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terça-feira, 22 de novembro de 2022

DEFENDENDO A COSMOVISÃO CRISTÃ A PARTIR DAS DOUTRINAS DA CRIAÇÃO, QUEDA E REDENÇÃO - 3/3

 

A DEFESA PRÁTICA DA COSMOVISÃO JUDAICO/CRISTÃ.

 CRIAÇÃO X EVOLUCIONISMO

O primeiro tema que nos foi proposto, dentro desse ambiente de cosmovisão foi Criação. Todo servo de Deus precisa saber defender bem esse tema, pelo menos de forma geral.

A doutrina da criação não é uma cosmovisão, mas defendê-la implica na defesa da cosmovisão judaico/cristã, porque a cosmovisão modernista tem seu contraponto da criação, que é a teoria da evolução e do big bang.

Eles afirmam que tudo veio a existir a partir de uma grande explosão, e que o homem é fruto de um processo evolutivo de uma espécie inferior.

E nós? O que afirmamos? A Confissão de Fé de Westminster afirma, no CAPÍTULO IV DA CRIAÇÃO:

I. Ao princípio aprouve a Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo, para a manifestação da glória do seu eterno poder, sabedoria e bondade, criar ou fazer do nada, no espaço de seis dias, e tudo muito bom, o mundo e tudo o que nele há, visíveis ou invisíveis. Rom. 9:36; Heb. 1:2; João 1:2-3, Rom. 1:20; Sal. 104:24; Jer. 10: 12; Gen. 1; At. 17:24; Col. 1: 16; Exo. 20: 11.  II. Depois de haver feito as outras criaturas, Deus criou o homem, macho e fêmea, com almas racionais e imortais, e dotou-as de inteligência, retidão e perfeita santidade, segundo a sua própria imagem, tendo a lei de Deus escrita em seus corações, e o poder de cumpri-la, mas com a possibilidade de transgredi-la, sendo deixados à liberdade da sua própria vontade, que era mutável. Além dessa escrita em seus corações, receberam o preceito de não comerem da árvore da ciência do bem e do mal; enquanto obedeceram a este preceito, foram felizes em sua comunhão com Deus e tiveram domínio sobre as criaturas. Gen. 1:27 e 2:7; Sal. 8:5; Ecl. 12:7; Mat. 10:28; Rom. 2:14, 15; Col. 3:10; Gen. 3:6.

Apenas como ilustração de como pode ser feita a defesa desse princípio da criação e, por consequência, da cosmovisão judaico/cristã: lembro que uma aluna do 5º período de administração fez a seguinte pergunta: “mas o senhor não acredita nessa besteira de criacionismo não, não é? Devolvi a pergunta: você “acredita” em quê? (Nesse momento escrevi a palavra “acredita” no quadro). Na evolução, respondeu. Perguntei novamente: você acredita na tese ou na teoria da evolução? Ela ficou confusa e não soube responder. Ponto para o professor. Expliquei que a diferença e disse que uma teoria precisa ser testada, comprovada. E arrematei: “a teoria da evolução ainda não foi provada empiricamente”. E concluí: “você acerta quando diz que “acredita” no evolucionismo, porque é a única base que tem para defendê-lo. Então, quem defende o criacionismo é pela fé, quem defende o evolucionismo é também pela fé. Portando, não cabe nenhum sentimento de superioridade ou arrogância. Estão todos no mesmo barco da fé”.

Percebe? Defender a cosmovisão cristã não se trata de pregar ou evangelizar. Porém, quando você defende essa cosmovisão, você contribui para deixar o ambiente favorável e receptivo para o evangelismo, se for o caso.

Alguns podem argumentar que não saberiam defender a cosmovisão judaico/cristã nessa questão da criação. Há algo que você pode fazer:

Deus estabeleceu UM DIA DE DESCANSO, por força de Sua Lei Moral, basicamente para lembrar DOIS dos Seus GRANDES FEITOS, em favor da humanidade e do seu povo, especificamente. Um foi a libertação do Egito. E o outro foi, exatamente a criação. Ler Êxodo 20:8-11. Portanto, guardar o dia do Senhor é defender esse princípio da criação e a cosmovisão judaico/cristã.

 QUEDA X ANTROPOLOGIA DE HOUSSEAU

O segundo tema que foi proposto dentro do cenário de cosmovisão foi a queda. É muito importante defender que o homem caiu do seu estado de inocência e tornou-se totalmente depravado, como dia a Confissão de Fé de Westminster, no CAPÍTULO VIDA QUEDA DO HOMEM, DO PECADO E DO SEU CASTIGO:

I. Nossos primeiros pais, seduzidos pela astúcia e tentação de Satanás, pecaram, comendo do fruto proibido. Segundo o seu sábio e santo conselho, foi Deus servido permitir este pecado deles, havendo determinado ordená-lo para a sua própria glória. Gen. 3:13; II Cor. 11:3; Rom. 11:32 e 5:20-21. II. Por este pecado eles decaíram da sua retidão original e da comunhão com Deus, e assim se tornaram mortos em pecado e inteiramente corrompidos em todas as suas faculdades e partes do corpo e da alma. Gen. 3:6-8; Rom. 3:23; Gen. 2:17; Ef. 2:1-3; Rom. 5:12; Gen. 6:5; Jer. 17:9; Tito 1:15; Rom.3:10-18. III. Sendo eles o tronco de toda a humanidade, o delito dos seus pecados foi imputado a seus filhos; e a mesma morte em pecado, bem como a sua natureza corrompida, foram transmitidas a toda a sua posteridade, que deles procede por geração ordinária. At. 17:26; Gen. 2:17; Rom. 5:17, 15-19; I Cor. 15:21-22,45, 49; Sal.51:5; Gen.5:3; João3:6. IV. Desta corrupção original pela qual ficamos totalmente indispostos, adversos a todo o bem e inteiramente inclinados a todo o mal, é que procedem todas as transgressões atuais. Rom. 5:6, 7:18 e 5:7; Col. 1:21; Gen. 6:5 e 8:21; Rom. 3:10-12; Tiago 1:14-15; Ef. 2:2-3; Mat. 15-19.

O contraponto da cosmovisão modernista, que visa destruir a cosmovisão cristã para se estabelecer no lugar dela, em torno da antropologia bíblica, é trazido pelo filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que considerava o homem “bom” por natureza, portanto, uma negação da doutrina da queda: “o ser humano nasce bom, a sociedade o corrompe”.

Essas duas visões acerca do homem interferem até no modelo de educação a ser adotado. Se você defende que o homem é mal, como afirma a antropologia bíblica, isso produzirá uma educação mais rígida, disciplinar, ao estilo da educação clássica, jesuítica. Se acredita que o homem é bom, vai ser privilegiado uma educação centrada no aluno, sem nenhum tipo de freio ético ou moral, que propicia, inclusive um ambiente favorável à violência contra o professor.

REDENÇÃO DE CRISTO X REDENÇÃO DO ESTADO

O terceiro e último ponto que foi proposto dentro do cenário de cosmovisão foi redenção.

A cosmovisão modernista prega uma redenção por meio do Estado, que atua como um pai provedor. Na perspectiva da cosmovisão modernista que é, necessariamente anticristã, o Estado assume o lugar de Deus.

Franklin Ferreira, em seu excelente livro “Contra a idolatrai do Estado”, afirma:

A esquerda pode ser definida como aquele modelo do espectro político em que há pouca ou nenhuma liberdade pessoal e econômica, em que o Estado ou partido ganha uma dimensão transcendente, agindo para estender seu domínio sobre todas as esferas da sociedade (2016, p.125-126).

A expressão “dimensão transcendente” aponta para um Estado que ocupa o lugar de Deus, sendo o único provedor do homem. É exatamente por isso que os países governados por partidos de esquerda tendem a ser empobrecidos, porque o Estado vai destruindo todos os “possíveis provedores”, principalmente a própria liberdade do homem até assumir, sozinho, esse posto. A população, então, empobrecida passa a ser sustentada pelas migalhas do Estado, gerando uma situação de dependência e até adoração por parte do homem que ganha o prato de comida.

Apresentar que apenas Cristo é o redentor do homem é muito importante para que a cosmovisão cristã prevaleça. O cristianismo é a última barreira para a implantação de estados socialistas, comunistas, que promovem o endeusamento do Estado, o que se constitui em idolatria e quebra flagrante do primeiro e segundo mandamentos.

Concluiremos citando a pergunta 90 do Catecismo Maior de Westminster, que apresenta a redenção celestial e não numa suposta terra restaurada, vindo da parte de Deus:

90. Que sucederá aos justos no dia do juízo? No dia do juízo os justos, sendo arrebatados para encontrar a Cristo nas nuvens, serão postas à sua destra e ali, abertamente, reconhecidos e justificados, se unirão com Ele para julgar os réprobos, anjos e homens; e serão recebidos no céu, onde serão plenamente e para sempre libertados de todo o pecado e miséria, cheios de gozos inefáveis, feitos perfeitamente santos e felizes, no corpo e na alma, na companhia de inumeráveis santos e anjos, mas especialmente na imediata visão e fruição de Deus o Pai, de nosso Senhor Jesus Cristo e do Espírito Santo, por toda a eternidade. É esta a perfeita e plena comunhão de que os membros da Igreja invisível gozarão com Cristo em glória, na ressurreição e no dia do juízo. I Tess, 4:17; Mat. 25:33, e 10:32; I Cor. 6:2-3; Mat. 25:34, 46; Ef. 5:27; Sal 16:11; Heb. 12:22-23; I João 3:2; I Cor, 13:12; I Tess. 4:17-18.

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

DEFENDENDO A COSMOVISÃO CRISTÃ A PARTIR DAS DOUTRINAS DA CRIAÇÃO, QUEDA E REDENÇÃO - 2/3


  COSMOVISÕES EM CONFLITO:

Kuyper afirma que não há uma convivência pacífica entre cosmovisões diferentes. Uma quer destruir a outra para se estabelecer no lugar dela. Essa ideia de guerra, combate entre sistemas é bem comum nas Escrituras. Por exemplo: Gálatas 5:17, Efésios 6:11-13.

Muitos cristãos ainda não se deram conta que estamos em meio a uma guerra entre cosmovisões. Só há espaço para uma cosmovisão. Uma vai prevalecer e outra vai ser destruída. É, de fato, um combate mortal e muitos cristãos estão lutando exatamente na trincheira que quer destruir o cristianismo. Isso ficou bem claro na eleição de 2022. 

Diferentemente dos cristãos desavisados, sabe quem lutava abertamente para destruir a cosmovisão cristã, que está estabelecida, e colocar no lugar a cosmovisão modernista, anticristã, necessariamente?

KARL MARX (1818–1883) – Materialismo histórico/dialético. Veja o que ele diz: 

Suspiro da criatura oprimida, coração de um mundo sem coração, espírito de uma situação sem espírito: a religião é o ópio do mundo (K. Marx apud ALVES 1999. P. 68). 

ANTONIO GRAMSCI (1891-1937) – Marxismo Cultural, que afirmou:

Uma concepção do mundo não pode revelar-se como válida e impregnar toda uma sociedade até converter-se em uma fé (mudar a mente das pessoas), se não demonstrar que é capaz de substituir as concepções e crenças anteriores (cristianismo) em todos os graus da vida estatal (GRAMSCI, Antonio. Concepção Dialética da História. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1966, p. 20).

domingo, 20 de novembro de 2022

DEFENDENDO A COSMOVISÃO CRISTÃ A PARTIR DAS DOUTRINAS DA CRIAÇÃO, QUEDA E REDENÇÃO - 1/3


DEFININDO COSMOVISÃO:

Cosmovisão não é uma ideia, não é uma teoria, não é uma crença em que se possa crer. É algo anterior a tudo isso. É uma construção coletiva, não intencional, sintética, ampla, abrangente e já estão dadas. Alguém já definiu cosmovisão como “lentes para enxergar o mundo”. Note: é algo que vem antes da ideia de mundo que você terá e que afetará, necessariamente, a visão de mundo que você terá. É uma boa definição. Gosto de pensar na cosmovisão, também, como uma estrada, que apontará o destino que você vai seguir. Note, novamente: é algo anterior à sua viagem. Dependendo da estrada que você pegue ela te levará a lugares diferentes. A cosmovisão afeta, naturalmente, necessariamente, suas percepções, suas escolhas.

TIPOS DE COSMOVISÕES:

Abraan Kuypper (1837-1920), costumava apontar a existência do que ele chamava de “sistemas de vida”. Um sistema é uma cosmovisão ampla que engloba o que você pensa acerca do homem, de Deus e do mundo. Diz ele:

 

Dois sistemas de vida estão em combate mortal.  De um lado o Modernismo (que envolve ateísmo, secularismo, feminismo) comprometido em construir um mundo próprio a partir de elementos do homem natural, e a construir o próprio homem a partir de elementos da natureza”, do outro, o cristianismo (KUYPER, 2002, p.19). 

 

quinta-feira, 23 de junho de 2022

BREVES RELEXÕES SOBRE A POSSIBILIDADE DE INTERVENÇÃO ESPETACULAR DE DEUS NAS HISTÓRIAS PARTICULARES


Quando o ser humano que nutre algum tipo de religiosidade é afetado por calamidades, ele tende a clamar por Deus para que Ele intervenha de "forma sobrenatural" (toda intervenção direta de Deus é, necessariamente, uma intervenção sobrenatural) a fim de livrá-lo daquele mal. 

A bíblia está repleta de exemplos da "ação direta, sobrenatural de Deus" livrando seu povo ou indivíduos, sejam servos ou não, de alguma situação calamitosa. Por exemplo: livrou os Israelitas da escravidão do Egito com demonstrações extraordinárias de poder, livrou o cego de sua cegueira de nascença e muitos outros cegos, livrou surdos, livrou o homem da mão ressequida, livrou coxos,  leprosos, paralíticos, a mulher do fluxo de sangue, livrou da fome,  livrou da seca, livrou da morte e até ressuscitou. 

Milagres (intervenção sobrenatural de Deus) como esses registrados na bíblia acabam por nutrir esperança de que algo semelhante também possa acontecer com o que é afetado por doenças e outras calamidades, em nossos dias. Afinal "para Deus não existe impossível", citam. 

Tem alguém doente com certa gravidade? Socorrem ao hospital e oram. Quando a pessoa escapa daquele mal, o que se diz? "Foi um milagre mesmo!", "resposta de oração", "Deus atendeu a oração", etc. 

Não é interessante que a "cura" quase nunca é atribuída aos cuidados médicos, aos medicamentos, ao hospital? 

Geralmente não se entende que Deus age por "meios naturais", como a medicina, por exemplo. 

Afinal, quem capacitou os médicos, que são uma espécie de ministros de Deus que atuam para minimizar os efeitos degeneradores do pecado original? Quem capacitou os cientistas para desenvolverem as drogas diminuidoras da dor e do "merecido" sofrimento humano?

Preferem milagres! Preferem "intervenções espetaculares" de Deus. 

Por que, então, não ficar somente na oração, enquanto se aguarda o milagre diante dos olhos? 

Se há um entendimento que Deus age de forma sobrenatural, extraordinária, curando, então, recorrer a um pronto socorro é sinal de falta de fé, necessariamente. Por que encaminhar ao hospital? 

As pessoas querem ser objeto da ação miraculosa de Deus - de forma direta, quando Ele socorre uma necessidade individual ou indireta, quando a ação é direcionada a indivíduos do seu círculo de relacionamento, para terem o que contar. Vejam como Deus é maravilhoso! Ele operou milagre em mim ou na minha mãe,  ou no meu parente ou no meu amigo. A intenção nem sempre é elevar glórias à Deus e, sim, mostrar o poder que sua oração tem. Mas, ainda que a intenção seja boa, estaria correta? Esse é um direcionamento sadio e embasado nas escrituras, da fé?

O Evangelho de João nos diz exatamente os motivos pelos quais tantos milagres estão registrados na bíblia. Vejamos o texto:
Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome (João: 20:30-31).
Os milagres, todos eles, desde o VT, foram registrados, diz o texto, "para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome". Ou seja, é para crer nos milagres que já foram registrados na bíblia e não para esperar que "novos milagres" (intervenção sobrenatural de Deus) aconteçam ainda hoje.

Portanto, não esperem uma ação extraordinária de Deus. Não esperem "novos milagres", novas "intervenções sobrenaturais" de Deus. Isso não ocorrerá! 

E o que dizer de textos como "Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra" (Salmos 121:1-2)? Primeiro, interprete-o corretamente. Ele não foi escrito pra você. O socorro físico prestado aos andarilhos a caminho de Jerusalém, assim como ocorreu no episódio da coluna de fogo e da nuvem, devem ser entendidos da mesma forma que os milagres tanto do VT quanto do NT, à luz da explicação de João 20, conforme já mencionamos acima: eles foram registrados "para que vocês creiam em Deus", não para que esperem que o mesmo acontecerá com vocês, repetimos.  

Tá doente? Hospital, médicos, medicamentos. Tá passando por alguma tragédia ou calamidade? Acione bombeiros, polícia e demais forças de socorro. Além disso, se for possível, atue, seja agente de sua própria segurança, tome remédios, socorra, seja solidário. Afinal, estamos todos no mesmo "barco".  

O único milagre que Deus ainda opera é espiritual, na alma humana, quando da conversão. Querem mais?

Apenas creiam nos milagres que estão registrados nas escrituras. Não direcione sua fé para a possibilidade de "cura extraordinária", ou de "socorro extraordinário" em qualquer área da vida. 

Apenas agradeça a Deus por sua "graça comum", que possibilita os antibióticos e demais medicamentos e pela atuação ministerial dos médicos e outros profissionais de saúde e de socorro, como os bombeiros, policiais e demais agentes que trabalham para diminuir os efeitos destruidores da escolha livre de Adão, nos momentos de calamidades.

Deus não mais intervém fisicamente de maneira "extraordinária". Sua atuação física é através dos meios ordinários, de forma indireta e natural.

sábado, 25 de setembro de 2021

100 ANOS DE PAULO FREIRE. AVANÇO OU RETROCESSO?


Em 19 de setembro de 1921 nascia Paulo Reglus Neves Freire. Formado em direito e sem nenhuma formação em Pedagogia nosso personagem centenário é personagem central de debates intermináveis sobre sua contribuição à educação. Isso faz dele, inegavelmente, uma figura especial. Nenhum “comum” teria sua "obra" discutida tão fervorosamente. 

Em síntese, é dito que ele visava:

Ensinar o aluno a ler o mundo para poder transformá-lo [...]. Educadores e educandos aprendendo mutuamente em um processo com diálogo e trocas. O objetivo? O desenvolvimento da consciência crítica (Conforme: Paulo Freire 100 anos - Portal de Educação do Instituto Claro, acessado em 25.09/2021).

Motivador da criação da “tendência pedagógica crítica ou transformadora” ele, de fato, queria transformar a sociedade. A pergunta que se deve fazer é: transformar em quê? Sem meias palavras, ele queria transformar o Brasil num país socialista/comunista. Como a educação está sempre a “serviço de”, foi o instrumento que ele utilizou para tentar promover essa transformação. Aqui já fica claro o engodo da proposta de "sua" tendência pedagógica. Seria “crítica” ou “transformadora” somente enquanto a sociedade não fosse convertida ao socialismo/comunismo. Depois, obviamente, não haveria mais nada a ser "criticado" ou "transformado".

Apoiado, por motivos óbvios, pelo então presidente, João Goulart, que flertava perigosamente com o comunismo soviético, Freire implementou institucionalmente pela primeira e única vez “seu” famoso método, que posteriormente viria a ser batizado com seu nome, em 1963, na cidade de Angicos-RN, onde 300 adultos foram “alfabetizados” em apenas 40 horas. Acredita?

O método consistia, basicamente, em utilizar conceitos, imagens, palavras e a própria realidade dos educandos, que depois de uma longa conversa sobre sua condição social seriam impactados com a projeção estratégica de algumas palavras do seu vocabulário comum, na parede, com projetores de querosene, vindos da então comunista Polônia, bancados pelo governo federal. Por exemplo, a palavra “tijolo” era projetada ao lado de sua figura e perguntas como as que veremos a seguir eram feitas com o objetivo subliminar de criar uma mente revolucionária: O que é essa figura? Quem faz o tijolo? Quem faz o tijolo tem casas feitas de tijolos? Por que não? Associando-se imagem, palavras e confronto social o educando, paulatinamente, passava a identificá-las e, ao mesmo tempo, a criar certa revolta por sua própria condição social e era estimulado a “transformar” sua realidade por meio da "revolução", que consistia na rebelião contra o que Freire e os demais comunistas chamavam de “sistema capitalista opressor”.

Percebem como tudo girava em torno do comunismo/socialismo? Do início ao fim toda a obra de Freire está recheada de conceitos como "oprimido", "opressor", "revolução", "proletariado", etc. Impossível não ver Marx em Freire. Ele mesmo assume essa aproximação inevitável. Para piorar sua situação, filiou-se ao PT e de 1989 a 1992 foi secretario de educação da cidade de São Paulo, da então prefeita Ptista Luíza Erundina. Foi também presidente da 1ª diretoria executiva da Fundação Wilson Pinheiro, fundação de apoio partidário, instituída pelo PT, em 1981.

Capitalismo! Esse era o verdadeiro inimigo a ser combatido. Considerando que sociedades democráticas se alinham, via de regra, ao capitalismo, não é exagerado afirmar que outro inimigo importante a ser abatido era a própria  democracia. Afinal, Freire era um admirador de ditaduras, como a cubana, por exemplo. Portanto, acabar com o analfabetismo era só o pretexto. Ou algum ingênuo acha que em apenas 40 horas, sem cartilha e com boa parte desse tempo sendo utilizado para a formação da consciência política de viés esquerdista dá para alfabetizar alguém? 

Vários documentários da época da famosa experiência de Angicos-RN, ao enaltecer o “método Paulo Freire”, acabavam por revelar a real intenção: o acréscimo de 300 eleitores na cidade. Na ocasião, pela legislação eleitoral vigente, analfabetos não poderiam votar. Percebem o real motivo? 

O termo analfabetismo funcional é recente e se refere à pessoa que aprendeu a ler, mas que não consegue entender ou interpretar o que leu. Os 300 de Angicos, certamente, precisariam melhorar muito para receber tal designação. Eles precisariam saber apenas o básico para receberem o título de eleitor e o “direito” de votar; na esquerda, obviamente, que era o viés político do então presidente e do prefeito de Angicos-RN, que era um aliado esquerdista. Por isso aquela pequena cidade foi escolhida para o "experimento social", com cara de "educacional". 

Ao método chamado Paulo Freire, em si, desconsiderando-se a parte ideológica, não cabe quase crítica alguma. Pelo contrário, é mais um entre outros a ajudar na difícil tarefa de alfabetizar. Se é funcional, melhor ou pior que outros métodos não é objeto de nossa análise, no momento.

Contudo, há um grande perigo na filosofia que lastreia o método Paulo Freire. Ele é concebido sob a influência da nefasta ontologia Rousseauniana, que considera o homem bom por natureza. Rousseau (1712-1778), em seu tratado  "Da educação" ou "O Emílio", parte do pressuposto que a criança precisa ser deixada livre para seguir seus próprios instintos naturais para poder aprender e construir seu próprio conhecimento, numa espécie de “educação negativa”. Isto é, o aluno não deve receber positivamente nenhum conteúdo (decorre daí a crítica de Freire ao que chamou de “educação bancária”) que ele mesmo não possa ter produzido. Nesse sentido, o papel do preceptor (professor) é o de tão somente preservar essa condição natural da criança e nunca de ensinar-lhe. Rousseau deu luz à sua ontologia aplicada à educação em contraposição à ontologia de sua época e que era também vigente no Brasil à época da atuação de Freire, que considerava o homem mau por natureza, por conta da influência de Agostinho via Jesuítas e Reformados.

A ontologia (conceito de ser, de homem) na educação é muito importante e promove, necessariamente, desdobramentos práticos na sala de aula e na relação professor/aluno e no próprio processo de ensino/aprendizagem. Aliás, Freire costumava falar em "Sendo" e não em "Ser", porque acreditava que o homem estava em construção. Mas, isso também ele copiou de Rousseau.

A ontologia Rousseauniana, assumida e divulgada integralmente por Freire, que foi, talvez, no mundo, seu maior entusiasta e quem mais contribuiu para que prevalecesse na educação, depois do próprio Rousseau,  muda o foco da educação para o aluno, diminuindo e reduzindo a quase zero a figura do professor. Como consequência prática de inserir essa ontologia na educação brasileira, listamos dois grandes danos causados e que atraem para Freire as justíssimas críticas que recebe:

1º) Focar a educação apenas na realidade imediata do aluno limita e diminui seu horizonte de conhecimento. Na perspectiva de Feire, não havia necessidade do aluno de Angicos-RN conhecer sobre o relevo do Canadá, por exemplo (ao contrário da educação clássica, que visa uma formação mais geral, abrangente e intelectual do educando), uma vez que seu objetivo era tão somente utilizar-se deles para promover a transformação social local (de capitalismo para socialismo/comunismo), e só. Esse dano foi remediado a tempo, já em 1964. Porém, ainda conseguiu dar o start para que as próximas gerações de educadores, formadas sob a utopia freireana, utilizassem as salas de aula como canal de transmissão ideológica.

2º) Sendo o homem mau, como defendia Agostinho e outros pensadores, com forte influência sobre os Jesuítas, pioneiros na educação brasileira, e, sendo o aluno, agora, pela atuação de Freire, “protegido de coação”, “deixado à própria sorte”, como preconizou Rousseau, e, agora, considerado a parte mais importante do processo educacional, acabou por fomentar um ambiente favorável à violência contra o professor, classificado por Freire como “opressor”; portanto, um inimigo a ser abatido. De forma que, quanto mais o chamado Freireanismo avança mais aumentam as condições favoráveis à violência contra o professor; outrora inimaginável. Diga-se de passagem, Freire também classificava a família como "opressora". O educando, então, passava intuitiva e inconscientemente a ser inimigo tanto da família quanto dos professores. 

Uma ontologia que considera o homem bom por natureza, como a assumida por Freire, promove uma educação sem disciplina, sem cobranças, sem limites impostos ao aluno. Uma ontologia que considera o homem mau por natureza promove uma educação com disciplina, limites e cobranças ao aluno, para seu próprio bem. Temos aqui, então, a figura da Educação Transformadora e da Educação Tradicional. 

Por fim, qual a avaliação que podemos fazer dos 100 anos de Paulo Freire? Avanço ou retrocesso?

Quanto ao chamado método Paulo Freire, pouquíssimo utilizado, porque em 1964, finalmente, houve o contragolpe das forças armadas, com o apoio popular, frustrando as pretensões comunistas de transformar a sociedade brasileira, pondo fim ao trabalho de Freire, que era um agente dessa transformação. Ele acabou se exilando na embaixada da Bolívia, saindo em seguida do Brasil. Nesse sentido, consideramos que houve certo avanço. Pelo menos para o único lugar em que foi institucionalmente implantado no Brasil: Angicos-RN, onde 300 adultos foram alçados à condição de “alfabetizados”, ainda que a lógica deponha contra isso, sendo melhor considerá-los “semi-alfabetizados”. Ou seja, passar de uma condição de analfabetos para a de semi-alfabetizados não deixa de ser um avanço.

Portanto, a contribuição do chamado método Paulo Freire à educação brasileira é quase inexistente, muito próximo de zero. Há, de fato, um absurdo superdimensionamento da importância de Freire à educação. Alguém teve notícia de algum brasileiro, fora os 300 de Angicos-RN, alfabetizado por esse método? 

Isso significa que se o analfabetismo no Brasil diminuiu ou mesmo se aumentou, no que diz respeito à estrita "pedagogia" de Paulo Freire, que nunca foi pedagogo, em absolutamente nada ele terá culpa ou mérito. Nesse sentido, Freire e sua pedagogia, são absolutamente nulos e inexpressíveis, como se nunca tivessem existido.  

Decorre daí que Freire não tenha tido responsabilidade alguma pelo atual fracasso da educação no Brasil, como fica claro no Pisa divulgado em 2018? Não e Sim.

Não pelo seu método que, como já dissemos, tem influência quase nula nesse resultado, para o bem ou para o mal.

Sim, por conta de ter sido "o" grande divulgador da nefasta ontologia Rousseauniana; essa, sim, responsável por transformar negativamente, em grande medida, a relação professor/aluno e o próprio processo de ensino/aprendizagem no Brasil, com impactos gravíssimos na educação, como já demonstramos acima.

Paulo Freire, então, nada construiu de si mesmo. Até o famoso método, que poderia ter sido criação sua, recebe intensa acusação de plágio. Já a tão poderosa,  influente e nefasta ontologia Rousseauniana, da qual teve o único mérito negativo de ser seu "maior divulgador prático", causando grande dano à educação brasileira e por onde passou, jamais poderia ter sido forjada em sua mente limitada, capaz de produzir apenas um amontoado de ideias, frases desconexas e, principalmente, um manual de culto ao socialismo/comunismo e a figuras como Che Guevara, assassino contumaz, a quem ele atribuía ser a “personificação do amor”, como sua principal obra “Pedagogia do oprimido”. E os 35 títulos de doutor honoris causa que ele recebeu? Alguém pode argumentar para provar sua importância. A esse argumento, basta dizer que Lula tem 36 desses títulos. Só isso. 

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