Onze
anos depois, hoje, dia 11/09/2012, o mundo relembra, ainda estarrecido, o maior
atentado terrorista de todos os tempos. Sua magnitude foi sem precedentes na
história.
Após
o atentado de 11 de setembro de 2001, quando dois aviões tomados por terroristas suicidas, ligados ao Islamismo, colidiram com o maior símbolo econômico
dos Estados
Unidos, as duas
torres do World Trade Center em Nova York, matando milhares de pessoas inocentes
de diversas nacionalidades, o EUA decretou a chamada “Guerra ao terror”,
ao “eixo do mal”. Relembre as cenas:
Na
ocasião, depois dos ataques, o presidente Cristão George W. Bush
(2001-2009) prometeu, em pronunciamento à nação pouco depois das 21h (22h em
Brasília), "caçar e punir os responsáveis por esses atos covardes. Não faremos
distinção entre os terroristas que cometeram esses atos e aqueles que lhes dão
guarida", disse ele. Conforme: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1209200107.htm.
Em
última análise, o que temos aqui? Guerra entre religiões? De um lado, radicais Islâmicos invadem um território "Cristão", derrubam dois prédios de particular significado e matam milhares de pessoas inocentes, cristãos em sua maioria, incentivados
por seus pressupostos religiosos. Do outro, uma nação predominantemente Cristã,
de origem protestante, declara guerra e mata outras centenas de pessoas.
Que mulçumanos matem motivados por questões religiosas não é
nenhuma novidade (a julgar pela comemoração demonstrada no primeiro vídeo, acima). Afinal, em seu próprio texto sagrado - o alcorão - e também na sua tradição, há essa recomendação de matar os “infiéis” ou os não-mulçumanos:
“Deus cobrará dos
fiéis o sacrifício de seus bens e pessoas, em troca do paraíso. Combaterão pela
causa de Deus, matarão e serão mortos” (Sura 9-111). E ainda: “Fazei guerra, com sangue e extermínio, a todos que
não crêem em Alá [...]. Quando encontrardes com os infiéis, matai-os (Hadith).
Dos Cristãos, porém, se espera outra atitude. Afinal, não foi o
próprio Cristo, do qual se dizem seguidores, que ensinou a “amar os inimigos”,
no sermão do monte?
Além disso, o sexto mandamento é bem claro: “Não matarás”.
A questão que se levanta é a seguinte:
Não teriam os Cristãos direito à legítima defesa? Um país Cristão ou
simpático a esses pressupostos, como os EUA, por exemplo, não poderia
revidar tamanha afronta? Não pode uma "nação cristã" utilizar-se de poderia bélico para
defender-se e defender seu povo, sem quebrar o sexto mandamento?
A grande dificuldade de entendimento dos preceitos Cristãos, bem
como dos mandamentos, especialmente o sexto, “não matarás”, é a falta de
distinção entre “obrigação
pessoal” e “obrigação
social”.
Enquanto indivíduo, no âmbito da “obrigação pessoal” o Cristão deve, realmente,
“dar a outra face”. “Amar aos inimigos” e até mesmo “orar” pelos seus algozes perseguidores.
O cristão também está proibido, nesse mesmo âmbito, pelo sexto mandamento, de
tirar a vida de outrem. Ou seja, ele está proibido de fazer justiça com as
próprias mãos. Essas são as obrigações a que todo Cristão está sujeito,
sob pena de não sintonia com os ensinamentos de Cristo, com uma rara “exceção à essa regra”, como veremos mais adiante.
Contudo, no âmbito da “obrigação
social” essa questão precisa passar por uma releitura. Portanto, nesse
sentido, um “Estado Cristão” (ainda que Laico, mas que cultive, simpatize ou tenha
maioria que preze pelos valores Cristãos) não está obrigado ao mandamento “Não Matarás”, que é essencialmente
dirigido a indivíduos. Muito pelo contrário, se necessário for “matar para
promover e proteger a vida”, mas somente com essa motivação, que é o grande objetivo do sexto mandamento, o Estado deve
assim fazê-lo, incorrendo em grave erro, inclusive, o Magistrado Civil, se assim não proceder.
A pergunta 136 de um importante Catecismo Cristão Protestante
Reformado, conhecido como Catecismo Maior de Westminster, formulado no século
XVII, pelos Puritanos, ensina de forma esclarecedora esse assunto:
“Pergunta 136: Quais
são os pecados proibidos no sexto mandamento? Resposta: Os pecados proibidos no sexto mandamento
são: O tirar a nossa vida (At 16. 18) ou a de outrem (Gn 9.6), exceto no caso da justiça pública (Nm 35. 31,33), da guerra legítima ( Dt 20. 1-20), ou
da defesa necessária ( Ex 22. 2); a
negligência ou retirada dos meios lícitos ou necessários para a preservação da
vida ( Mt 25. 42,43; Tg 2. 15,16); a ira pecaminosa( Mt 5. 22), o ódio( I Jo 3.
15; Pv 10. 12), a inveja( Pv 14. 30), o desejo
de vingança( Rm 12. 19); todas as paixões excessivas( Tg 4. 1; Ef 4. 31) e cuidados
demasiados( Mt 6. 31,34); o uso imoderado de comida, bebida( Lc 21. 34), trabalho(
Ex 20. 9,10) e recreios( I Pe 4. 3,4);
palavras provocadoras( Pv 15. 1; Pv 12. 18); a opressão( Is 3. 15; Ex 1. 14),
contenda( Gl 5. 15), espancamentos, ferimentos( Nm 35. 16) e tudo o que tende à
destruição da vida de alguém( Pv 28. 17 cf Ex 21. 18-36).”
Concluímos que, segundo essa interpretação, há algumas exceções em
que o "Cristão" e o “Estado” podem matar.
Mas, mesmo essas exceções, visam
claramente atingir o objetivo maior do sexto mandamento: a preservação
da vida.
Para o Cristão, no âmbito de sua “obrigação individual”, só e somente só, em caso
de “defesa necessária” ou
da chamada “legítima defesa”, também prevista na forma da Lei.
Para o Estado, entendido aqui como “cristãos no exercício de suas
obrigações sociais”, mas não só, a exceção
aplica-se em casos de “justiça
pública” (pena de morte, que consiste basicamente em
eliminar, após justo julgamento, o assassino, que quebrou individualmente o
sexto mandamento, da sociedade, visando o bem estar e proteção da vida dos cidadãos) e “guerra legítima”.
Esclarecidos esses fatos, a dificuldade agora é julgar se a
chamada “guerra ao terror”
foi legítima ou não. O que você acha? Comente, deixe sua opinião.