O mundo assiste, torcendo, a queda de mais um ditador. Após 42 anos oprimindo o povo Líbio com todo tipo de desmandos, a era Muamar Kadhafi parece, finalmente, ter chegado ao fim.
Diferentemente do desmoronamento do império de Sadan Hussen, não podemos atribuir o fim da era Kadhafi a nenhuma intervenção externa:
"Motivados pela onda de protestos que levaram à queda os longevos presidentes da Tunísia e do Egito, os líbios começaram a sair às ruas das principais cidades do país em meados de fevereiro para contestar o líder Muammar Kadafi, no comando do país desde a revolução de 1969. Mais de um mês depois, no entanto, os protestos evoluíram para uma guerra civil que cindiu a Líbia em batalhas pelo controle de cidades estratégicas".
http://www.rn24horas.com.br/noticias/ver/657/guarda-presidencial-de-kadafi-se-rende-a-rebeldes-diz-tv
http://www.rn24horas.com.br/noticias/ver/657/guarda-presidencial-de-kadafi-se-rende-a-rebeldes-diz-tv
O povo Líbio, cansado da opressão desse ditador, resolveu "pegar em armas" e lutar contra o Governo Constituído (por Deus?), contra o "Magistrado Civil" da Líbia.
Os vídeos abaixo deixam claro que o "desejo escondido" do povo foi o responsável pela queda do ditador. O povo não aguentava mais. O povo queria ser liberto de tamanha opressão, foi à luta e conseguiu. Observe:
Esse fato nos faz refletir sobre uma questão muito importante:
Qual o limite entre a submissão ao Magistrado Civil e a Alienação Social?
Um Cristão Reformado, que tem nas Escrituras sua única regra de Fé e Prática, pode participar de um movimento dessa natureza, que atenta claramente contra o Magistrado Civil? Mais ainda: um Cristão Reformado que subscreve a Confissão de Westminster como fiel exposição das Sagradas Escrituras pode perseguir, combater, declarar guerra civil e se rebelar contra o seu governo constituído? Contra o Magistrado Civil do seu próprio país?
Para facilitar nossa compreensão acerca da dificuldade que envolve esse assunto reproduziremos parte do capítulo XXIV da Confissão de Fé de Westminster, que trata especificamente sobre a relação entre o Cristão e o Magistrado Civil:
A primeira dificuldade perpassa pelo fato de que foi o próprio Deus quem estabeleceu o Magistrado Civil, segundo a Confissão de Westminster, observe:
"I. Deus, o Senhor Supremo e Rei de todo o mundo, para a sua glória e para o bem público, constituiu sobre o povo magistrados civis que lhe são sujeitos, e a este fim, os armou com o poder da espada para defesa e incentivo dos bons e castigo dos malfeitores. Rom. 13:1-4; I Ped. 2:13-14".
Alguém poderia, então, argumentar: Deus os constituiu para a "defesa e incentivo dos bons e castigos dos malfeitores". Não agindo assim, o povo poderá rebelar-se contra o Magistrado Civil. Bem, esse pensamento cria algumas dificuldades: a primeira delas tem a ver com o conceito de "bons" e de "malfeitores". Num regime ditatorial, por exemplo, "bons" são aqueles leais ao governo e "malfeitores" são os rebeldes. Por isso, Kadhafi quer sufocar a rebelião daqueles que são, em seu entendimento, "malfeitores".
A outra dificuldade de um Cristão que subscreve os Símbolos de Fé de Westmisnter é a que prescreve o item IV do capítulo XXIV:
"IV. É dever do povo orar pelos magistrados, honrar as suas pessoas, pagar-lhes tributos e outros impostos, obedecer às suas ordens legais e sujeitar-se à sua autoridade...".
Notem: a Confissão de Westminster, interpretando as Escrituras, deixa claro que é dever "obedecer às suas ordens legais e sujeitar-se à sua autoridade". Não é uma opção. É um dever, independentemente se suas ordens são justas ou não. E antes que alguém argumento sobre a expressão "ordens legais", devemos esclarecer que essa expressão diz respeito às leis outorgadas por uma autoridade "legalmente" constituída e/ou reconhecida, como é o caso. Também esperamos que ninguém argumento sobre a "desobediência em casos de confronto direto entre a ordem legal do Magistrado Civil e palavra de Deus". Também não cabe aqui tal questionamento.
Mas, essa parte do item IV que acabamos de citar acima ainda não é a mais contundente. A Confissão de Westminster continua na sua interpretação:
"IV...Incredulidade ou indiferença de religião não anula a justa e legal autoridade do magistrado, nem absolve o povo da obediência que lhe deve, obediência de que não estão isentos os eclesiásticos". I Tim. 2:1-3; II Ped. 2:17; Mat. 22:21; Rom. 13:2-7, e 13:5; Tito 3:1; I Ped. 2:13-14, 16; Rom. 13:1; At. 25:10-11; II Tim. 2:24; I Ped. 5:3".
Ou seja, nem mesmo o fato de ser o Magistrado Civil um ateu, incrédulo ou alguém que despreza o Deus da Bíblia e seus preceitos, dá direito àqueles que entendem ser essa interpretação - da confissão de westminster - a "fiel exposição" das Sagradas Escrituras, de rebelar-se contra esse Magistrado Civil.
Portanto, retomamos algumas questões e levantamos outras para nossa reflexão e debate:
1- Se houver um presbiteriano, que subscreve a Confissão de fé de Westminster, entre os rebeldes, na Líbia, estará incorrendo no pecado da rebeldia contra o Magistrado Civil?
2- Subscrever os Símbolos de Fé de Westminster significa, necessariamente, ser alienado quanto às injustiças praticadas pelo Magistrado Civil?
3- Devem cruzar os braços todos aqueles que subscrevem tal Confissão de Fé, no que se refere às atitudes de seus Magistrados Civis, ainda que sejam cruéis e sanguinolentos ditadores como Sadan Hussen e Muamar Kadhafi?
4- Qual é, afinal, o limite entre a submissão ao Magistrado Civil e a Alienação Social?
2- Subscrever os Símbolos de Fé de Westminster significa, necessariamente, ser alienado quanto às injustiças praticadas pelo Magistrado Civil?
3- Devem cruzar os braços todos aqueles que subscrevem tal Confissão de Fé, no que se refere às atitudes de seus Magistrados Civis, ainda que sejam cruéis e sanguinolentos ditadores como Sadan Hussen e Muamar Kadhafi?
4- Qual é, afinal, o limite entre a submissão ao Magistrado Civil e a Alienação Social?
Queremos saber sua opinião.
Embora eu não seja presbiteriano, achei muito interessante essas suas reflexões e também gostaria de ler as respostas...
ResponderExcluirCreio que se DEUS quisesse que os cristãos mudassem o mundo através de leis ou de guerras, ele não teria realizado a obra da cruz.
ResponderExcluirA existência do magistrado é apenas uma das consequências do Pecado, e cabe somente a Deus a determinação do tempo que ela existirá, pois todas as coisas estão e são sujeitas à sua soberania, cabendo aos eleitos a submissão e obediência a essa soberania.
Assim foi com ALEXANDRE, assim foi com o IMPÉRIO ROMANO e com muitos outros. Só existiram para que o proposito de Deus fosse consumado.
Creio que não podemos ser "alienados", porém tentar mudar pela força, ou exercer justiça propria é desrespeitar a soberania de Deus.
Creio que tudo que acontece nesta terra é algo milimetricamente preparado para que todos eleitos possam ouvir a "Boa Nova" propiciando dessa forma o ato final: A VINDA DE CRISTO!
Abraços,
FABIO, cristaodebereia.blogspot.com
Fábio:
ResponderExcluirNão podemos nos envolver com os problemas sociais? Temos que assistir passivamente as injustiças, desmandos e crimes cometidos pelos ditadores? É isso mesmo que entendi?
Bom dia, amado.
ResponderExcluirNão creio que o entendimento dos teólogos de Westminster seja de passividade total - até porque isso contrariaria os próprios puritanos que mais tarde vieram a tomar o parlamento Inglês. É dever do cristão orar e honrar pelo magistrado, contudo, é também dever do cristão obedecer a Deus. Ou seja, se o povo está sendo oprimido e subjugado, cabe ao povo "levantar-se" e ir à luta, assim como desobedecer o magistrado e se reunir clandestinamente a fim de espalhar o evangelho - se estiver sendo perseguidos.
Não tenho certeza, mas acho que é o puritano Samuel Rutherford que trata bastante desse questão em "Lex, Rex, or The Law and the Prince; A dispute for The Just Prerogative of King and People". Creio que esse livro possa também ser achado em Ebook.
Um abraço!
Filipe Luiz C. Machado
www.2timoteo316.blogspot.com
Filipe:
ResponderExcluirObrigado pela contribuição. Mas, pelo que falou, não estaríamos desprezando a confissão de Fé? Os teólogos de Westminster não queriam dizer o que disseram? Eles mesmos escreveram uma coisa e fizeram outra?
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirO mundo divide-se desde sua origem entre os Crentes em Deus x os Pagãos. Não importam que nome os tais receberam ao longo do séculos ou a roupagem externa político-religiosa organizacional, o conteúdo e propósito de ambos sempre foram o mesmo. Quando um grupo chegava ao poder, imediatamente suplantavam outro. Guerras sangrentas, em sua maioria, sempre eclodiram e muito sangue derramado jorrou em consequência, motivadas por esta dualidade, Bem x Mal.
ResponderExcluirHoje, o Neo-Paganismo surge no desenrolar da Escartologia Bíblia como última investida contra Igreja do Senhor na terra, que recebeu ordens de ser Sal e Luz, isto é, marcar sua influência, e caso não cumpra com sua missão à semelhança de Israel, para nada mais prestará senão para ser pisada pelos homens, pelo Neo-Paganismo orquestrado e regido pelo espírito do Anticristo que já opera e o há de revelar a qualquer momento.
Neste contexto social, urge lembrar Is. 32:17: "O efeito da Justiça será a paz". Quando as nações respeitam seu povo e seus direitos, há paz nela e para ela. Quando isso é negado, as guerras são inevitáveis, para fazer valer Is. 10:1,2:
"Ai dos que decretam leis injustas, e dos escrivães que prescrevem opressão.
Para desviarem os pobres do seu direito, e para arrebatarem o direito dos aflitos do meu povo; para despojarem as viúvas e roubarem os órfãos!"
Sendo assim, é legitima a ação de um povo cuja opressão chegou aos céus, como Israel no Egito, e clama por Justiça Divina. Hoje, Kadafi. Amanhã, o Anticristo Neo-Pagão e suas hordas bárbaras Homo-Pedófilas, terão que gritar como Juliano: "Tandem venciste Galilae!" (Finalmente, venceste Galileu!) E Westminster será respeitado, como respeitou ao reto Juíz de toda terra definindo-o como: (...) espírito eterno, infinito e imutável, em seu ser, sabedoria, poder, JUSTIÇA, santidade, bondade e verdade.
Querido irmão FILOSOFO CALVINISTA
ResponderExcluirPeço-lhe perdão por não ter me expressado de forma inteligível.
Creio que temos o dever de nos envolver com os problemas sociais, assim como creio que também não devemos assistir passivamente os desmandos de maus magistrados ou governantes. O que não creio é que devamos tomar em nossas mãos o "martelo" da justiça.
PILATOS era um ditador sanguinário
(Lc 13.1-5) porém sabemos que ele estava naquele posto por uma determinação de Deus (Jo 19.8-11).
O capitulo 12 de Atos dos Apóstolos nos mostra os desmandos, injustiças e malvadezas de um ditador sanguinário, porém a sua deposição do cargo não se deveu à uma revolta dos cristãos. A ação foi divina (versículo 21).
OBS: não estou impondo opinião, apenas expressando um entendimento.
Abraços.
Fabio, cristaodebereia.blogspot.com
Texto de Fábio, acima: "Notem: a Confissão de Westminster, interpretando as Escrituras, deixa claro que é dever 'obedecer às suas ordens legais e sujeitar-se à sua autoridade'. Não é uma opção. É um dever, independentemente se suas ordens são justas ou não."
ResponderExcluirDe acordo com esta tua afirmação e explicação, Fábio, estavam justificados todos os que colaboraram com o nazismo e dirigiram os trens, ligaram as válvulas de gás, acenderam os fornos e cumpriram as ordens legais do governo legalmente instituído alemão a partir de 1933?
Estavam equivocados, ao final, Lutero e Calvino, quando se insurgiram contra as autoridades instituídas de sua época, tanto as da Igreja Romana, quanto as dos reis da França e os príncipes alemães?
E também todos os que se insurgiram contra a escravidão e ajudaram a fuga de escravos, organizaram sociedades 'secretas' para ajudar a libertação de cativos, e também aqueles irmãos que, no Sul dos EUA organizavam comboios de trens que levavam escravos para o Norte, para áreas em que a escravidão não era aceita?
Ah, estamos escrevendo por aqui, também, porque há uns 250 anos vários pensadores questionaram as autoridades instituídas no que dizia respeito ao reconhecimento das liberdades individuais.
Tsc,tsc, todos rebeldes empedernidos aos olhos de Deus (e claro, injustificáveis perante a Confissão de Fé de Westminster)? Veja, estou apenas tentando imaginar como seria se ninguém questionasse nenhuma norma ou ordem emanada das autoridades instituídas. Estou apenas imaginando a aplicabilidade da interpretação desta interpretação dada pela CFW.
Grande DIÁCONO Cláudio:
ResponderExcluirPois é caro oficial da IPB. Nós que somos oficiais da IPB estamos presos a essa interpretação, sob pena de sermos desonestos e incoerentes em, não concordando com a interpretação oficial da igreja, continuarmos sendo oficiais.
Vamos esperar que alguém nos ajude e nos ensine que a CFW realmente não está ensinando isso que achamos que está, como comentou. Ou está?...rs.
Grande presbítero, oficial da IPB, kkkkk. Eu é que quero que você, gentilmente, responda minha tão singela dúvida. kkkkk. Estavam certos, então, os que obedeceram a Hitler? Estavam errados os que foram contra suas autoridades e e leis e lutaram contra a escravidão ou a segregação racial? E, dúvida suprema: estavam errados os próprios Lutero e Calvino quando não aceitaram as ordens das autoridades e leis de suas épocas? Quero sua resposta, caro guardião da fiel doutrina. kkkk.
ResponderExcluirDIÁCONO Cláudio:
ResponderExcluirVamos excluir Lutero e Calvino do assunto, pois, eles, teoricamente, estavam livres para desobedecerem as autoridades constituídas, uma vez que estavam lutando por matéria e questão de fé.
Baseado em alguns textos poderíamos argumentar em favor deles, como por exemplo: o profeta Daniel desobedeceu ao rei não "adorando" sua estátua. O apóstolo Pedro da mesma forma, quando afirmou para as autoridades que o mandaram calar: "importa obedecer a Deus primeiro ou a homens?". Os dois entrariam nessa argumentação. Mas note: só e somente só questões relacionadas à fé e à defesa dos preceitos de Deus.
Ou seja, todas as vezes em que as autoridades entrarem em choque direto com as escrituras, "em matéria de fé", temos base bíblica para questioná-los e até desobedecê-los.
Mas, a questão aqui é mais complicada, como vc mesmo faz questão de demonstrar com alguns exemplo. A questão é: quando não se tratar de matéria de fé "especificamente", temos que, obrigatoriamente, cruzar os braços e aceitar com resignação aos desmandos desses ditadores sanguinolentos, sob o argumento da Confissão de Fé?
Ainda não responderei tuas perguntas...rs....vamos esperar uma ajudinha de fora...rs.
Transcrevo aqui comentário de A.A. Hodge à Confissão de Westminster.
ResponderExcluir"A rebelião é um pecado grave, visto ser desobediência a Deus, e visto que necessariamente opera ruína física permanente e desmoralização social entre nossos semelhantes. O limite desta obrigação de obediência só será encontrado quando formos intimados a fazer algo contrário à autoridade superior de Deus (At 4.19; 5.29); ou quando o governo civil tornar-se tão radical e incuravelmente corrupto que deixar de cumprir os fins para os quais ele foi estabelecido. Quando este ponto tiver inquestionavelmente alcançado, quando todos os meios de reparação tiverem sido exaustivamente sem validade, quando ali parecer não haver mais nenhum prospecto de assegurar reforma no próprio governo, e houver alguma boa perspectiva de garanti-la através de revolução, então é privilégio e dever de um povo cristão mudar seu governo - pacificamente, se possível; forçosamente, se preciso."
Prezado jônatas:
ResponderExcluirObrigado por sua participação nesse importante assunto e por trazer a opinião abalizada do Hodge e sua interpretação do assunto. Mas a questão é: será que a interpretação de Hodge (da confissão de westminster) é condizente com a interpretação dos teólogos de Westminster sobre o magistrado civil? Parece que não! Não parece mesmo. Parece?
Acabei de ver o filme "O grande de debate", que conta a história de um grupo de jovens debatedores que recebeu a missão de defender a desobediência civil. Entre os argumentos uma frase de Agostinho: "Numa lei injusta não há lei alguma". Temos a obrigação moral de lutar contra as injustiças, concluiu o jovem debatedor. Estaria a confissão de Westminster, neste assunto,equivocada?
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