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sexta-feira, 26 de março de 2010

MITO DA CAVERNA DE PLATÃO

1- MITO DA CAVERNA
Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, seres humanos estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão algemados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas para a frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo que se possa, na semi-obscuridade, enxergar o que se passa no interior. A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ela e os prisioneiros - no exterior, portanto - há um caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como se fosse a parte fronteira de um palco de marionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas. Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros enxergam na parede do fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transportam. Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas são as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens (estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no exterior e imaginam que toda a luminosidade possível é a que reina na caverna. Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Que faria um prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os outros seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelos anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e, deparando com o caminho ascendente, nele adentraria. Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade é a luz do sol, e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, prosseguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo que, durante toda sua vida, não vira senão sombras de imagens (as sombras das estatuetas projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está contemplando a própria realidade. Libertado e conhecedor do mundo, o priosioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado pela escuridão, contaria aos outros o que viu e tentaria libertá-los. Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, não acreditariam em suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo com suas caçoadas, tentariam fazê-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em afirmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por matá-lo.

2- REPRESENTAÇÃO DA CAVERNA


3- SIGNIFICADO DOS ELEMENTOS DA ALEGORIA DE PLATÃO:

O que é a caverna? O mundo em que vivemos. Que são as sombras das estatuetas? As coisas materiais e sensoriais que percebemos. Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna? O filósofo. O que é a luz exterior do sol? A luz da verdade. O que é o mundo exterior? O mundo das idéias verdadeiras ou da verdadeira realidade. Qual o instrumento que liberta o filósofo e com o qual ele deseja libertar os outros prisioneiros? A dialética,O que é a visão do mundo real iluminado? A filosofia. Por que os prisioneiros zombam, espancam e matam o filósofo (Platão está se referindo à condenação de Sócrates à morte pela assembléia ateniense?) Porque imaginam que o mundo sensível é o mundo real e o único verdadeiro (CHAUI, Marilena. Convite a filosofia. São Paulo: Editora Ática, 1999. p. 41).

4- OS DOIS MUNDO DE PLATÃO

Utilizando-se da alegoria da Caverna, Platão afirma existir dois mundos diferentes, separados e autônomos entre si:

4.1 O mundo visível, sensível, dos fenômenos e acessível aos sentidos (é aquele que a maioria da humanidade está presa; sujeito a interpretações falsas da verdade);

4.2 O mundo das idéias gerais (inteligível), "das essências imutáveis, que o homem (alguns) atinge pela contemplação e pela depuração dos enganos dos sentidos" (ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 5ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007).

Para exemplificar a visão de Platão, considere um conjunto de cavalos. Apesar deles não serem exatamente iguais, existe algo que é comum a todos os cavalos; algo que garante que nós jamais teremos problemas para reconhecer um cavalo. Naturalmente, um exemplar isolado do cavalo, este sim "flui", "passa". Ele envelhece e fica manco, depois adoece e morre. Mas a verdadeira FORMA do cavalo é eterna e imutável.


Para Platão tudo o que podemos tocar e sentir na natureza "flui". Não existe, portanto, um elemento básico que não se desintegre. Absolutamente tudo o que pertence ao mundo dos sentidos é feito de um material sujeito à corrosão do tempo. Ao mesmo tempo, tudo é formado a partir de uma forma eterna e imutável (Mundo de Sophia).

Notem que Platão inverte a perspectiva do que costumeiramente entendemos como verdade.

Como poderíamos conhecer se não tivéssemos visto antes? Platão diria, a IDÉIA, A FORMA da coisa existe desde a eternidade, por isso você a vê.

A teoria das idéias de Platão é historicamente o primeiro dos idealismos. Para ele, o ser em sua pureza e perfeição não está no mundo físico, que é o reino das aparências. Os objetos captados pelos sentidos são cópia imperfeita das idéias puras (mundo das idéias). A verdadeira realidade está no mundo das idéias, porque só é Verdade/Realidade para Platão aquilo que é eterno e imutável. Esse mundo só é acessível pela razão.

Platão acreditava numa realidade autônoma por trás do mundo dos sentidos. A esta realidade ele deu o nome de mundo das idéias. Nele estão as "imagens padrão", as imagens primordiais, eternas e imutáveis, que encontramos na natureza. Ou seja, tudo que podemos ver, sentir, tocar, existe, desde a eternidade, nesse mundo das idéias.

5- O CINEMA EXPLICA PLATÃO

No filme Matrix a mente dos seres humanos está aprisionada num programa denominado Matrix, que simula uma realidade humana quase perfeita. Tanto no filme como na alegoria, é apresentado personagens presos num mundo que consideram real e verdadeiro, mas, na verdade, estão vivendo num mundo não condizente com a realidade. São prisioneiros num mundo "material", que é uma simulação de programa de computador, criada num futuro distante por uma Inteligência Artificial (IA), como símbolo da escravidão da humanidade pela perpetuação da ignorância em forma de uma percepção ilusória, chamada MATRIX.

O vídeo abaixo nos ajudará a entender um pouco melhor a alegoria da caverna de Platão, mostrará também trecho do filme Matrix (que é um verdadeiro questionamento do conceito de verdade do senso comum e, conseqüentemente, da ciência, baseado nas idéias de Platão):




Veja também uma paródia do filme Matrix no vídeo abaixo:



Outro filme que também reflete bem as teorias de Platão, especialmente com relação às “Etapas do Conhecimento” (demonstradas no item 6) e às dificuldades e dores para se chegar à “verdade”, à “realidade”, ao “conhecimento”, é o Show de Truman. O protagonista do filme, Truman, vivido pelo conhecido ator Jim Carrey, passa por todas as etapas da teoria do conhecimento de Platão, desde a fase da (agnose) Ignorância (até seus trinta anos), quando vivia num mundo de “sombras” achando que era “real”, que existia de fato. Posteriormente, após muitas lutas internas, começa a desconfiar e a “estranhar” alguns aspectos de sua própria vida, muito embora, ainda, não pudesse discernir exatamente o que estava acontecendo, tinha convicção de que algo, além do que conhecia como “verdade”, estava acontecendo; essa nova fase caracteriza-se pelo início da dúvida, da desconfiança, do questionamento; é a fase do (doxa), opinião. Finalmente após intensa batalha com as grandes dificuldades que envolvem chegar-se ao conhecimento, Truman, tem seus olhos desvendados; descobre por ele mesmo, que passou a vida inteira vendo “sombras”. É a etapa da (Episteme) conhecimento, sendo representada por sua saída da caverna, isto é, do estúdio.

Esses filmes, baseados na Teoria do Conhecimento de Platão, nos levam a uma séria reflexão: até que ponto somos realmente livres? Até que ponto não somos, de alguma forma, manipulados? Até que ponto nossas supostas escolhas não são ditadas por grandes interesses ideológicos ou econômicos? Essas simples perguntas podem nos livrar das cordas dos “manipuladores de marionetes”.

6- DADOS TÉCNICOS SOBRE A ALEGORIA DA CAVERNA DE PLATÃO

Com essa metáfora - o justamente famoso Mito da Caverna - Platão quis mostrar muitas coisas. Uma delas é que é sempre doloroso chegar-se ao conhecimento, tendo-se que percorrer caminhos bem definidos para alcançá-lo, pois romper com a inércia da ignorância (agnosis) requer sacrifícios. Lembremos de frase importante do filme Matrix: “A ignorância é felicidade".

6.1- ETAPAS DO SABER:

6.1.1- NA PRIMEIRA ETAPA, o homem está na ignorância (AGNOSIS);

6.1.2- A SEGUNDA ETAPA a ser atingida é a da opinião (DOXA), quando o indivíduo que ergueu-se das profundezas da caverna tem o seu primeiro contanto com as novas e imprecisas imagens exteriores. Nesse primeiro instante, ele não as consegue captar na totalidade, vendo apenas algo impressionista flutuar a sua frente.

6.1.3- NA TERCEIRA ETAPA, porém, persistindo em seu olhar inquisidor, ele finalmente poderá ver o objeto na sua integralidade, com os seus perfis bem definidos. Ai então ele atingirá o conhecimento (EPSTEME).

7- ALEGORIA DA CAVERNA NA VISÃO DE MAURÍCIO DE SOUZA






8- APLICAÇÕES PRÁTICAS:

O que aprendemos, de prático, e que podemos aplicar em nosso cotidiano com as idéias de Platão?

Apesar dos detalhes técnicos que envolvem a Algoria da Caverna de Platão (detalhes que, muitas vezes, só "nteressam" aos filósofos), as idéias de Platão são, de fato, alertadoras.

Nos ensinam a sempre contestar, duvidar, criticar "as verdades" que se nos apresentam (ou aquilo que querem que entendamos como verdade).

Essas críticas, questionamentos e dúvidas, entretanto, não devem ter fim em si mesmas (criticar por criticar), mas só possuem importância enquanto processo de investigação da verdade.

O filósofo alemão Karl Popper ensinava que "toda teoria (qualquer que seja) deve ser "falseada" (bombardeada com toda espécie de críticas e questionamentos), pois quanto mais se mantiver intacta, mas dígna de ser seguida". Torne-se um crítico, siga os conselhos práticas de Platão, não aceite a "verdade" sem antes enchê-la de crítica.

Questionar, criticar e duvidar sempre! Esse é o antídoto prático trazido por Platão e que poderá evitar muitos processos de manipulação. Evitará que nos tornemos verdadeiras "marionetes" nas mãos dos detentores do poder (de qualquer tipo de poder).

O vídeo a seguir é um bom exemplo (reduzido ao absurdo, claro) do perigo de vivermos totalmente imersos no senso comum; sem nenhum senso crítico e de como isso pode ser devastador e prejudicial à nossa consciência.


quarta-feira, 17 de março de 2010

QUANDO A RELIGIÃO VIRA UMA ARMA: UMA BREVE ANÁLISE DO CASO GLAUCO

Religião é Religião e Filosofia é Filosofia. Não dá para misturar as duas coisas. Essa tentativa fracassou no passado e fracassará sempre. São verdades observadas a partir de pontos de vistas diferentes, com critérios diferentes. Não é possível utilizar a metodologia de enfrentamento (interpretação) da verdade de uma na outra. Elas podem até convergir, isto é, chegar à mesma conclusão, contudo, farão isso por caminhos diferentes.

Até meados dos anos setenta, quando a filosofia lançava seu olhar questionador sobre a religiosidade, não conseguia conter-se em apenas fazer uma análise isenta desse fenômeno, antes, intentava convertê-lo em filosofia, adulterando e arrancando o que lhe era próprio: a fé, a transcendência. Como fruto dessa abordagem, cuja marca é a “intolerância conceitual’, temos a chamada “Religião Positiva” ou “Religião da Humanidade”. Fundada pelo Francês Augusto Comte, em 1854, essa religião procura “estabelecer as bases de uma completa espiritualidade humana, sem elementos extra-humanos ou sobrenaturais”. Para saber mais, sobre a religião de Comt, acesse: http://pt.wikipedia.org/wiki/Religi%C3%A3o_da_Humanidade.


A abordagem filósófica da religião só vai modificar com o aparecimento da disciplina “Filosofia da Religião”, que propõe um derramar do olhar filosófico - sobre a religiosidade - sem, contudo, interferir em seu “DNA espiritual”.

Qual o papel, então, da Filosofia em relação à Religião? Nenhum, como afirma alguns? Deixar claro que o conhecimento religioso é um “sub-conhecimento” ou um “conhecimento inferior”, como afirmam outros? Há, de fato, a possibilidade de um diálogo entre Religião e Filosofia, sem que uma interfira na outra com desejos “prosélitos”?

Não devemos rejeitar nenhuma área de conhecimento, sob pena de estarmos descartando a única possibilidade de resposta. Existe uma tendência bastante considerável, por parte daqueles que nutrem algum tipo de religiosidade, sobretudo no contexto ocidental, de desprezo pela filosofia, reputando-a como algo, necessariamente, ligado ao ateísmo e, portanto, completamente contrário à sua fé. Mas isso está longe de ser verdade, antes, pelo contrário, “uma religiosidade sem a ferramenta da criticidade, emprestada da filosofia, pode virar uma arma”.

Para comprovar o que acabamos de dizer acima, basta tão somente uma retrospectiva dos casos mais famosos em que a religião matou seus próprios adeptos ou pessoas muito próximas. Vejamos a linha do tempo das religiões que se tornaram verdadeiras “armas”:

Em 1978, o líder fanático norte-americano Jim Jones, que se intitulava "pastor" do "Templo do Povo", que se fazia acompanhar de guarda costas chamados de "anjos", levou 900 pessoas ao suicídio coletivo na Guiana, todos envenenados após ter anunciado a eles o fim do mundo.

Em 1993, o líder religioso David Koresh, que se intitulava a reencarnação do Senhor Jesus, promoveu um verdadeiro inferno no rancho de madeira, onde ficava a seita Branch Davidian ("Ramo Daviniano"). Seduzindo os seguidores (dissidentes dos adventistas), com a filosofia de que deveria morrer para depois ressuscitar das cinzas, derramou combustível no rancho e ateou fogo, matando 80 pessoas, incluindo 18 crianças.

Em 1994, 53 membros da seita "Ordem do Templo Solar", cometeram igualmente suicídio coletivo na Europa. A seita parecia praticar um tipo de culto solar. O suicídio coletivo parecia fazer parte de um ritual que os levaria para um outro planeta-estrela chamado "Sirius". Para apressar a viagem, várias das vítimas, incluindo algumas crianças, foram mortas com disparos na cabeça, asfixiadas com bolsas plásticas pretas e/ou envenenadas. Dois membros da seita antes de morrer deixaram escrito que eles estavam "abandonando esta terra para encontrar uma nova dimensão de verdade e absolvição, longe da hipocrisia deste mundo".

Em 1995, a seita japonesa "Ensino da Verdade Suprema" provocou um atentado com gás tóxico no metro de Tóquio, matando dez pessoas e ferindo cerca de cinco mil. Shoko Asahara o líder da seita, justifica os assassinatos baseado numa crença religiosa budista sobre reencarnação. Ele acredita que desta maneira estaria salvando as lamas daquelas pessoas do Juízo final.

Em 1997, outra seita denominada Heaven’s Gate (Portão do Céu), que misturava ocultismo com fanatismo religioso, levou 39 seguidores ao suicídio. Eram todos homens entre 26 a 72 anos, de classe média e alta, vestindo tênis Nike e calças pretas. Eles ingeriram veneno, esperando viajar para uma outra dimensão, de carona na cauda do cometa Halley.

Em 1998, o pastor da seita "Igreja Pentecostal Unida do Brasil", no Acre, foi preso. Ele era acusado de incentivar os pais a matarem seus filhos. As vítimas foram mortas a pauladas e depois tiveram os corpos carbonizados, incluindo 3 crianças, num total de 8 vítimas. A seita tinha cerca de 100 adeptos. O pastor alegava ter recebido mensagem de Jesus para consumar a execução. (O Estado de São Paulo 26/11/1998)

Em 2000, cerca de oitocentas pessoas que estavam envolvidas com a seita "Movimento Pela Restauração dos Dez Mandamentos" morreram carbonizadas na sede da seita em Uganda na África. Antes de cometerem o suicídio o líder da seita os incentivou a abandonar os seus bens, pois iriam se encontrar com a virgem Maria. Pelo jeito o único Mandamento que a seita não quis restaurar foi o "Não Matarás".Disponível em:
http://www.kaipos.com.br/downloads/seteceb/Pr_Agnaldo_Faissal_Reconhecendo_as_Seitas.doc

Em 2010 a situação se repete. Mais uma triste história de assassinato motivada por “práticas religiosas completamente desprovidas de criticidade”, ou seja, uma religião completamente alheia às importantes ferramentas que a filosofia coloca à disposição de todas as áreas de conhecimento.

O famoso cartunista Glauco Vilas Boas (53) e seu filho Raoni (24) não foram assassinados pela arma de “Cadu” e sim pela religião que ele mesmo criou.

O delegado Archimedes Cassão Veras, que investiga o assassinato do cartunista, disse que Cadu, confessou em depoimento que “queria seqüestrar Glauco, porque o considerava representante de São Pedro, para levá-lo até a casa de sua mãe para que ele – Glauco – pudesse convencê-la de que seu filho – Cadu – era o próprio Jesus Cristo".

http://wap.noticias.uol.com.br/cotidiano/2010/03/16/apos-ouvir-cadu-delegado-afirma-que-morte-de-glauco-foi-premeditada.htm

Notem que o elemento “místico irracional ao extremo”, presente no caso de Glauco está presente também em todas as tragédias religiosas indicadas acima.

Observar a formação religiosa de Glauco e as bases de sua religião trará luz aos motivos que levaram “Cadu”, antigo membro da seita de Glauco, a “puxar o gatilho da religião” (arma) que matou o cartunista:

Glauco ganhou o título de padrinho ao fundar a igreja Céu de Maria em meados dos anos 90, mas sua origem religiosa é muito anterior a isso. Ele contava que teve a primeira epifania mística ao ler livros de Carlos Castaneda, escritor e guru de uma geração, e autor entre outras obras do clássico "A Erva do Diabo". Definia Castaneda como o grande marco em sua vida. Antes do Daime, Glauco freqüentou centros de ensino esotéricos como Rosacruz, Eubiose e teosofia. Ele tomou o daime pela primeira vez na igreja fundada pelo escritor Alex Polari, na montanhosa Visconde de Mauá, no interior do Rio de Janeiro. Logo no primeiro trabalho diz ter visto "a luz" que modificaria sua vida para sempre. Começou sua caminhada como mestre reunindo um pequeno grupo de amigos em uma casinha no Butantã (zona oeste de SP). Era lá que todos tomavam a amarga bebida sagrada, enviada pelos pioneiros da Amazônia, bebida feita da folha de planta chacrona e do cipó de mariri (também chamado jagube), e cujo preparo é também um ritual em si, chamado "feitio", e que pode se estender por até um mês. Glauco costumava se referir ao daime como "o vinho da floresta". Para os vizinhos do Butantã, no entanto, não havia nada de sagrado nas celebrações, e era comum os trabalhos terminarem com a presença profana da polícia. Glauco, no entanto, teve sua missão reconhecida pela igreja central do daime no país, o Céu do Mapiá, no Acre, e com a benção de suas lideranças montou a própria igreja num grande terreno adquirido próximo ao pico do Jaraguá. Disponível em:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u706053.shtml

De uma religião que tem em sua principal prática religiosa a utilização de uma substância alucinógena – Santo Daime (para saber mais sobre essa “bebida sagrada” acesse: http://pt.wikipedia.org/wiki/Santo_Daime - não se poderia esperar outra coisa. “A arma” já estava engatilhada, era só uma questão de tempo. Veja no vídeo abaixo maiores detalhes sobre a igreja fundada pelo cartunista Glauco, além de maiores detalhes sobre o assassinato:

Não se trata de querer transmutar o que é religião em filosofia, como já dissemos. Contudo, é essencial, para a produção de uma religiosidade sadia, tomar-se emprestado as “ferramentas depuradoras de véus”, que só a filosofia dispõe, sob pena de morrer com tiros disparados pela “sua própria religião”. (Para saber mais sobre a importância da filosofia na produção de uma religiosidade sadia, recomendamos a leitura de nosso artigo, disponível em):
http://filosofiacalvinista.blogspot.com/2009/05/importancia-da-filosofia-para.html

Os simples questionamentos a seguir, certamente, teriam ajudado a evitar a maioria das tragédias religiosas descritas acima. Provavelmente Glauco e seu filho ainda estariam vivos hoje. Mas ele mesmo preferiu a alienação dos alucinógenos a uma religiosidade sadia e acabou vítima de sua própria “fé líquida”. Assim será com todos aqueles que desprezarem essas importantes ferramentas da filosofia: Onde está escrito o que está sendo ensinado? Sua interpretação dos fatos é coerente? Outras pessoas interpretaram esse mesmo fato? Alguma autoridade eclesiástica já se pronunciou sobre o assunto? Quantas e quais são as interpretações existentes desse mesmo fato? O que as outras religiões entendem sobre o que está sendo ensinado?

Em matéria de religião, o melhor é seguir o conselho do “Apóstolo com status de Filósofo”, conferido pelos principais filósofos do primeiro século, os Epicureus e Estóicos, Paulo de Tarso:

Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso CULTO RACIONAL (Romanos 12:1).

O Apóstolo-Filósofo está ensinando que o culto deve ser Racional, ou seja, deve-se saber exatamente os motivos que levam a cada prática religiosa. Ensina que o verdadeiro culto não pode estar lastreado por uma fé demente e desprovida de criticidade. Ensina que as práticas litúrgicas não podem ser impostas por líderes religiosos sem o necessário abono de fontes escriturísticas Ensina que é condição exigida para um culto aceitável o “estar sóbrio” e não dopado com substâncias alucinadoras. Ensina que a verdadeira religião tem o papel de alertar as pessoas para uma realidade espiritual escondida pelos “tutores da fé” e não deixá-los embrutecidos. Ensina que nossa fé não pode e não deve estar pautada em crendices populares. Ensina que não podemos depositar confiança em supertições do tipo "fitinha", "óleo", "rosa ungida", "mantras" etc. Ensina, finalmente, que uma religiosidade sadia é fruto de uma reflexão racional e que não pode fluir de substâncias ou práticas alienadoras.

segunda-feira, 15 de março de 2010

quarta-feira, 3 de março de 2010

PENA DE MORTE: GENEBRA NEGA A JUSTIÇA, O TEXAS (EUA) A PROMOVE.

De 24 a 26 de fevereiro de 2010 ocorreu em Genebra - cidade de Calvino – o IV Congresso Mundial contra a Pena de Morte. A Suíça, co-patrocinadora do evento, considera a pena de morte “um obstáculo inaceitável para a marca da humanidade”, afirmou o embaixador Thomas Greminger, responsável da divisão política de "Segurança Humana" no Ministério helvético das Relações Exteriores. O Congresso Mundial teve a participação de mais de mil pessoas procedentes de todos os cantos do planeta, num total de 58 países representados. Esse mega envento, “contra a justiça”, teve como prinicpais objetivos e pautas “debater sobre preconceitos relativos ao tema; desenvolver os laços entre os partidários da abolição e sensibilizar a opinião pública em relação a essa forma de punição que, na opinião de muitos, contraria a dignidade humana”.

Durante o encerramento do Congresso, a ministra das Relações Exteriores da Suíça, Micheline Calmy-Rey, se engajou na luta pela abolição universal da pena de morte. Disse ela: "Incontestavelmente, o movimento abolicionista ganha amplitude em todo o mundo [...]. Entramos agora na fase mais delicada do caminho para a abolição mundial".

Apenas três dias depois do IV Congresso Mundial Contra a Pena de Morte, o estado do Texas (EUA), não temendo a opinião pública internacional e não se preocupando em ser “politicamente incorreto”, antes, promovendo a justiça, executou, com injeção letal, nesta terça-feira (02/03/10), Michael Sigala, de 32 anos, condenado à morte pelo assassinato de um casal de brasileiros (Kléber Santos e sua mulher, Lilian), que ocorreu no apartamento dos dois em um subúrbio da cidade de Dallas (Texas), em agosto de 2000.

“Segundo apontou a Promotoria durante o julgamento, o assassino deu um tiro na cabeça de Kléber imediatamente após entrar no apartamento com a intenção de roubar. Depois, torturou e estuprou durante várias horas a mulher, que, antes de também ser baleada na cabeça, foi amarrada”. A execução de Michael Sigala é a terceira deste ano no Texas, Estado onde estão previstas mais três execuções apenas no mês de março.

Veja a reportagem completa no vídeo abaixo:

Os parentes das vítimas vieram à prisão de Huntsville e assistiram à execução. Por telefone, em entrevista ao Jornal da Noite, da Rede Globo (02/03/10), o cunhado de Lillian falou em nome da família. “A família participou do procedimento, da execução do Sr. Michael Sigala. Inclusive presenciando a execução final”. E resumiu o sentimento de todos. “A sensação de que tudo isso acabou e fechou uma cicatriz, fechou uma ferida que estava em aberto”.

Esse sentimento, resumido na frase destacada acima, além de legítimo, deixa claro que a “única” coisa capaz de satisfazer o “princípio de justiça”, em casos de assassinatos, especialmente aqueles com requintes de crueldade, é a Pena de Morte. As outras questões, como a discussão acerca da diminuição ou não da violência, por exemplo, são questões periféricas diante do sentimento de justiça/injustiça. Esse deve ser o principal motivo do estabelecimento da Pena Capital.

Notem: durante dez anos o assassino do casal esteve preso, mas isso não era suficiente para os familiares das vítimas sentirem-se justiçados. Isso ocorre porque a pena de prisão, ainda que perpétua, para esses casos, não é proporcional à falta praticada, gerando um claro e correto sentimento de injustiça.

Precisamos urgentemente retomar a discussão acerca da Pena Capital, da Pena de Morte. Essa opção legítima da sociedade, reconhecida pelo próprio Deus, gerenciada e executada pelo Estado, não deve ser descartada; antes, devemos promover um amplo debate, envolvendo cientistas, filósofos, teólogos e a sociedade em geral.

Para saber mais sobre o assunto, acesse:

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