Depois de
uma breve pausa para refletir sobre Natal e Ano Novo, estamos de volta para
encerrar a série em homenagem ao centenário de Luiz Gonzaga. Nas duas primeiras
postagens tratamos da “Depravação Total do Homem”, partindo da afirmação “gonzaguiana”
de que “o homem é mau”.
Vimos que historicamente duas pregações vêm
assumindo posturas antagônicas com relação a esse assunto, deixando de lado por
completo a lógica do terceiro incluído. Ou seja, uma delas está,
necessariamente, correta e a outra errada, pois são auto-excludentes.
A primeira delas, conhecida convencionalmente de Calvinismo, dá ouvidos à pregação de Deus, que afirma peremptoriamente: “certamente morrerás” (Gêneses 2:16,17), acreditando, portanto, que Deus cumpriu sua ameaça solene e que o homem, de fato, está numa condição de morte espiritual, não havendo, assim, nele, nenhum, poder de escolha em relação a qualquer bem espiritual, como converter-se a Deus, por exemplo.
A segunda pregação, conhecida convencionalmente como Arminianismo, escolheu dar ouvidos à voz de Satanás, que minimiza o problema da desobediência a Deus ensinando: “é certo que não morrereis” (Gêneses 3:4).
A primeira delas, conhecida convencionalmente de Calvinismo, dá ouvidos à pregação de Deus, que afirma peremptoriamente: “certamente morrerás” (Gêneses 2:16,17), acreditando, portanto, que Deus cumpriu sua ameaça solene e que o homem, de fato, está numa condição de morte espiritual, não havendo, assim, nele, nenhum, poder de escolha em relação a qualquer bem espiritual, como converter-se a Deus, por exemplo.
A segunda pregação, conhecida convencionalmente como Arminianismo, escolheu dar ouvidos à voz de Satanás, que minimiza o problema da desobediência a Deus ensinando: “é certo que não morrereis” (Gêneses 3:4).
Logo,
estando o homem morto, (e aqui já assumimos que preferimos ficar com a opinião
de Deus em detrimento da de Satanás) resta-lhe apenas uma alternativa de
Salvação: Deus resolver, de forma incondicional, salvá-lo; mesmo que não haja nele o menor
merecimento, antes, pelo contrário, ainda sendo ele merecedor dos
maiores castigos e finalmente do fogo eterno. Essa possibilidade ficou
conhecida na história da teologia como “Eleição Incondicional”, que passaremos
a abordar agora.
ELEIÇÃO
INCONDICIONAL:
O segundo ponto do Calvinismo, Eleição
Incondicional, tem por objetivo combater o também segundo ponto do arminianismo
– Eleição Condicional -. Armínius e seus seguidores acreditavam que Deus havia
elegido os homens que elegeu baseado em seu pré-conhecimento ou presciência. Ou
seja, Deus anteviu aquele que iria, por seu próprio mérito, (não podemos
esquecer que o homem arminiano é um homem que ainda está habilitado, mesmo
depois da queda, a buscar a Deus mesmo sem que, necessariamente, haja alguma
intervenção divina para isto) crer Nele, e, por conta disso, o elegeu. Isso faz
de Deus um mero jornalista que apenas registra os “atos soberanos” do homem.
No sínodo de Dort, foi elaborada a seguinte
contra-argumentação, relativamente ao condicionamento ou não da eleição do
homem, por Deus, a algum movimento ativo desse homem:
Esta eleição é o imutável propósito de Deus, pelo qual Ele, antes da
fundação do mundo, escolheu um número grande e definido de pessoas para a
salvação, por graça pura. Estas são escolhidas de acordo com o soberano bom
propósito de sua vontade, dentre todo o gênero humano, decaído pela sua própria
culpa de sua integridade original para o pecado e a perdição. Os eleitos não
são melhores ou mais dignos que os outros, porém envolvidos na mesma miséria
dos demais. São escolhidos em Cristo, quem Deus constituiu, desde a eternidade,
como Mediador e Cabeça de todos os eleitos e fundamento da salvação (DORT,
1996, p.34).
Na visão calvinista, diferentemente da arminiana,
nada havia no homem, que fosse condição, a seu favor, para que justificasse um
merecimento, por menor que seja, muito
menos ainda um merecimento do tamanho da salvação eterna. A eleição de Deus
baseou-se exclusivamente por sua graça (que por definição já denota um favor
não merecido) e imensa bondade. Isso faz de Deus o autor da salvação e não
apenas um coadjuvante dos direcionamentos humanos.
Agostinho também subscrevia uma eleição
incondicional, como afirma:
Procuremos entender a vocação própria dos eleitos, os quais não são
eleitos porque creram, mas são eleitos para que cheguem a crer. O próprio
Senhor revela a existência desta classe de vocação ao dizer: Não fostes vós que
me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi (Jo 15: 16). Pois, se fossem eleitos
porque creram, tê-lo-iam escolhido antes ao crer nele e assim merecerem ser
eleitos. Evita, porém, esta interpretação aquele que diz: Não fostes vós que me
escolhestes (AGOSTINHO, 1999, p.194).
Analisemos o texto Escriturístico a seguir:
“Ai de ti, Corazim! Ai de ti,
Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom, se tivessem operado os milagres que em
vós se fizeram, há muito que elas se teriam arrependido, assentadas em pano de
saco e cinza” (Lucas 10:13).
Nesse texto,
fica muito evidente que o decreto de Deus sobrepõe-se à sua presciência. Deus
conhece todas as possibilidades, evidentemente, mas permite acontecer tão
somente o que já de antemão decretou.
A confissão de Westminster, em seu capítulo sobre
os “Eternos decretos de Deus”, faz as seguintes afirmações:
Desde toda a eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo conselho da sua
própria vontade, ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece [...].
Ref. Isa. 45:6-7; Rom. 11:33; Heb. 6:17; Sal.5:4; Tiago 1:13-17; I João 1:5;
Mat. 17:2; João 19:11; At.2:23; At. 4:27-28 e 27:23, 24, 34. Ainda que Deus
sabe tudo quanto pode ou há de acontecer em todas as circunstâncias
imagináveis, ele não decreta coisa alguma por havê-la previsto como futura, ou
como coisa que havia de acontecer em tais e tais condições Ref. At. 15:18;
Prov.16:33; I Sam. 23:11-12; Mat. 11:21-23; Rom. 9:11-18. Segundo o seu eterno
e imutável propósito e segundo o santo conselho e beneplácito da sua vontade,
Deus antes que fosse o mundo criado, escolheu em Cristo para a glória eterna os
homens que são predestinados para a vida; para o louvor da sua gloriosa graça,
ele os escolheu de sua mera e livre graça e amor, e não por previsão de fé, ou
de boas obras e perseverança nelas, ou de qualquer outra coisa na criatura que
a isso o movesse, como condição ou causa. Ref. Ef. 1:4, 9, 11; Rom. 8:30; II
Tim. 1:9; I Tess, 5:9; Rom. 9:11-16; Ef. 1: 19: e 2:8-9. (WESTMINSTER, 1999.
p.13).
Como bem afirma Spencer:
Se a eleição dependesse
do homem, ele nunca creria, porque o homem é totalmente depravado e incapaz de
fazer aquilo que é bom aos olhos de Deus. Deixando a si mesmo para decidir-se
por Cristo, sem que antes a fé lhe seja outorgada por um ato de Deus, o homem
nunca irá a Cristo (SPENCER, 1992. p.39).
Diante do exposto, eis
aqui o único remédio possível para a doença mortal que atinge a toda a raça
humana, como já diagnosticou Luiz Gonzaga, o Rei do Baião: “O homem é mau”.