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domingo, 21 de agosto de 2016

QUEM SOU EU? QUEM É DEUS?


Certo homem de posição perguntou-lhe: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Respondeu-lhe Jesus: Por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão um, que é Deus. Sabes os mandamentos: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra a teu pai e a tua mãe. Replicou ele: Tudo isso tenho observado desde a minha juventude.  Ouvindo-o Jesus, disse-lhe: Uma coisa ainda te falta: vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro nos céus; depois, vem e segue-me. Mas, ouvindo ele estas palavras, ficou muito triste, porque era riquíssimo (Lucas 18:18-23).


INTRODUÇÃO:

Em conversa com uma ex-aluna, que se diz ateia, fiquei surpreso com sua afirmação ao se referir a Deus: “Se ele existisse, claro que me abençoaria. Afinal, eu sou uma ótima pessoa”. 

Interessante como as pessoas que não conhecem a Deus se acham boas, em suas naturezas. Mas não só elas: muitas pessoas que estão na igreja acabam tendo essa visão acerca de si. Mais ainda: é bem comum nos encontrarmos enredados por essa armadilha.

ELUCIDAÇÃO:

O texto acima fala de um jovem; mas não qualquer jovem. Ele era  rico; muito rico. A história é muito conhecida. Lucas e Marcos não nos dizem que se tratava de um “jovem rico”. Lucas apenas menciona que ele era “um homem de posição” e Marcos, mais sintético, apenas diz que era “um homem”. Já Mateus nos dá essa informação: “Tendo, porém, o jovem ouvido esta palavra, retirou-se triste, por ser dono de muitas propriedades” (Mateus 19:22). Portanto, nosso personagem era um jovem e era muito rico.

Provavelmente esse jovem também não era judeu, pois a saudação que utiliza não é uma saudação habitual aos Judeus: “Bom Mestre” (v.1). Essa expressão parece se tratar de um tipo de bajulação,  mas não qualquer bajulação e, sim, uma bajulação de quem quer se aproximar, entrar em um grupo ou ainda inserir alguém num grupo seleto. Quem Sabe no “grupo dos bons”. A saudação denota algo do tipo “mestre, somos do mesmo time. Somos bons. Você é um dos nossos; você é do meu time dos bons”.

O fato é que ele não reconhecia em Cristo, sua divindade. E claro que Cristo aproveita a ocasião para ensinar-lhe acerca de quem é Deus (no caso, Ele mesmo) e quem é o homem.

Esse é um dos maiores problemas da humanidade: uma visão distorcida acerca de quem é Deus e de quem e o homem. Curiosamente, a despeito das atrocidades que o ser humano pode cometer, e que tem cometido, há um entendimento que ele é bom por natureza. Essa é, geralmente, a visão do senso comum, mas não só: o filósofo Jean-Jaques Rousseau (1712-1778) sugere que o homem é bom em sua natureza, assumindo posição contrária à “teoria do estado de natureza hobbesiano. O homem natural de Rousseau não é um "lobo" para seus companheiros”.

Mas, ao contrário do que, geralmente, nós e Rousseau pensamos, Jesus enxerga o homem exatamente como ele é ensina isso; assim também como ensina acerca de Deus. É o que trataremos. O tema e as perguntas são filosóficas, mas só o próprio Deus, seu criador, pode dar a resposta mais adequada sobre a natureza do homem e sobre Seus (de Deus) próprios atributos, muito embora alguns filósofos têm, também, recebido alguma espécie de iluminação para entender corretamente essa natureza humana decaída, a exemplo de Hobbes, Agostinho (esse sob clara influência das Escrituras) e alguns outros.

TEMA: Quem é o homem? Quem é Deus? Respostas de Cristo a essas antigas interrogações:

ELUCIDAÇÃO:

1º) Em primeiro lugar, quem é o homem na visão de Cristo Jesus:

Já no início do diálogo Jesus vai ensinar sobre isso. Vejamos a primeira parte do v.19: “ninguém é bom”. Aqui Jesus faz uma afirmação teológica importantíssima e reveladora acerca do homem: ele não é bom. A referência não atinge somente aquele jovem que dialogava com  Jesus. Pelo contrário, tem uma abrangência universal, isto é, atinge todos os homens;  atinge a raça humana no cerne de sua essência: “ninguém é bom”, ensina Jesus.  Jesus desqualifica a pretensão daquele jovem, que se achava “bom”.

Esse ensinamento está, e não poderia ser diferente, em harmonia com o ensinamento de Paulo, por exemplo, bem como de todo o restante das Escrituras:

Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus;  todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua, urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios, a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura; são os seus pés velozes para derramar sangue, nos seus caminhos, há destruição e miséria; desconheceram o caminho da paz (Romanos 3:10-17).

Esse é o homem e numa espécie de método indutivo Jesus acaba por deixar claro para aquele jovem rico quem, de fato, ele era: um jovem rico mau, em sua natureza, assim como todos os outros jovens, adultos, velhos e até as criancinhas. O ensinamento é o seguinte: Todo homem é mau. Você, jovem rico, é homem. Logo, você é mau.


2º) Em segundo lugar, quem é Deus na visão de Jesus:

“Ninguém é bom, senão um, que é Deus” (v.18). APENAS Deus é bom. Aparentemente, mas apenas aparentemente, JESUS também não estaria aceitando o adjetivo “BOM”. Ora, se a interpretação correta fosse essa, ele estaria afirmando ser diferente de Deus, visto que afirmara “que apenas Deus era BOM”.

“Jesus convidou o jovem a considerar o que significa a saudação que lhe dirigiu. Cristo não disse que era errado chamá-lo de bom, mas queria que o rico percebesse que estava fazendo uma afirmação importante a respeito de Jesus” (Bíblia de Genebra, 2009, p.1353).

Jesus além de definir corretamente o homem também define corretamente Deus. Ou seja corrige duplamente a visão equivocada daquele jovem rico.

O Catecismo Belga, definindo Deus, afirma:

“Todos nós cremos com o coração, e confessamos com a boca,1 que só existe um Deus,2 que é um Ser espiritual e simples;3 Ele é eterno,4 incompreensível,5 invisível,6 imutável,7 infinito,8 onipotente,9 perfeitamente sábio,10 justo,11 bom12 e a fonte transbordante de todo o bem.13 (1. Rm 10.10; 2. Dt 6.4; 1Co 8.4; 1Tm 2.5; 3. Jo 4.24; 4. Sl 90.2; 5. Rm 11.33; 6. Cl 1.15; 1Tm 6.16; 7. Tg 1.15; 8. 1Rs 8.27; Jr 23.24; 9. Gn 17.1; Mt 19.26; Ap 1.8; 10. Rm 16.27; 11. Rm 3.25, 26; Rm 9.14; Ap 16.5, 7; 12. Mt 19.17; 13. Tg 1.17”.

Apenas DEUS é BOM; essencialmente bom. Esse é um atributo comunicável. Isto é Deus comunica sua bondade aos seres criados, por isso são capazes de praticar alguns atos de bondade. Mas a natureza decaída do homem NÃO É BOA. O Homem  não é bom e aquele JOVEM também não o era.

Então Jesus lhe ensina e lhe prova que ele (o jovem rico) não era bom, assim como pensava. Ensina também que Ele Jesus não era “do seu grupo”. Jesus, sim, sendo Deus era igualmente ESSENCIALMENTE BOM.

Dos versos 20 ao 22 Jesus prova que ele realmente não seguia TODOS os mandamentos, como pensava.

O Catecismo Maior de Westminster, em sua pergunta 95, deixa claro a impossibilidade do homem justificar-se ou ser achado “essencialmente bom” por obras da lei ou de seu próprio esforço:

“95.De que utilidade é a lei moral a todos os homens? A lei moral é de utilidade a todos os homens, para os instruir sobre a natureza e vontade de Deus e sobre os seus deveres para com Ele, obrigando-os, a andar conforme a essa vontade; para os convencer de que são incapazes de a guardar e do estado poluto e pecaminoso da sua natureza, corações e vidas; para os humilhar, fazendo-os sentir o seu pecado e miséria, e assim ajudando-os a ver melhor como precisam de Cristo e da perfeição da sua obediência: Lev. 20:7-8; Rom. 7:12; Tiago 2:10; Miq. 6:8; Sal. 19:11-12; Rom. 3:9, 20, 23 e 7:7, 9, 13; Gal. 3:21-22; Rom. 10:4”.


CONCLUSÃO/APLICAÇÕES PRÁTICAS:

A compreensão de que “apenas Deus é Bom”; essencialmente bom, deve nos levar a ter o mesmo sentimento do apóstolo Paulo, que buscava imitar a Cristo, inclusive sua bondade, visto que essa não é uma realidade que brota naturalmente do coração decaído, por isso chamava a todos a esse compromisso: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (I Cor 11:1).

A compreensão de que “o homem não é bom”; essencialmente bom, deve nos levar a uma atitude altruísta de considerar os outros sempre superiores a nós mesmos, numa tentativa de frear a soberba que habita em nossos corações. Deve também nos levar a uma atitude de misericórdia para com as pessoas que são apanhadas em faltas, visto que pela nossa “falta de bondade natural”, um dia poderemos estar na mesma situação. E, finalmente, deve nos lembrar que não temos o direito de apontar e julgar temerariamente as outras pessoas. Afinal de contas, quem somos nós para apontar a falha do outro, como se melhores fôssemos? Acaso não somos nós do mesmo barro, da mesma natureza decaída?


“Não julgueis, para que não sejais julgados.  Porque com o juízo com que julgais, sereis julgados; e com a medida com que medis vos medirão a vós.  E por que vês o argueiro no olho do teu irmão, e não reparas na trave que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu?   5Hipócrita! tira primeiro a trave do teu olho; e então verás bem para tirar o argueiro do olho do teu irmão (Mateus 7:1-4)”.   

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