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domingo, 28 de fevereiro de 2016

SOLI DEO GLÓRIA - Parte 3/5


1º) Erros, desvios e heresias em relação a Salvação, que ofuscam a glória de Deus:

a) Na época dos reformadores:

Esse aspecto do Soli Deo Glória foi uma preocupação mais intensa de Lutero. Se houve um assunto pelo qual ele brigou foi esse: o de devolver a glória da nossa salvação a Deus, a Deus somente.

A igreja Católica medieval acabou por fazer uma divisão dessa glória: uma parte pra Deus e uma parte para o homem. Ela ensinava a salvação pelas obras, em uma espécie de sinergismo, que significa que Deus faz sua parte na salvação, mas o homem também precisa fazer a sua.

O Papa Leão X, para arrecadar dinheiro para construir a Basílica de São Pedro, inventou a famigerada “Indulgência” que nada mais era que a Venda de Perdão. Funcionava assim: você pecou ou até estava pensando em pecar, aí você iria até o padre e comprava o perdão relativo àquele pecado e ele lhe dava uma espécie de documento assegurando que você não seria condenado por aquele pecado. Ou seja, o indivíduo comprava a sua salvação. Portanto, ele tinha méritos, já que a salvação era obtida por seu esforço e dinheiro.

Rui Barbosa, no prefácio do livro “O Papa e o Concílio” diz que eles não respeitavam sequer os pontos mais melindrosos da Fé, chegando ao absurdo de afirmar que “é só jogar o dinheiro na caixa que, no mesmo instante, as almas que estão no purgatório escapam, e que todos deveriam comprar o perdão da alma de seus entes queridos, e ainda que tivessem uma só veste, deveriam despi-la, logo e já, para comprar benefícios tamanhos”.

Quem já assistiu o filme Lutero vai lembrar dessas passagens. Elas são muito bem retratadas na cena que Lutero vai visitar Roma pela primeira vez.

Contrário a tudo isso, a palavra de Deus em Jonas 2:9 diz que “a salvação pertence ao Senhor”. Em Efésios 2:1 diz que “Ele vos deu vida, estando vós mortos em vossos delitos e pecados”. Em efésios 2:8-9, Paulo afirma: “Pela graça sois salvos mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras para que ninguém se glorie.

·        Percebam: em relação a Salvação, Deus não divide sua glória com ninguém. É ele quem vivifica um pecador que estava morto e o salva.

R.C SPROUL diz que “A glória da nossa salvação pertence a Deus”.

b) Em nossa época:

Bem, penso que em nossa época ainda convivemos com a mesma ofuscação da glória de Deus da época dos Reformadores: esse sistema de sinergia que ensina que Deus faz sua parte na salvação, mas que o homem também precisa fazer a sua, especialmente reforçada pela doutrina Arminiana, que assim como o Pelagianismo, na época de Agostinho, no século IV, também foi condenada como herética, no concílio de Dort, na Holanda. Isso é história, não estou inventando isso.

Mas há um aspecto peculiar da doutrina da salvação, em nossa época, que os Reformadores não tiveram o desprazer de conviver e, portanto, não precisaram combater: O Sistema de APELO.

Sim, em nossa visão e de acordo com a teologia Reformada, fazer apelo depois da mensagem acaba por ofuscar a Glória da Salvação que só pertence a Deus e a divide, mais uma vez, com o homem.

Permitam-me tratar desse assunto. De certa forma fico à vontade para tratar dele por dois motivos: primeiro porque, infelizmente, alguns pastores Presbiterianos também se utilizam dessa “técnica”. Portanto, falando contra ela, estarei falando de uma prática que existe também, infelizmente, dentro da minha igreja. Segundo porque eu também já fiz apelo. Pra vocês terem uma idéia, fui um dos responsáveis pela criação de um boné que trazia a seguinte mensagem: “Céu ou Inferno? Você decide”. Isso, sim, é um apelo de moral!

O que é isso senão tirar a glória da Salvação somente de Deus e a entregar também ao homem. Dividir a glória: um pouquinho pra Deus e um pouquinho para o homem.

Para entender como o Sistema de Apelo Entrou na igreja é preciso voltar um pouco no tempo, até o século XIX:

O Século XIX  marca um divisor de águas na história da humanidade. É nele, onde se dá, entre outros fatos importantes, o desenvolvimento, no seu ápice, das ciências positivas e do Humanismo. O homem agora buscava uma autonomia em relação a Deus. Era comum dizer-se que o homem não precisava mais de Deus, que conseguia sem problema algum resolver todas as suas questões. Um homem chamado Frederic Nitch, reconhecido por muitos como pai do humanismo, escreveu um livro que anunciava, pasmem, a morte de Deus, e, conseqüentemente, da religião. A idéia que permeava neste século era a idéia de um “super homem” (aliás, o super homem que conhecemos nasce daqui). O homem resolve tudo, faz tudo, não precisa de nada, muito menos de Deus (que era apenas uma criação fantasiosa da igreja para subjugar as pessoas e mantê-las sob sua tutela).

No fervor dessa corrente filosófica – Humanismo -, que exaltava o homem e suas qualidades, acima de qualquer coisas, ainda no século XIX, surge um homem que vai trazer toda essa maneira de pensar acerca do homem para dentro do protestantismo: chamava-se Charles Finey, o criador do APELO na pregação, que nada mais é que reflexo da corrente filosófica de sua época. No apelo toda a responsabilidade da salvação é lançada para o agora “super homem”, que tem, inclusive, o poder de decidir se vai dar ou não uma chance a  Deus. Se vai ou não vai ser salvo.

Precisamos entender uma coisa: todas as vezes que o homem é exaltado,  Deus é diminuído. Todas as vezes que a glória do homem é exaltada, a glória de Deus é diminuída, exatamente como ocorre numa gangorra.

O Sistema de Apelo faz isso: exalta o homem e, conseqüentemente, diminui a glorificação da glória  de Deus.

“Não existe paralelo entre o apelo moderno e as palavras do Senhor, entretanto, o apelo é feito como se o próprio Cristo endossasse o convite do evangelista para levantar-se rapidamente” (MURRAY. IAN. Sistema de Apelo. PES, 1967. p.13).

Você acha que não? Quando se diz “quem quer receber a Cristo levante uma de suas mãos”, ocorre duas coisas: a) quem levantou a mão tem o mérito de ter “aceitado” a Deus. Quem somos nós para aceitarmos? Nós é que precisamos desesperadamente ser aceitos por Ele. b) quem não levanta a mão está pregando que tudo depende dele e ele “aceita” a Deus na hora que ele quiser e bem entender. Se isso fosse verdade, Deus não seria Soberano. Sabe o que ele fez com “o pior dos pecadores”? Derrubou do cavalo e trouxe-o para si, na hora que bem entendeu e ele não pode resistir a esse chamado eficaz. Isso sem contar nos exageros de muitos “apeladores”. Eu já ouvi um pastor dizendo assim: “Eis que estou à porta e bato. Você não vai abrir? Imagine chovendo, Jesus batendo na porta do seu coração, do lado de fora, na chuva,  mesmo assim você não vai abrir a porta do seu coração pra ele?”. Sinceramente? Esse não é o Deus soberano da bíblia.

Quero encerrar esse aspecto do Soli Deo Glória, que faz referência à salvação, com a Declaração de Cambridge, formulada por 120 pastores e doutores, na Universidade de Harvard:


Tese 5: Soli Deo Gloria: Reafirmamos que, como a salvação é de Deus e realizada por Deus, ela é para a glória de Deus e devemos glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa vida inteira perante a face de Deus, sob a autoridade de Deus, e para sua glória somente.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

SOLI DEO GLÓRIA - Parte 2/5



ARGUMENTAÇÃO:

Precisamos entender que, assim como todos os outros “Solas”, o Soli Deo Glória, existe, foi formulado, foi  pensado para combater alguns erros e até heresias que se infiltraram na igreja e que foram minando o genuíno ensino da palavra de Deus.

Passaremos a abordar agora os erros, desvios e heresias que existiam no meio da genuína igreja de Cristo, na idade média, até o século XVI, e que são combatidos por esse princípio de Soli Deo Glória.

Sim, erros, desvios e heresias. A verdadeira igreja de Cristo pode ser corrompida de um jeito tal que não se achará nela nenhuma característica da genuína igreja do Senhor.

E já aqui temos essa séria advertência:  aconteceu no passado, com a igreja de Cristo que ficava em Roma. Pode acontecer com nossas igrejas também, se não nos apegarmos aos mesmos antídotos utilizados e formulados pelos Reformadores. E já tem acontecido. Muitas igrejas se descaracterizaram tanto que em nada se parecem com uma igreja de Cristo. Parecem com centros de macumba ou com casas de shows, não com uma igreja de Cristo.

R.C SPROUL em uma série de mensagens sobre os Solas da Reforma afirma que: “Normalmente quando a frase Soli Deo Glória é usada historicamente há dupla referências: veio à luz para combater erros, desvios e heresias basicamente em duas direções:

1ª) A primeira referência tem a ver com a Salvação.

2º) A segunda referência tem a ver Em relação à adoração, ao culto.



Estaremos abordando esses desvios na época dos Reformadores e em nossa época na esperança que o mesmo remédio que serviu lá sirva cá.

SOLI DEO GLÓRIA - Parte 1/5




INTRODUÇÃO:

Há um documento cristão do século XVII, formulado por cerca de 121 teólogos, que passaram 5 anos e seis meses estudando esse e outros assuntos da palavra de Deus, na cidade de Westminster, na Inglaterra, conhecido como Catecismo Maior de Westminster, que faz uma pergunta muito interessante e que é muito pertinente conhecê-la, porque trata exatamente do tema que nos propomos a estudar. Mais que isso: é a pergunta mais importante que um ser humano pode fazer a si mesmo; e você deve fazê-la hoje:

Qual é o fim supremo e principal do homem?  Resposta: O fim supremo e principal do homem e glorificar a Deus e gozá-lo para sempre.

Isso está em plena harmonia com o ensinamento Paulino:

“Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus” (I Cor 10:31)

Já Aristóteles afirma que o fim principal do homem é ser feliz.

Notem que temos aqui duas cosmovisões antagônicas, contrárias. Uma aponta que o homem deve viver toda sua vida com o objetivo de glorificar a Deus. A outra aponta que todo esforço deve ser concentrado em prol do homem mesmo, da busca por sua felicidade.

Mas os teólogos de Westminster interpretaram com precisão cirúrgica o que o Apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, ensina nesse texto, que obviamente trás a visão correta acerca de qual deve ser o fim e objetivo principal do homem.

O texto ensina que todos os nossos objetivos devem orbitar em torno do objetivo principal, que é a Glória de Deus. Quer estudar, se formar, ser um famoso e bem sucedido profissional, ganhar muito dinheiro, ser rico? Ok, são objetivos legítimos, desde que você queira tudo isso; ser rico, por exemplo, para promover a Glória de Deus. Somente a glória de Deus.

William Hendriksen comentando esse texto diz que “exaltar a glória de Deus deve ser nosso propósito principal nesta vida terrena” (HENDRIKSSEN, I Cor, p.323).

Johann Sebastian Bach escreveu uma peça, uma música clássica cujo título é Soli Deo Glória. Mas não somente isso. Em todas as suas músicas ele escrevia abaixo: SDG.



Deus deseja que a Sua glória seja manifesta no seu povo” (Calvin Commentaries on the Isaiah 43.7).

TEMA:  Soli Deo Glória – Glória Somente a Deus. Esse é o tema de nossa palestra.

A expressão Soli Deo Glória é de origem latina e significa “Glória somente a Deus”.

R.C SPROUL sobre esse tema faz seguinte afirmação: “o último “Sola” a ser reconhecido por uma criatura caída é o Soli Deo Glória, porque o ponto básico de nossa corrupção é nos recusarmos a glorificar a Deus da forma devida e correta”.

Como todos já sabem, é um dos chamados Solas da Reforma Protestante. O último, que abrange todos os outros.

Curiosamente parece ser o mais tranqüilo e o mais fácil de aceitar. Por exemplo: imagino que muitas igrejas não reformadas devem ter alguma dificuldade para aceitar o “Sola Scripture”, pois confronta diretamente a questão das novas revelações, profecias, etc.

Mas, “glorificar somente a Deus”, quem vai discordar disso? É claro que todos concordam que toda glória deve ser dada somente a Deus.

Não é tão simples quanto parece. Espero que estejam preparados para serem confrontados com essa verdade bíblica.
 

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

QUE FELIZ ANO NOVO QUE NADA!



Você vai desejar feliz ano novo para todos que encontrar? Vai esperar o relógio bater meia noite para abraçar seus amigos e familiares? Vai passar a noite em claro? Vai vestir roupa nova? Está pondo toda sua esperança no ano novo? Fez diversas promessas de mudanças a você mesmo? Prometeu fazer aquele regime que não conseguiu fazer em 2015? Vai estudar mais? Vai dar mais atenção às coisas espirituais? Prometeu deixar de fumar? Fez vários planos de mudanças? Vai dar uma guinada em sua vida? 

São expectativas que a maioria das pessoas nutrem com a chegada de um novo ano. Mais isso não passa de engodo. Tudo isso não tem a menor importância real. 

Sabemos disso, mas preferimos nos enganar, como se algo realmente novo fosse acontecer com a virada do ano. 

O que é o ano novo? O que há de diferente em um ano novo? Absolutamente nada. Costumamos revestir essa passagem de um ano para outro com uma capa de misticismo tão grande que acabamos por nos iludir com ela. É como alguém que faz uma estátua e depois diz: “é o nosso deus”, à semelhança do que ocorreu no tempo de Moisés. Por que não comemoramos a passagem de um dia para o outro? E de uma semana para outra? E de um mês para o outro? Pois, se fizermos o caminho inverso, é exatamente isso que encontraremos: um ano após o outro, um mês após o outro, uma semana após a outra, uma hora após a outra e, finalmente, um minuto após o outro e assim sucessiva e infinitamente. 

Deixemos de besteiras! Não existe "novo ano". O que existe é simplesmente a virada da folha do calendário. Exatamente igual como a do mês passado, e passado, e passado...e passado. 

Nossa expectativa não deve ser depositada em um "novo ano". Antes, é melhor dizer como o salmista: “Somente em Deus, ó minha alma, espera silenciosa, porque dele vem a minha esperança” (Salmo 62:5).

sábado, 31 de outubro de 2015

REFORMA X AVIVAMENTO: A MODA VOLTOU!



O clamor por avivamento voltou, assim como moda que vem e vai. Só em 2015 já tivemos vários eventos  com o tema Avivamento.  Por exemplo, o tema da importante e reconhecida conferência Fiel deste ano foi “Vivifica-nos! e invocaremos teu nome”, além de vários Simpósios em igrejas locais com o mesmo viés. O importante teólogo reformado Rev. Franklin Ferreira, em meio a essa “nova” atmosfera avivalista, acaba de lançar seu mais novo livro, que não por coincidência, tem como título “Avivamento para a Igreja”, onde “oferece uma seleção para análise junto com o leitor, de alguns avivamentos encontrados nas páginas do texto sagrado, no transcurso da história da igreja e também em experiências individuais”[1], segundo a apresentação da obra pelo Dr. Russell Shedd, que ainda afirma, agora sobre o pensamento do autor acerca do tema avivamento:

“Franklin tem a convicção de que, mesmo que o Deus soberano ainda não nos tenha concedido o privilégio de experimentar movimentos como esses em nosso país, podemos e devemos ter a esperança de que isso venha a acontecer. Se Deus derramar de seu Espírito sobre nós hoje, provaremos de sua graça e misericórdia como nenhuma geração provou nos quase 160 anos da presença do povo evangélico no Brasil”[2].

Sim, parece que existe um desejo comum em todos os eventos, livros e pregações cujo tema principal é a “moda avivalista”: um novo “derramar de seu Espírito sobre nós hoje”.

Não, não estamos falando do apelo pentecostal à experiência mística, acho. Estamos falando de igrejas, pastores e teólogos de tradição Reformada. O binômio Reforma Protestante e Avivamento é a tônica do momento. Aliás, esse não é um tema estranho aos Reformadores. De fato, vários momentos importantes da história do Cristianismo protestante foram reconhecidos como “verdadeiros avivamentos”. Vejamos:

a) Reavivamento trazido pela Reforma Protestante
b) Reavivamento Morávio;
c) Reavimanento do Século XVIII (João Wesley e Jorge Whitefild)
d)Reavivamentos das colônia americanas entre 1725 e 1760 (Jonatas Edwards/Puritanos).

Claro que existiram outros momentos que são considerados “tempos de avivamento”, mas os Reformados gostam de citar, principalmente, esses. Rua Azuza, nem pensar.

Por uma questão de honestidade com os irmãos que entendem a Reforma Protestante como um desses “momentos de avivamento”, devemos dizer que sempre definem, sinteticamente, o momento de avivamento como “um retorno às escrituras sagradas” ou ainda “o transbordar natural de uma vida de acordo com as escrituras[3]”.  Porém, esse retorno, segundo eles, em última análise,  se dá por conta de uma espécie de “visitação especial, de derramamento do Espírito Santo sobre a igreja”. Veja, por exemplo, a definição do Rev.Franklin Ferreira:

“Avivamento é um poderoso e soberano derramamento do Espírito Santo [...]. Avivamento  é a obra do Espírito Santo Soberana  que atinge, alcança uma igreja local ou alcança um grupo de igrejas de determinada localidade [...]. Avivamento é o Espírito Santo vindo com poder sobre irmãos e irmãs[4]”.

É exatamente esse o ponto que entendemos como problemático.  Em que parte da bíblia encontramos esse ensinamento?

Existe uma promessa de “derramamento ou visitação do Espírito Santo” nas Escrituras Sagradas e está registrada em Joel 2:28 “E há de ser que, depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões”. Será que estão se referindo a ela, quando pensam nessa “nova visitação” de Deus? Mas, a teologia Ortodoxa, Reformada não entende que essa promessa foi cumprida em Atos 2? Aliás, o próprio texto afirma isso. Vejamos: “Estes homens não estão embriagados, como pensais. Até porque são apenas nove horas da manhã. Muito diferente disto. O que está ocorrendo foi predito pelo profeta Joel: ‘Nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre todos os povos, os seus filhos e as suas filhas profetizarão, os jovens terão visões, os velhos terão sonhos” (Atos 2:15-17).

Que Pentecostais esperem uma “novo visitar”  do Espírito Santo em suas vidas, além da Regeneração, é compreensivo. Reformados esperando o mesmo, confesso, considero algo estranhíssimo.

A palavra de Deus está cheia de textos que nos chamam a uma vida reta e CONSTANTE, a uma vida de SANTIDADE. Deus já disse como Quer que vivamos e o que Dele se deve crer, JÁ nos HABILITOU para isto com a VIDA (avivamento entendido como Regeneração). Por que haveria Ele de nos “visitar” novamente? Para dizer como deve ser nossa vida? Isso já fez. Para nos habilitar a segui-lo? Isso também já fez (ou será que ainda não?). Nós que já passamos pelo Novo Nascimento (Avivamento), temos condições de, NATURALMENTE, buscar as coisas celestiais (II Ped 1:4, I Ped 1:23 e Jo 3:6).

O que dizer então dos “avivamentos” registrados pela história, como a Reforma Protestante, por exemplo?

Em nossa opinião  não houve Avivamento coisa nenhuma (pelo menos no sentido em que é empregado -  por Reformados e Pentecostais -,  como uma nova visitação de Deus). O que houve simplesmente foi que algumas pessoas, devido a nova semente existente nelas e de forma NATURAL, e por “vontade viva e própria” (gerada pela natureza da nova semente), passaram a aplicar os princípios escriturísticos em suas vidas, em obediência aos constantes apelos das Escrituras Sagradas, para buscarmos a santificação.

O que tem de extraordinário nisso? Nada mais ordinário que isso. Não é o que Deus nos manda fazer? Lutero, Calvino e tantos outros simplesmente leram as escrituras e aplicaram às suas vidas. Só isso. Não receberam nenhuma visitação especial de Deus, além do milagre da Regeneração e da condução ordinária da Providência de Deus.
  
“Os Puritanos não usavam o termo técnico reavivamento para expressar aquilo que procuravam, mas expressavam seus objetivos totalmente no vocábulo REFORMA[5]”.

As pessoas hoje se admiram das mudanças provocadas naquelas épocas e atribuem isso a uma nova visitação de Deus. Segundo elas, a equação seria assim:  Ele “visita” e as pessoas passam a obedecer a bíblia e as mudanças acontecem. Essa ordem está errada. O correto e como de fato aconteceu e acontecerá é:  Eles OBEDECERAM a bíblia (porque estavam vivos, regenerados, portanto, habilitados para isso) e suas vidas modificaram, aliás, como deve ser, NATURALMENTE.

Antes de encerrarmos devemos lembrar que uma das característica peculiares e presentes em quase todos “momentos de avivamento” são as distorções, invencionices e afastamento de princípios básicos como o Sola Scripture.

Isso é dito com clareza pelo historiador Welliston Walker:

“No clima emocional do início do século XIX, insuflados por despertamentos religiosos, também surgiram vários movimentos que representam significativos afastamentos ou distorções do modelo evangélico protestante[6]”.
 
Hoje esses grupos que surgiram nesses “momentos de avivamento” representam um iminente perigo para a verdadeira fé evangélica. Entre eles, as conhecidas seitas Testemunha de Jeová e Mórmons. Estranho não?!

Vejamos algumas dessas invencionices e manifestações “espetaculares” desses “momentos de avivamento”:

O Rev.Franklin Ferreira, na mesma palestra,  já citada acima, faz a seguinte afirmação:

“Muitas vezes avivamento é acompanhado por sinais extraordinários e sinais miraculosos [...].  Pra ilustrar uma história que vem de Jonathas Edwards [...] quando voltava pra casa e indo até ao quarto de oração pra tirar o seu casaco ele encontra a mulher dele levitando a 30 cm do solo”.

Sinceramente? Reformado acreditar nisso é algo inacreditável.

Não é curioso que você não tenha um único exemplo bíblico que pelo menos se pareça com o que é descrito aqui como avivamento? Falar em avivamento é falar inevitavelmente nesses exemplos “maravilhosos” que aconteceram nesses que são acolhidos e reconhecidos como “momentos de avivamento”, ao melhor estilo Pentecostal.

Observe este relato de uma dos “momentos de Avivamento” registrado, pasmem, nas páginas do Jornal Os Puritanos Nº 05 de 1993: 

“Observou-se um menino profundamente impactado. O professor que era cristão [...] mandou o pequeno garoto ir para casa e buscar ao Senhor em particular [...] no caminho viram uma casa vazia e entraram para orar juntos [...] sentiu sua alma ser abençoada com uma paz sagrada [...] regozijando-se nesta NOVA e ESTRANHA BENÇÃO

A citação acima  faz uma estranha aproximação do pensamento “Reformado” com o pensamento Pentecostal, no que diz respeito a possibilidade e necessidade de uma “nova visitação” do Espírito Santo, comumente chamado de “avivamento”.

Por fim, se começarmos a viver de acordo com os princípios bíblicos (e já os conhecemos), se dedicarmos maior atenção a eles, se deixarmos a mentira, a avareza, a prostituição e todas as demais obras da carne, que tão bem conhecemos, e as substituirmos pelos Frutos do Espírito (e já somos HABILITADOS para isso), como a BÍBLIA nos exorta exaustivamente e pararmos de ficar olhando para as nuvens esperando uma “nova visita”  “extraordinária” de Deus (e isto não ocorrerá, a não ser na 2º vinda de Cristo), nossas vidas, nossas igrejas, nossos bairros, nossas cidades e nosso país, certamente serão “visivelmente” melhores e provavelmente também faremos parte dos escritos desses “homens de Deus” que escrevem sobre estes "supostos" avivamentos.




[1] https://vidanova.com.br/editora/lancamento/franklin-ferreira-lanca-obra-avivamento-para-a-igreja
[2] https://vidanova.com.br/editora/lancamento/franklin-ferreira-lanca-obra-avivamento-para-a-igreja
[3] STEGEN.  Avivamento na África do Sul. Editora clássicos evangélicos, 1991). 
[4] Palestra: Avivamento para a Igreja através da oração e da busca pelo Espírito Santo, que pode ser conferida em: https://www.youtube.com/watch?v=G8qOriFay2M .
[5] PACKER. Entre os Gigantes de Deus, p.36.
[6] História da Igreja Cristã Vol.2 p.279.

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