O famoso grito às margens do riacho do Ipiranga - "Independência ou Morte" - bradado pelo imperador D.Pedro, em 7 de Setembro de 1822, requeria para o Brasil a independência total de Portugal. Se negada, de alguma forma, o Imperador do Brasil estava disposto a lutar até à morte, se preciso fosse (será?). O grito previa possibilidades auto-excludentes. Não havia mais a possibilidade de continuar vivo e dependente de Portugal. Neste caso, a morte seria uma opção. Uma opção assumida somente depois da impossibilidade da Independência. A morte seria, então, uma opção. Não algo imposto, mas assumido espontaneamente, com certo grau de heroísmo.
Metaforicamente o grito "Independência ou Morte", invertendo-se a perspectiva, pode, facilmente, fornecer subsídios para a demonstração da Soteriologia Reformada, uma vez que "independência", entendida aqui como "libertação" (do pecado por Cristo), e "morte" são elementos importantes e presentes na doutrina Reformada da salvação. Contudo, para que haja uma maior coerência e adaptação com o "grito" da pregação Reformada, a ordem das palavras passaria a ser "morte ou independência". Continuando, entretanto, a ideia de auto-excludência das opções.
Na pregação Reformada, a morte não é uma opção é, antes, uma realidade natural e intrínseca ao ser humano pós-queda, envolvendo tanto a dimensão física quanto a dimensão espiritual. A opção ficaria por conta apenas da Independência, aqui entendida como "libertação" ou ainda "salvação espiritual". Porém, mesmo sendo opção, essa "independência" ou "salvação" não pode ser acessada ou mesmo escolhida pelo homem, mas apenas pelo próprio Deus. É somente Ele que escolhe e elege para si alguns, deixando os outros na mesma condição natural de morte em que se meteram voluntariamente.
A confissão de fé de Westmisnter tratando sobre esse assunto faz as seguintes afirmações:
1º) Sobre a MORTE (física e, principalmente, espiritual, que é a separação de Deus) como certa e não opcional, numa situação pós-queda:
Cap.IV: I. Nossos primeiros pais, seduzidos pela astúcia e tentação de Satanás, pecaram, comendo do fruto proibido [...] Ref.Gen. 3:13; II Cor. 11:3; Rom. 11:32 e 5:20-21. II Por este pecado eles decaíram da sua retidão original e da comunhão com Deus, e assim se tornaram mortos em pecado e inteiramente corrompidos em todas as suas faculdades e partes do corpo e da alma. Ref. Gen. 3:6-8; Rom. 3:23; Gen. 2:17; Ef. 2:1-3; Rom. 5:12; Gen. 6:5; Jer. 17:9; Tito 1:15; Rom.3:10-18. III. Sendo eles o tronco de toda a humanidade, o delito dos seus pecados foi imputado a seus filhos; e a mesma morte em pecado, bem como a sua natureza corrompida, foram transmitidas a toda a sua posteridade, que deles procede por geração ordinária. Ref. At. 17:26; Gen. 2:17; Rom. 5:17, 15-19; I Cor. 15:21-22,45, 49; Sal.51:5; Gen.5:3; João3:6.
Cap.IX: III. O homem, caindo em um estado de pecado, perdeu totalmente todo o poder de vontade quanto a qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação, de sorte que um homem natural, inteiramente adverso a esse bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu pr6prio poder, converter-se ou mesmo preparar-se para isso. Ref. Rom. 5:6 e 8:7-8; João 15:5; Rom. 3:9-10, 12, 23; Ef.2:1, 5; Col. 2:13; João 6:44, 65; I Cor. 2:14; Tito 3:3-5.
2º) Sobre a INDEPENDÊNCIA, entendida como Libertação, Vocação ou Chamado Eficaz dos Eleitos, como restrita e limitada:
Cap.X: I. Todos aqueles que Deus predestinou para a vida, e só esses, é ele servido, no tempo por ele determinado e aceito, chamar eficazmente pela sua palavra e pelo seu Espírito, tirando-os por Jesus Cristo daquele estado de pecado e morte em que estão por natureza, e transpondo-os para a graça e salvação. Isto ele o faz, iluminando os seus entendimentos espiritualmente a fim de compreenderem as coisas de Deus para a salvação, tirando-lhes os seus corações de pedra e dando lhes corações de carne, renovando as suas vontades e determinando-as pela sua onipotência para aquilo que é bom e atraindo-os eficazmente a Jesus Cristo, mas de maneira que eles vêm mui livremente, sendo para isso dispostos pela sua graça. Ref. João 15:16; At. 13:48; Rom. 8:28-30 e 11:7; Ef. 1:5,10; I Tess. 5:9; 11 Tess. 2:13-14; IICor.3:3,6; Tiago 1:18; I Cor. 2:12; Rom. 5:2; II Tim. 1:9-10; At. 26:18; I Cor. 2:10, 12: Ef. 1:17-18; II Cor. 4:6; Ezeq. 36:26, e 11:19; Deut. 30:6; João 3:5; Gal. 6:15; Tito 3:5; I Ped. 1:23; João 6:44-45; Sal. 90;3; João 9:3; João6:37; Mat. 11:28; Apoc. 22:17. II. Esta vocação eficaz é só da livre e especial graça de Deus e não provem de qualquer coisa prevista no homem; na vocação o homem é inteiramente passivo, até que, vivificado e renovado pelo Espírito Santo, fica habilitado a corresponder a ela e a receber a graça nela oferecida e comunicada. Ref. II Tim. 1:9; Tito 3:4-5; Rom. 9:11; I Cor. 2:14; Rom. 8:7-9; Ef. 2:5; João 6:37; Ezeq. 36:27; João5:25. IV. Os não eleitos, posto que sejam chamados pelo ministério da palavra e tenham algumas das operações comuns do Espírito, contudo não se chegam nunca a Cristo e portanto não podem ser salvos; muito menos poderão ser salvos por qualquer outro meio os que não professam a religião cristã, por mais diligentes que sejam em conformar as suas vidas com a luz da natureza e com a lei da religião que professam; o asseverar e manter que podem é muito pernicioso e detestável. Ref. Mat. l3:14-15; At. 28:24; Mat. 22:14; Mat. 13:20-21, e 7:22; Heb. 6:4-5; João 6:64-66, e 8:24; At. 4:12; João 14:6 e 17:3; Ef. 2:12-13; II João 10: l 1; Gal. 1:8; I Cor. 16:22.
Para aprofundar ainda mais esse assunto, escute abaixo o sermão intitulado "LIBERTAÇÃO EM CRISTO", ministrado pelo Rev.Ádler Coelho, ministro presbiteriano da IPB de Araras-SP, primo do Filósofo Calvinista: