Deus estabeleceu UM DIA DE DESCANSO, por força de Sua Lei Moral, para o homem (e não só para seu povo, visto que a Lei Moral de Deus é extensiva a toda a humanidade, conforme as Perguntas 94,95 e 96 do Catecismo Maior de Westminster), basicamente para lembrar DOIS dos Seus GRANDES FEITOS, em favor da humanidade e do seu povo, especificamente.
1º) O PRIMEIRO GRANDE FEITO pelo qual o quarto mandamento requer que paremos com todas as nossas atividades, por um dia inteiro, para que lembremos dele é A CRIAÇÃO.
Esse motivo ou esse GRANDE FEITO do Senhor é enumerado como uma das causas para o estabelecimento do DIA DE DESCANSO, conforme está registrado em Êxodo 20:8-11. Observemos o versículo 11:
"Porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o SENHOR abençoou o dia de sábado e o santificou" (Êxodo 20:11).
A expressão "porque" é introduzida no texto exatamente para estabelecer o elo entre a decisão (de estabelecer um DIA DE DESCANSO) e o motivo que levou a determinar esse DIA DE DESCANSO (A CRIAÇÃO). Em síntese, não seria exagero afirmar, baseado no texto de Êxodo 20, que no DIA DE DESCANSO devemos agradecer a Deus e louvar a Seu grande nome por conta das obras criadoras de suas mãos e afirmar, a cada DIA DE DESCANSO: "Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos" (Salmo 19:1).
Muitos estudiosos têm dito que a "motivação para guardar o sábado é imitar a Deus" (BÍBLIA DE GENEBRA, p.117), visto que Ele mesmo descansou depois de sua obra de criação. Da mesma forma o Breve Catecismo de Westminster, em sua pergunta 62, parece concordar com esse pensamento. É evidente que a "imitação" da atitude de Deus de "descansar" não deve ser descartada dessa análise, contudo, talvez ela não seja a ação motivadora ou geradora principal do estabelecimento desse princípio e, sim, a vontade de Deus que nos lembremos que Ele é o CRIADOR de todas as coisas.
Packer, em sua excelente obra "Entre os gigantes de Deus", ressalta também o link existente entre a CRIAÇÃO e a GUARDA DO DIA DO SENHOR, quando afirma acerca do pensamento dos puritanos:
"Havia o princípio de um dia de descanso, para efeito de adoração a Deus, pública e particular, após cada seis dias de trabalho, como uma LEI DA CRIAÇÃO (grifo nosso), estabelecida em benefício do homem e, portanto, obrigatória enquanto ele viver neste mundo [...]. De fato, eles viam esse mandamento como parte integral da primeira tábua da lei [...]. Observam que o trecho de Gêneses 2.1 e seguintes representa o sétimo dia de descanso [...], e que a sanção atrelada ao quarto mandamento, em Êxodo 20.8 ss., olha de volta para aquele fato, retratando o dia como um memorial semanal da criação, "para ser observado para a glória do Criador, como o dever que temos de servo-Lo e como encorajamento para confiarmos nAquele que criou os céus e a terra. Por meio da santificação do sábado, os judeus declaravam que eles adoravam ao Deus que criou a terra" (PARKER, 1996, p.258).
De tal forma isso é verdade que quando um cristão vai à igreja, especialmente no Dia do Senhor, ele está pregando acerca do CRIACIONISMO ao mesmo passo em que está negando outras teorias da origem do universo e do homem, como a do Big Bang e o Evolucionismo, por exemplo. Quando, porém, o cristão trata o Dia do Senhor com desdém e quando não se esforça para guardá-lo, para seu próprio bem, está, de alguma forma, negando o Criacionismo e defendendo essas outras teorias.
2º) O SEGUNDO GRANDE FEITO pelo qual o quarto mandamento requer que paremos com todas as nossas atividades, por um dia inteiro, para que lembremos dele é A LIBERTAÇÃO DA ESCRAVIDÃO.
O povo de Israel passou 400 anos como ESCRAVO, no Egito, submetido a trabalho forçado e duríssimo. Quando reclamava, o trabalho era multiplicado,
como está registrado:
Então, foram os capatazes dos filhos de Israel e clamaram a Faraó,
dizendo: palha não se dá a teus servos, e nos dizem: Fazei tijolos. Eis que
teus servos são açoitados [...]. Mas ele respondeu: Estais ociosos, estais
ociosos; por isso, dizeis: Vamos, sacrifiquemos ao SENHOR. Ide, pois,
agora, e trabalhai; palha, porém, não se vos dará; contudo, dareis a mesma
quantidade de tijolos (Êxodo 5:15-18).
Os egípcios, com
tirania, faziam servir os filhos de Israel e lhes fizeram
amargar a vida com dura servidão, em barro, e em tijolos, e com todo o trabalho
no campo; com todo o serviço em que na tirania os serviam (Êxodo 1:13-14).
Agora respondam: qual é melhor? TRABALHO
FORÇADO ou DESCANSO?
"O dia de descanso é uma sagrada e divina instituição; mas devemos recebê-lo e adotá-lo como um privilégio e um benefício, não como uma tarefa ou uma carga enfadonha [...], Deus planejou-o para que fosse uma vantagem para nós, por isso devemos recebê-lo aprimorá-lo [...] Ele teve consideração pelos nossos corpos, nessa instituição, para que possamos descansar" (PACKER, 1996, p.259).
Esse contraste entre
o TRABALHO FORÇADO, escravo, que os Israelitas enfrentaram durante esses 400
anos de cativeiro no Egito é precisamente o que vai fundamentar o estabelecimento do princípio do Dia de Descanso, do dia de Sábado, SHABBATH, conforme apontado no texto de Deuteronômio:
Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás nenhum
trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua
serva, nem o teu boi, nem o teu jumento, nem animal algum teu, nem o
estrangeiro das tuas portas para dentro, para que o teu servo e a tua serva
descansem como tu; porque te lembrarás que
foste servo na terra do Egito e que o SENHOR, teu Deus, te tirou dali com mão
poderosa e braço estendido; pelo que o SENHOR, teu Deus, te ordenou que
guardasses o dia de sábado (Deuteronômio 5:14-15).
Em síntese, no dia em que Deus derramou o seu amor pelo povo - livrando-o por mão poderosa, da escravidão - o povo deve, também, manifestar seu amor, alegria e gratidão a Deus por tão grande livramento.
É fora de qualquer dúvida que o estabelecimento do Dia de Descanso é um grande privilégio em benefício do homem; portanto, ele deve observá-lo com um coração agradecido. Essa era a expectativa dos Puritanos, como bem registra Parker:
"Guardar o domingo (Dia de descanso. Na terceira parte dessa postagem abordaremos a mudança do dia de Descanso do 7º dia para o 1º dia da semana. Grifo nosso) não é uma carga entediante, mas um jubiloso privilégio. O domingo não é um jejum, mas uma festa, um dia de regozijo nas obras do Deus gracioso, e a alegria deve ser nossa atitude durante todo esse dia (cf. Isaías 58.13). A alegria nunca é tão própria a alguém como a um santo, tornando-se o domingo tanto um feriado quanto um descanso" (PARKER, 1996, p.260).
"É dever e glória de todo crente regozijar-se a cada dia, especialmente no dia do Senhor [...]. Jejuar no dia do Senhor, dizia Inácio, é matar a Cristo; mas regozijar-se no Senhor nesse dia, e regozijar-se em todos os deveres do dia...isso é coroar a Cristo, isso é exaltar a Cristo" (PARKER, 1996, p.260).
E ainda:
"Devemos perceber a importância do dia do Senhor, aprendendo a dar-lhe o devido valor. Esse é um grande dia para a igreja e para o crente: um dia de feira para a alma, um dia de entrar nos próprios subúrbios dos céu, com orações e louvores coletivos (PARKER, 1996, p.261).