A antropologia agostiniana em contraponto
com os pelagianos
Agostinho
discordava de Pelágio essencialmente quanto à sua Antropologia, de tal forma
que as outras discórdias advêm dessa. Por causa do estilo dissimulado de
Pelágio, que ora o fazia afirmar e logo depois negar o que afirmou, Agostinho
apressou-se em pedir-lhe clareza em seus argumentos e o intimava a confessar
abertamente que “essa graça tem o sentido bem claro nos oráculos divinos, e não
oculte por timidez descarada, mas descubra com dor salutar que seus sentimentos
têm sido muito tempo contrários a esses ensinamentos”[1].
Diferentemente de
Pelágio, Agostinho entendia que a queda trouxe conseqüências extremante severas
para o primeiro homem; e não somente para ele mas também para toda sua
descendência. Ele não o via como um indivíduo isolado mas, essencialmente, como
o representante legal de toda a raça humana. Para Agostinho com a queda, em
certo sentido, veio também uma privação da liberdade, isto é, o homem que
outrora não tendia nem para o bem nem para o mal, depois da queda, adquiriu certa
tendência para o mal, passando a conviver com uma natureza pecaminosa que passa
a seus herdeiros de forma hereditária, ou seja, essa natureza passa a habitar
no homem, coisa que inicialmente não existia. A morte física vem também ao
homem depois e só depois da queda e como conseqüência dela.
Agostinho
afirma de forma bastante clara que o pecado corrompeu a natureza humana, criada
por Deus, sem vicio nenhum, e não somente seu mérito, como pensava Pelágio.
Este ponto de seu pensamento é essencial para entendermos sua Antropologia.
Devemos ficar atentos para seu pensamento de que o homem foi criado com uma
natureza boa, sem nenhuma propensão ao mal, ao pecado e que esta natureza foi,
de fato, modificada, acrescentada, depois da queda com uma mórbida tendência à
concupiscência, como afirma:
A natureza do homem foi
criada no princípio sem culpa e sem vício. Mas a atual natureza, com a qual
todos vêm ao mundo como descendentes de Adão, tem agora necessidade de médico
devido a não gozar de saúde. O sumo Deus é o criador e autor de todos os bens
que ele possui em sua constituição: vida, sentidos e inteligência. O vício, no
entanto, que cobre de trevas e enfraquece os bens naturais, a ponto de
necessitar de iluminação e de cura, não foi perpetrado pelo seu criador, ao
qual não cabe culpa alguma. Sua fonte é o pecado original que foi cometido por
livre vontade do homem. Por isso, a natureza sujeita ao castigo atrai com
justiça a condenação[2].
Para
Agostinho o homem recebe de Deus a justa punição pelo seu erro, pelo seu
pecado. Isto demonstra seu entendimento da gravidade do problema. Para ele
“toda a raça humana merece castigo. E se todos recebessem a punição, a punição
não seria injusta”[3].
Continua.
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