1º) Erros, desvios e heresias em
relação a Salvação, que ofuscam a glória de Deus:
a) Na época dos reformadores:
Esse aspecto do Soli Deo Glória foi uma preocupação mais intensa de
Lutero. Se houve um assunto pelo qual ele brigou foi esse: o de devolver a glória da nossa salvação a
Deus, a Deus somente.
A igreja Católica medieval acabou por fazer uma divisão dessa glória: uma parte pra Deus
e uma parte para o homem. Ela ensinava a salvação pelas obras, em
uma espécie de sinergismo, que significa que Deus faz sua parte na salvação,
mas o homem também precisa fazer a sua.
O Papa Leão X, para arrecadar dinheiro para construir a Basílica de São
Pedro, inventou a famigerada “Indulgência” que nada mais era que a Venda de Perdão. Funcionava
assim: você pecou ou até estava pensando em pecar, aí você iria até o padre e
comprava o perdão relativo àquele pecado e ele lhe dava uma espécie de
documento assegurando que você não seria condenado por aquele pecado. Ou seja,
o indivíduo comprava a sua salvação. Portanto, ele tinha méritos, já que a
salvação era obtida por seu esforço e dinheiro.
Rui Barbosa, no prefácio do livro “O Papa e o Concílio” diz que eles não
respeitavam sequer os pontos mais melindrosos da Fé, chegando ao absurdo de
afirmar que “é só jogar o dinheiro na caixa que, no mesmo instante, as almas
que estão no purgatório escapam, e que todos deveriam comprar o perdão da alma
de seus entes queridos, e ainda que tivessem uma só veste, deveriam despi-la,
logo e já, para comprar benefícios tamanhos”.
Quem já assistiu o filme Lutero vai lembrar dessas passagens. Elas são
muito bem retratadas na cena que Lutero vai visitar Roma pela primeira vez.
Contrário a tudo isso, a palavra de Deus em Jonas 2:9 diz que “a salvação
pertence ao Senhor”. Em Efésios 2:1 diz que “Ele vos deu vida, estando vós
mortos em vossos delitos e pecados”. Em efésios 2:8-9, Paulo afirma: “Pela
graça sois salvos mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de
obras para que ninguém se glorie.
·
Percebam:
em relação a Salvação, Deus não divide sua glória com ninguém. É ele quem
vivifica um pecador que estava morto e o salva.
R.C SPROUL diz que “A glória da nossa salvação pertence a Deus”.
b) Em nossa época:
Bem, penso que em nossa época ainda convivemos com a mesma ofuscação da glória
de Deus da época dos Reformadores: esse sistema de sinergia que
ensina que Deus faz sua parte na salvação, mas que o homem também precisa fazer
a sua, especialmente reforçada pela doutrina Arminiana, que assim como o
Pelagianismo, na época de Agostinho, no século IV, também foi condenada como
herética, no concílio de Dort, na Holanda. Isso é história, não estou
inventando isso.
Mas há um aspecto peculiar da doutrina da salvação, em nossa época, que
os Reformadores não tiveram o desprazer de conviver e, portanto, não precisaram
combater: O
Sistema de APELO.
Sim, em nossa visão e de acordo com a teologia Reformada, fazer apelo depois
da mensagem acaba por ofuscar a Glória da Salvação que só pertence a Deus
e a divide, mais uma vez, com o homem.
Permitam-me tratar desse assunto. De certa forma fico à vontade para
tratar dele por dois motivos: primeiro porque, infelizmente, alguns pastores
Presbiterianos também se utilizam dessa “técnica”. Portanto, falando contra
ela, estarei falando de uma prática que existe também, infelizmente, dentro da
minha igreja. Segundo
porque eu também já fiz apelo. Pra vocês terem uma idéia, fui um dos
responsáveis pela criação de um boné que trazia a seguinte mensagem: “Céu ou Inferno?
Você decide”. Isso, sim, é um apelo de moral!
O que é isso senão tirar a glória da Salvação somente de Deus e a
entregar também ao homem. Dividir a glória: um pouquinho pra Deus e um
pouquinho para o homem.
Para entender como o Sistema de Apelo Entrou na igreja é preciso voltar
um pouco no tempo, até o século XIX:
O Século XIX marca um divisor de águas na
história da humanidade. É nele, onde se dá, entre outros fatos importantes, o
desenvolvimento, no seu ápice, das ciências positivas e do Humanismo. O homem agora
buscava uma autonomia em relação a Deus. Era comum dizer-se que o homem não precisava
mais de Deus, que conseguia sem problema algum resolver todas as suas questões.
Um homem chamado Frederic Nitch, reconhecido por muitos como pai do humanismo,
escreveu um livro que anunciava, pasmem, a morte de Deus, e, conseqüentemente,
da religião. A idéia que permeava neste século era a idéia de um “super homem”
(aliás, o super homem que conhecemos nasce daqui). O homem resolve tudo, faz
tudo, não precisa de nada, muito menos de Deus (que era apenas uma criação
fantasiosa da igreja para subjugar as pessoas e mantê-las sob sua tutela).
No fervor dessa corrente filosófica – Humanismo -, que exaltava o
homem e suas qualidades, acima de qualquer coisas, ainda no século
XIX, surge um homem que vai trazer toda essa maneira de pensar acerca do homem
para dentro do protestantismo: chamava-se Charles Finey, o criador do APELO na pregação, que
nada mais é que reflexo da corrente filosófica de sua época. No apelo toda a
responsabilidade da salvação é lançada para o agora “super homem”, que tem,
inclusive, o poder de decidir se vai dar ou não uma chance a Deus. Se vai
ou não vai ser salvo.
Precisamos entender uma coisa: todas as vezes que o
homem é exaltado, Deus é diminuído.
Todas as vezes que a glória do homem é exaltada, a glória de Deus é diminuída,
exatamente como ocorre numa gangorra.
O
Sistema de Apelo faz isso: exalta o homem e, conseqüentemente, diminui a
glorificação da glória de Deus.
“Não
existe paralelo entre o apelo moderno e as palavras do Senhor, entretanto, o
apelo é feito como se o próprio Cristo endossasse o convite do evangelista para
levantar-se rapidamente” (MURRAY. IAN. Sistema de Apelo. PES, 1967. p.13).
Você acha que não? Quando se diz “quem quer receber a
Cristo levante uma de suas mãos”, ocorre duas coisas: a) quem levantou a mão
tem o mérito de ter “aceitado” a Deus. Quem somos nós para aceitarmos? Nós é
que precisamos desesperadamente ser aceitos por Ele. b) quem não levanta a mão
está pregando que tudo depende dele e ele “aceita” a Deus na hora que ele
quiser e bem entender. Se isso fosse verdade, Deus não seria Soberano. Sabe o
que ele fez com “o pior dos pecadores”? Derrubou do cavalo e trouxe-o para si,
na hora que bem entendeu e ele não pode resistir a esse chamado eficaz. Isso
sem contar nos exageros de muitos “apeladores”. Eu já ouvi um pastor dizendo
assim: “Eis que estou à porta e bato. Você não vai abrir? Imagine chovendo,
Jesus batendo na porta do seu coração, do lado de fora, na chuva, mesmo assim você não vai abrir a porta do seu
coração pra ele?”. Sinceramente? Esse não é o Deus soberano da bíblia.
Quero encerrar esse aspecto do Soli Deo Glória, que
faz referência à salvação, com a Declaração de Cambridge, formulada por 120
pastores e doutores, na Universidade de Harvard:
Tese 5: Soli Deo Gloria: Reafirmamos que, como a salvação é de Deus e realizada por Deus,
ela é para a glória de Deus e devemos glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa
vida inteira perante a face de Deus, sob a autoridade de Deus, e para sua
glória somente.
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