O
clamor por avivamento voltou, assim como moda que vem e vai. Só em 2015 já
tivemos vários eventos com o tema
Avivamento. Por exemplo, o tema da
importante e reconhecida conferência Fiel deste ano foi “Vivifica-nos! e
invocaremos teu nome”, além de vários Simpósios em igrejas locais com o mesmo
viés. O importante teólogo reformado Rev. Franklin Ferreira, em meio a essa “nova”
atmosfera avivalista, acaba de lançar seu mais novo livro, que não por
coincidência, tem como título “Avivamento para a Igreja”, onde “oferece uma
seleção para análise junto com o leitor, de alguns avivamentos encontrados nas
páginas do texto sagrado, no transcurso da história da igreja e também em
experiências individuais”,
segundo a apresentação da obra pelo Dr. Russell Shedd, que ainda afirma,
agora sobre o pensamento do autor acerca do tema avivamento:
“Franklin
tem a convicção de que, mesmo que o Deus soberano ainda não nos tenha concedido
o privilégio de experimentar movimentos como esses em nosso país, podemos e
devemos ter a esperança de que isso venha a acontecer.
Se Deus derramar de seu Espírito sobre nós
hoje, provaremos de sua graça e misericórdia como nenhuma
geração provou nos quase 160 anos da presença do povo evangélico no Brasil”
.
Sim, parece que existe um desejo comum em todos os eventos, livros e
pregações cujo tema principal é a “moda avivalista”: um novo “derramar de
seu Espírito sobre nós hoje”.
Não,
não estamos falando do apelo pentecostal à experiência mística, acho. Estamos falando
de igrejas, pastores e teólogos de tradição Reformada. O binômio Reforma
Protestante e Avivamento é a tônica do momento. Aliás, esse não é um tema
estranho aos Reformadores. De fato, vários momentos importantes da história do
Cristianismo protestante foram reconhecidos como “verdadeiros avivamentos”. Vejamos:
a) Reavivamento trazido pela
Reforma Protestante
b) Reavivamento Morávio;
c) Reavimanento do Século XVIII
(João Wesley e Jorge Whitefild)
d)Reavivamentos das colônia
americanas entre 1725 e 1760 (Jonatas Edwards/Puritanos).
Claro que existiram outros
momentos que são considerados “tempos de avivamento”, mas os Reformados gostam
de citar, principalmente, esses. Rua Azuza, nem pensar.
Por uma questão de honestidade
com os irmãos que entendem a Reforma Protestante como um desses “momentos de
avivamento”, devemos dizer que sempre definem, sinteticamente, o momento de avivamento
como “um retorno às escrituras sagradas” ou ainda “o transbordar natural de uma
vida de acordo com as escrituras”. Porém, esse retorno, segundo eles, em última
análise, se dá por conta de uma espécie
de “visitação
especial, de derramamento do Espírito Santo sobre a igreja”. Veja,
por exemplo, a definição do Rev.Franklin Ferreira:
“Avivamento
é um poderoso e soberano derramamento do
Espírito Santo [...]. Avivamento é a
obra do Espírito Santo Soberana que
atinge, alcança uma igreja local ou alcança um grupo de igrejas de determinada
localidade [...]. Avivamento é o Espírito Santo
vindo com poder sobre irmãos e irmãs”.
É exatamente esse o ponto que entendemos
como problemático. Em que parte da
bíblia encontramos esse ensinamento?
Existe uma promessa de “derramamento ou
visitação do Espírito Santo” nas Escrituras Sagradas e está
registrada em Joel 2:28 “E há de ser que, depois derramarei o
meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão,
os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões”. Será que
estão se referindo a ela, quando pensam nessa “nova visitação” de Deus? Mas, a teologia Ortodoxa, Reformada não
entende que essa promessa foi cumprida em Atos 2? Aliás, o próprio texto afirma
isso. Vejamos: “Estes
homens não estão embriagados, como pensais. Até porque são apenas nove horas da
manhã. Muito diferente disto. O que
está ocorrendo foi predito pelo profeta Joel: ‘Nos últimos dias, diz o Senhor,
que derramarei do meu Espírito sobre todos os povos, os seus filhos e as suas
filhas profetizarão, os jovens terão visões, os velhos terão sonhos” (Atos 2:15-17).
Que Pentecostais esperem uma “novo visitar”
do Espírito Santo em suas vidas, além da Regeneração,
é compreensivo. Reformados esperando o mesmo, confesso, considero algo estranhíssimo.
A
palavra de Deus está cheia de textos que nos chamam a uma vida reta e
CONSTANTE, a uma vida de SANTIDADE. Deus já disse como Quer que vivamos e o que
Dele se deve crer, JÁ nos HABILITOU para isto com a VIDA (avivamento entendido
como Regeneração). Por que haveria Ele de nos “visitar”
novamente? Para dizer como deve ser nossa vida? Isso já fez. Para nos habilitar
a segui-lo? Isso também já fez (ou será que ainda não?). Nós que já passamos
pelo Novo Nascimento (Avivamento), temos condições de, NATURALMENTE, buscar as
coisas celestiais (II Ped 1:4, I Ped 1:23 e Jo 3:6).
O que dizer
então dos “avivamentos” registrados pela história, como a Reforma Protestante,
por exemplo?
Em
nossa opinião não houve Avivamento coisa
nenhuma (pelo menos no sentido em que é empregado - por Reformados e Pentecostais -, como uma nova
visitação de Deus). O que houve simplesmente foi que algumas pessoas,
devido a nova semente existente nelas e de forma NATURAL, e por “vontade viva e
própria” (gerada pela natureza da nova semente), passaram a aplicar os
princípios escriturísticos em suas vidas, em obediência aos constantes apelos
das Escrituras Sagradas, para buscarmos a santificação.
O que
tem de extraordinário nisso? Nada mais ordinário que isso. Não é o que Deus nos
manda fazer? Lutero, Calvino e tantos outros simplesmente leram as escrituras e
aplicaram às suas vidas. Só isso. Não receberam nenhuma visitação especial de
Deus, além do milagre da Regeneração e da condução ordinária da Providência de
Deus.
“Os
Puritanos não usavam o termo técnico reavivamento para expressar aquilo que
procuravam, mas expressavam seus objetivos totalmente no vocábulo REFORMA”.
As
pessoas hoje se admiram das mudanças provocadas naquelas épocas e atribuem isso
a uma nova visitação de Deus. Segundo
elas, a equação seria assim: Ele “visita” e as pessoas passam a obedecer a bíblia e as
mudanças acontecem. Essa ordem está errada. O correto e como de fato
aconteceu e acontecerá é: Eles OBEDECERAM a
bíblia (porque estavam vivos, regenerados, portanto, habilitados para isso) e
suas vidas modificaram, aliás, como deve ser, NATURALMENTE.
Antes
de encerrarmos devemos lembrar que uma das característica peculiares e
presentes em quase todos “momentos de avivamento” são as distorções, invencionices
e afastamento de princípios básicos como o Sola Scripture.
Isso é
dito com clareza pelo historiador Welliston Walker:
“No
clima emocional do início do século XIX, insuflados por despertamentos
religiosos, também surgiram vários movimentos que representam significativos
afastamentos ou distorções do modelo evangélico protestante”.
Hoje esses grupos que surgiram nesses “momentos de
avivamento” representam um iminente perigo para a verdadeira fé evangélica. Entre
eles, as conhecidas seitas Testemunha de Jeová e Mórmons. Estranho não?!
Vejamos
algumas dessas invencionices e manifestações “espetaculares” desses “momentos
de avivamento”:
O
Rev.Franklin Ferreira, na mesma palestra, já citada acima, faz a seguinte afirmação:
“Muitas vezes
avivamento é acompanhado por sinais extraordinários e sinais miraculosos [...].
Pra ilustrar uma história que vem de Jonathas
Edwards [...] quando voltava pra casa e indo até ao quarto de oração pra tirar
o seu casaco ele encontra a mulher dele levitando a 30 cm do solo”.
Sinceramente?
Reformado acreditar nisso é algo inacreditável.
Não
é curioso que você não tenha um único exemplo bíblico que pelo menos se pareça
com o que é descrito aqui como avivamento? Falar em avivamento é falar inevitavelmente
nesses exemplos “maravilhosos” que aconteceram nesses que são acolhidos e
reconhecidos como “momentos de avivamento”, ao melhor estilo Pentecostal.
Observe este relato de uma dos “momentos
de Avivamento” registrado, pasmem, nas páginas do Jornal Os Puritanos Nº 05 de
1993:
“Observou-se um menino
profundamente impactado. O professor que era cristão [...] mandou o pequeno
garoto ir para casa e buscar ao Senhor em particular [...] no caminho viram uma
casa vazia e entraram para orar juntos [...] sentiu sua alma ser abençoada com
uma paz sagrada [...] regozijando-se nesta NOVA e ESTRANHA BENÇÃO”.
A citação acima faz uma estranha aproximação do pensamento “Reformado”
com o pensamento Pentecostal, no que diz respeito a possibilidade e necessidade
de uma “nova visitação” do Espírito Santo, comumente chamado de “avivamento”.
Por
fim, se começarmos a viver de acordo com os princípios bíblicos (e já os
conhecemos), se dedicarmos maior atenção a eles, se deixarmos a mentira, a
avareza, a prostituição e todas as demais obras da carne, que tão bem
conhecemos, e as substituirmos pelos Frutos do Espírito (e já somos HABILITADOS
para isso), como a BÍBLIA nos exorta exaustivamente e pararmos de ficar olhando
para as nuvens esperando uma “nova visita” “extraordinária” de Deus (e isto não ocorrerá,
a não ser na 2º vinda de Cristo), nossas vidas, nossas igrejas, nossos bairros,
nossas cidades e nosso país, certamente serão “visivelmente” melhores e
provavelmente também faremos parte dos escritos desses “homens de Deus” que
escrevem sobre estes "supostos" avivamentos.