No segundo capítulo abordamos sobre AS BASES TEOLÓGICAS E DOUTRINÁRIAS DO SISTEMA DE GOVERNO REPRESENTATIVO DOS PURITANOS
Neste capítulo destacamos a existência de três formas de governo eclesiástico e os relacionamos, de alguma forma, com as formas existentes de governo civil, por conta de suas características, quais sejam: a) GOVERNO ECLESIÁSTICO EPISCOPAL, adotado pela igreja Anglicana da Inglaterra, cuja característica reside no fato básico de que “um governo todos” e tem sua correlação com a forma de governo civil Monarquia; b) GOVERNO ECLESIÁSTICO CONGREGACIONAL OU INDEPENDENTE, cuja característica básica reside no fato de que “todos governam”, mantendo relação com a chamada Democracia Direta, dos gregos. Os Independentes ou Congregacionais são os principais representantes dessa forma de governo e c) GOVERNO ECLESIÁSTICO REPRESENTATIVO OU PRESBITERIAL, cuja característica básica reside no fato de que “alguns governam todos”, que trouxe luz e contribuiu para forjar à forma de governo civil da Democracia Representativa. O presbiterianismo é o principal representante dessa forma de governo, onde representantes eleitos pelo povo governam a igreja. Pontue-se, aqui, de forma breve, que os puritanos tinham, majoritariamente, convicções presbiterianas com relação à forma de governo, ainda que fossem ligados à igreja anglicana episcopal.
Por isso, em meio à guerra civil, finalizada com a decapitação do rei Carlos I em 1649, a igreja presbiteriana se tornou igreja oficial da Inglaterra. Essa influência da convicção do regime de governo representativo reverberou também no Parlamento Inglês, repleto de puritanos de convicção presbiteriana, que optou pelo regime de governo civil Representativo.
Abordamos também, nesse capítulo, sobre o GOVERNO REPRESENTATIVO no Velho Testamento, passando pelo famoso conselho de Jetro, que orientou, de forma inspirada, Moisés a constituir representantes do povo para que a tarefa de governo lhe fosse suavizada, deixasse de ter característica de uma monarquia e assumisse, assim, de alguma forma uma espécie embrionária de governo representativo. Tratamos da chamada República Hebraica, tomando como base a obra clássica de Enoch Wines, publicada originalmente em 1852, cujo título em português é A República Hebraica: Lei Orgânica do Estado Hebreu, que assevera:
Estava totalmente incorporado à Constituição Hebraica o grande princípio de que os governadores e juízes ou magistrados deveriam ser eleitos pelos governados, e que a autoridade deveria emanar daqueles sobre os quais ela era exercida (WINES, 2019 [1852], p. 49).
A Doutora em Ciências da Religião, Inez Borges, tradutora e editora de A República Hebraica, afirma: “é Moisés quem introduz no mundo da política a república representativa [..]. Este é o início do governo representativo” (BORGES in WINES, 2019 [1852], p.18).
Depois, abordamos o GOVERNO REPRESENTATIVO no Novo Testamento, que deu continuidade ao ofício de Ancião, do Velho Testamento, sendo mais comumente chamado, no Novo Testamento, de Presbíteros, que eram oficiais eleitos pelos membros das igrejas, como seus representantes legais no governo da igreja:
A continuidade da igreja do Novo Testamento com o Israel do Antigo Testamento tornou o ofício familiar de ancião “natural” adequado para a era do novo Pentecostes. De fato, Deus ordenou isso (ver, por exemplo, At 14.23; Tt 1.5) e o ofício tão familiar aos judeus crentes continuou intacto no novo Israel de Deus (Gl 6.16). Ele foi preservado dentro do contexto da família de Deus (DAM, 2019, p.43).
Abordamos, também, o GOVERNO REPRESENTATIVO EM CALVINO, que afirma:
Certamente não haverá nenhum homem de bom senso que negue que, segundo a ordem da vocação legítima, os bispos devem ser eleitos pelos homens, visto que há muitos testemunhos da Escritura em prol deste processo de eleição (CALVINO, 2009 [1536], vol. IV, p.78).
Por fim, abordamos o GOVERNO REPRESENTATIVO na Assembleia de Westminter, que aconteceu sob a convocação do Parlamento puritano Inglês, concomitante à guerra civil inglesa, para formular os novos critérios doutrinários e de governo da igreja inglesa. Everton Tokashiki, com base nos resultados de suas pesquisas em documentos e atas produzidos na própria Assembleia de Westminster, afirma que:
A forma de governo foi um dos assuntos mais importantes nos debates da Assembleia de Westminster. O diretório aprovado acerca do governo da igreja define o modelo de ofícios e da ordem dos concílios da igreja dos três reinos. Ocorreram 326 seções para debater exclusivamente sobre o governo da igreja, e outras 30 sessões onde o assunto foi abordado e ainda outras 356 em que era o motivo principal da reunião. Esta matéria foi a segunda mais polêmica durante a realização da Assembleia [...]. O presbiterianismo aprovado como padrão do governo de igreja durou poucos anos até a restauração da monarquia e do episcopalíssimo (2020, p.115).
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