A segunda controvérsia contra os Maniqueus:
O Problema do Mal .
A primeira controvérsia nos
conduz, necessariamente, a outra controvérsia entre Agostinho e os mesmos maniqueus: a questão da
origem do mal, que abordaremos apenas rapidamente.
Sendo Deus criador de todas as
coisas teria ele também criado o mal? Apesar de ser este um grave problema,
considerado como um dos mais profundos, tanto para a Teologia quanto para a
Filosofia, não nos deteremos demoradamente nele, pois nossa intenção é
demonstrar a eternidade em Agostinho, como já o fizemos na controvérsia sobre a eternidade de Deus, e o faremos ainda quando tratarmos
da controvérsia contra os pelagianos, sempre objetivando a eternidade. Contudo,
vale salientar que:
Este mal era explicado de várias maneiras. Kant o
considerava como uma coisa pertencente à esfera super-racional, que ele
confessa não ter condições de explicar. Para Leibnitz, devia-se às necessárias
limitações do universo. Scheiermacher via sua origem na natureza sentimental do
homem e Ritsche na ignorância do homem, ao passo que os evolucionistas o
atribui à oposição das propensões inferiores à consciência moral em seu
desenvolvimento gradativo [...]. De algum modo, o mal do homem está ligado à
sua condição de criatura[1].
A “confissão de Westminster”, um importante documento Agostiniano, em
certo sentido, via calvinismo, afirma o seguinte sobre a origem de todas as
coisas, em seu capítulo III, que trata sobre os eternos decretos de Deus:
Desde toda eternidade, e pelo sapientíssimo e
santíssimo conselho de sua própria vontade, Deus ordenou livre e imutavelmente
tudo quanto acontece. Embora Deus saiba tudo quanto há de suceder em todas as
circunstâncias imagináveis, contudo não decretou coisa alguma por havê-la
previsto como futuras, nem como algo que haveria de acontecer em tais
circunstâncias[2].
Assim como Agostinho, e não
poderia deixar de ser, devido sua clara influência nas mentes de calvinistas e
luteranos, os formuladores dessa Confissão,
de fato, criam que as coisas existentes, não eternas, todas elas, sem exceção,
foram criadas por Deus; não simplesmente porque previu seu surgimento, antes,
por decreto as criou, independentemente, repetimos, de juízos de valores, é criatura? Conseqüentemente e necessariamente, foi Deus quem criou.
No capítulo VI deste mesmo documento
agostiniano/calvinista, vemos uma afirmação ainda mais contundente e
surpreendente sobre a criação de Deus, e, desta feita, não de uma criação
geral, mas da criação do próprio mal ou antes, na ordenação de sua disposição:
“Nossos primeiros pais [...] pecaram [...]. Segundo seu sábio e santo conselho,
aprouve a Deus permitir o pecado deles, havendo proposto ordená-lo para sua
própria glória”[3].
Berkhof, interpretando os eternos decretos de Deus,
apontados acima, sendo também um pensador de linha calvinista, e,
conseqüentemente, muito próximo do pensamento agostiniano, faz a seguinte
afirmação: “O decreto eterno de Deus evidentemente deu a certeza da entrada do
mal no mundo, mas não se pode interpretar isso de modo que faça Deus a causa do
mal no sentido de ser ele o seu autor responsável”[4]. Continua...
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