Diferentemente do comum dulçor encontrado nesse período, a Páscoa real, sacramento judaico, não cristão, apontava para o amargor das ervas, que representava os tempos difíceis da escravidão; apontava para a necessidade de deixar tudo para trás e fugir; simplesmente fugir, representada pelo pão sem fermento, e, por fim, apontava para a dor e sofrimento do cordeiro pascal, tipo do sofrimento futuro de Cristo, substituto forense do culpado.
A páscoa, portanto, nada tinha de doce. Ela era visceralmente amarga
Foi instituída para lembrar tempos de dor e de sofrimento. A instituição da "lembrança da dor", porém, trás em si a ideia de "ausência dessa própria dor", apontando, também, para uma situação de superação, de libertação e vitória sobre o mal, promovida pela mão Soberana de um Deus que intervém na história para trazer salvação.
Por que, então, como sugere a páscoa, os judeus deveriam lembrar, ano após ano, dos tempos maus, passados, impostos pela escravidão e por todos os males dela decorrentes?
Primeiro para certificar acerca de sua fragilidade e finitude. Depois, para lembrá-los de sua dependência essencial de um salvador que os salve, sem o qual, certamente, continuariam perecendo a merecida dor.
Esta semana, chamada santa, de 2020, que culmina com o advento da Páscoa, está sendo diferente: o mundo vive sob os efeitos de uma pandemia. O momento é de amargor, não de doces.
Talvez isso nos aproxime mais da dura realidade apresentada pela verdadeira páscoa; sem floreio ou maquiagem do real. Que o Salvador, também, movido pela sua mesma misericórdia e compaixão, liberte o mundo das cadeias do covid-19.
E, quando tudo passar; que passará, nos lembremos, também, que somos só fragilidade e finitude; nos lembremos, também, de oferecer ações de graças pelo socorro que será promovido, de forma natural ou sobrenatural, pelo nosso salvador.
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