzsche, Assim falava Zaratustra: Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! ! Como haveremos de nos consolar, nós os algozes dos algozes? O que o mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas. Quem nos limpará desse sangue? Qual a água que nos lavará? Que solenidades de desagravo, que jogos sagrados haveremos de inventar? A grandiosidade deste acto não será demasiada para nós? Não teremos de nos tornar nós próprios deuses, para parecermos apenas dignos dele? Nunca existiu acto mais grandioso, e, quem quer que nasça depois de nós, passará a fazer parte, mercê deste ato, de uma história superior a toda história até hoje! NIETZSCHE. Fredrich. A Gaia Ciência, §125.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

A SOLUÇÃO PARA O PROBLEMA DA SAÚDE PÚBLICA

Todos são iguais perante a lei (Art.5º da CF). Essa é uma afirmação que tem ficado obsoleta. Cadavez mais assistimos a fragmentação de um Estado que não tem condições de assegurar, sequer, os direitos elementares dos cidadãos: saúde, educação e segurança (conforme prevê o Art.6º da CF: "são direitos sociais a Educação, a Saúde [...] a Segurança). Vivemos num estado democrático de direito, o que significa que fizemos um "acordo" com esse Estado. Abrimos mão de prover os meios de nossa própria segurança, educação e saúde (a priori de nossa inteira competência) e confiamos ao Estado a responsabilidade de viabilizar a satisfação dessas necessidades basilares, de tal forma que não temos mais o direito (ideologicamente) de andar armados para fazermos nossa própria proteção. Em contrapartida, nos comprometemos a pagar impostos, como forma de retro-alimentação desse Estado. Um contrato, de fato, com cláusulas a serem cumpridas pelas partes. A grande questão é: nós temos cumprido nossa parte e o Estado? Obviamente que não. Temos que, além dos impostos, pagar escola para nossos filhos; além dos impostos, temos que investir em segurança privada, grades, seguros, etc. Temos que, além dos impostos, pagar plano de saúde. Será que já não está na hora de rever esse modelo? Algo precisa ser feito, o Estado precisa ser denunciado ao “Procon”, por quebra de contrato; o que não adiantará muito, pois ele é o “Estado”. Reconhecemos, entretanto, a complexidade envolvida nesse assunto e claro que não conseguiremos esgotá-lo nessas breves linhas. Porém, gostaríamos de propor uma solução simples, barata e viável para um dos maiores problemas do Estado, e, conseqüentemente, nosso: a questão da saúde pública. Todos nós estamos acompanhando os problemas de saúde da ministra Dilma e do Vice-Presidente José Alencar. Ambos lutam contra o câncer, mas essa não é a única coincidência. Ambos só fazem seus caríssimos tratamentos nos melhores hospitais do pais (Instituto do Coração e hospital Sírio-Libanês). Eles (os políticos) não usam o SUS. Eis o diagnóstico das causas da falência e ineficiência do Estado, nesse quesito. Fica então a sugestão, caros legisladores: "que todos que ocupam cargos públicos sejam “obrigados” a utilizarem tão somente a rede pública de serviços, inclusive o SUS". Pronto! Resolvido o problema. Finalmente teremos ótimo atendimento nos hospitais, nunca mais faltarão medicamentos e, de quebra, nossos filhos estudarão em escolas de primeiro mundo. Alguém duvida?

sexta-feira, 15 de maio de 2009

PRA QUÊ TABUADA SE TENHO DEDOS?

Acho muito engraçado quando vejo algumas mães, orgulhosas pelo progresso de seus filhos, passando outras companheiras de maternidade para trás. É algo mais ou menos assim: “... pois o meu filho já sabe fazer a, e, i, o, u ... Beto (filho “burrinho” da mãe humilhada) ainda não sabe?”. Outra mãe coruja suspira: “pois minha menina já sabe até tirar do quadro”. E quando o assunto é matemática? Ver a intimidade dos filhotes com os números é algo que requer a perda de qualquer resquício de modéstia: “Meu filho é muito inteligente... tu acreditas que ele já sabe fazer de 1 até 100 sozinho?”. E o meu? - Retruca a outra mãe -, na tentativa de dar a volta por cima: “pode perguntar a tabuada de 2 que ele sabe todinha (a essa altura já chama o filho, coloca-o na roda, e aí já viu...2x1...2x2..etc. E se o gênio errar? “Tá envergonhado!” - a solução está na ponta da língua). Situações como essas, ao contrário do que possa parecer - comentários simplórios - são bastante sintomáticas. Não importa se a criança ainda não tem maturidade cognitiva para compreender a abstração da matemática; não importa se as letras ou a tabuada ainda não fazem para ela o menor sentido e que as repetem apenas como um “papagaio” também repetiria. O que não dizer do sistema de notas? O que é mais importante: a nota ou o que efetivamente aprendemos? Certa vez fiz a seguinte experiência com um grupo de alunas da cadeira de filosofia da educação: após a avaliação, no dia da entrega das notas, comecei perguntando se elas consideravam que o trabalho durante o semestre havia sido produtivo, se haviam aprendido algo, incorporado novos conhecimentos. Para minha satisfação, ouvi comentários muito positivos sobre os trabalhos realizados. A alegria era geral e só parou –brusca e repentinamente – quando comecei a entregar as notas: 1,5; 3,0; 2,5 e até um 4,0. Entreguei a última nota e comecei a anotar no quadro o próximo assunto a ser estudado. Não consegui prosseguir com a aula tal era o grau de perplexidade. Houve quem demonstrasse acintosa insatisfação e quem não parava de rir, pela nota patética. Claro que as notas eram fictícias, mas a reação deixou muito evidente o que já sabemos: estudamos para tirar boas notas e não para aprender. Tanto é assim que ninguém – nem professores, nem alunos, nem diretores, nem pais – está preocupado com as questões erradas. Será que o que o aluno errou na prova também não era importante? Mas quem liga, se o objetivo é “apenas” atingir a média? Estudamos para obter o diploma e não os “conhecimentos puros” (desprovidos de outros objetivos). E se a faculdade não pudesse, por algum motivo, diplomar? Algum aluno permaneceria pelo “amor ao saber”? Vivemos a geração da “plataforma Windows” na educação, isto é, o usuário sabe apenas clicar, mas não conhece os processos internos; não sabe como os comandos são executados, diferentemente da geração MSDOS (que sabe exatamente o que há por trás do clique, além de também saber clicar). Neste sentido, contar nos dedos porque “ainda” não decorou a tabuada é um excelente sinal. É o próprio aluno construindo, ativamente, seu conhecimento. Isso é uma prova inconteste que ele sabe executar os comandos e não apenas clicar no botão resultado. Em última análise, se seu filho conta nos dedos ao fazer alguma operação matemática, fique feliz!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA RELIGIOSIDADE SADIA


O texto a seguir trata-se de um discurso proferido - pelo autor - na cerimônia religiosa da formatura de Licenciatura em Filosofia, na capela da Universidade Católica de PE, em 12/12/2003, onde foi graduado.


Como estamos em uma cerimônia religiosa, julguei ser oportuno refletirmos por alguns minutos sobre a importância da filosofia na produção de uma fé sadia e de uma teologia coerente. Geralmente se diz dos filósofos que são ateus e que a filosofia afasta o homem de Deus. Mas, o papel fundamental da filosofia é buscar e encontrar a verdade, esteja onde estiver. A filosofia não é um fim em si mesmo, mas um canal de investigação da verdade; de forma que é verdadeira a velha máxima: “A filosofia é a mãe de todas as ciências”. A expressão paulina já nos convida a “prestar um culto racional”. Diz ele: “apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso “culto Racional”. É evidente, caros colegas, caros ouvintes, que nossa religiosidade e até nossa fé devem ter um “parâmetro racional”, sob pena de tomarmos veneno para obedecer ao mandamento de desajustados líderes religiosos, mas não tão desajustados a ponto de ingerirem, eles próprios, o líquido letal. Sob pena também de acreditarmos que uma simples fenda numa rocha, causada pela ação erosiva do tempo, em um longínquo interior nordestino tenha sido causada pelas mães de Jesus Cristo, quando carregava a cruz que nos pertencia, só porque os “tutores de nossa fé” querem que acreditemos em tamanho homicídio histórico e geográfico. Poderíamos aqui também lembrar-nos de alguns expoentes da filosofia que nutriam algum tipo de religiosidade, a exemplo de Agostinho de Hipona, Tomas de Aquino, Kant, Descartes e tantos outros. Caros colegas filósofos, vivemos num contexto nunca visto antes. Precisamos dar nossa contribuição em perseguimos à verdade, com zelo, até encontrá-la, esteja onde estiver, e fazê-la vir à tona. A filosofia é, antes, um instrumento a serviço da produção de uma religiosidade sadia.

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