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segunda-feira, 24 de junho de 2019

A MORADA FINAL DOS JUSTOS A PARTIR DOS PURITANOS


O que os Puritanos pensavam sobre a MORADA FINAL dos justos e dos ímpios? 

Joel Beek e Mark Jones, em sua extensa obra "Teologia Puritana", tratando sobre a "Escatologia Puritana", fazem a seguinte advertência à quem quer estudar o pensamento escatológico dos "gigantes da fé": 
Existe nossa tendência de impor as categorias escatológicas de amilenarismo, pré-milenarismo e pós-milenarismo, vigentes nos séculos 20 e 21, à escatologia puritana, que não tinha tais categorias. Craw Gribben defende convincentemente que a teologia puritana consegue "desafiar e transcender os conceitos contemporâneos [...]. Às vezes intérpretes contemporâneos impõem aos puritanos categorias do século 21 (BEEKE, JONES, 2016, p.1090, 1110).
Portanto, conceitos como  "morada temporária ou provisória no CÉU e morada definitiva e final dos justos na TERRA, ainda que transformada" definitivamente não fazem parte, como padrão, do arcabouço teológico/doutrinário dos Puritanos.

Mas isso significa que os Puritanos não tinham uma INTERPRETAÇÃO sobre onde seria a MORADA FINAL dos homens, justos e ímpios? Obviamente que não!

O fato é que aqueles que querem defender tais conceitos devem seguir sozinhos em suas "aventuras hermenêuticas escatológicas contemporâneas", novidades dos séculos XX e XXI, sem o apoio dos Puritanos. 

Os Puritanos não tinham nenhuma dúvida de onde seria a MORADA FINAL dos justos e dos ímpios e isso foi refletido, irrefutavelmente, na Confissão de Fé e nos Catecismos de Westminster, produzidos por eles. 

O problema é que os teólogos reformados presbiterianos contemporâneos consideram, majoritariamente, a INTERPRETAÇÃO dos Puritanos acerca desse assunto como "INGÊNUA" e "INCOMPLETA". Mas, para não assumirem isso, sob pena de serem acusados de "não confessionalidade" dizem que os puritanos são "silentes" quanto ao tema. Mas isso não é verdade, como demonstraremos e como já demonstramos em outra postagem, sob o título: A MORADA FINAL DOS JUSTOS A PARTIR DAS CONFISSÕES E CATECISMOS REFORMADOS (pesquisar no blog):

1) Para começar, vejamos o que diz John Bunyan, contado entre os puritanos, em sua obra mais famosa "O peregrino", que conta a trajetória do Cristão até chegar à sua morada final. No último capítulo, intitulado "Cristão e Esperançoso atravessam o Rio da Morte e entram, finalmente, na Cidade Celestial". A narrativa utiliza expressões como "nova Jerusalém", "cidade celestial", "Sião", "Monte Santo" sempre como sinônimos de CÉU, como fica claro:
Já às portas do CÉU [...] à medida que se aproximavam da cidade, tinham dela uma vista cada vez mais perfeita. Era toda de pérolas e pedras preciosas. Também as ruas eram revestidas de ouro.  Ali — disseram — estão o monte Sião, a Jerusalém celeste, o inumerável exército dos anjos e os espíritos aperfeiçoados dos homens justos. Agora vocês irão para o paraíso de Deus, onde verão a árvore da vida e comerão de seus frutos eternos. Quando lá chegarem, receberão mantos brancos e viverão todos os dias ao lado do Rei, por toda a eternidade[...]. A cena, para quem a pudesse observar, era como se o próprio CÉU descesse para recebê-los [...]. E agora os dois homens, por assim dizer, se viam no CÉU antes de lá entrar, extasiados que estavam pela visão dos anjos e pela audição de notas tão melodiosas. Dali também já avistavam a própria cidade e julgaram ouvir todos os sinos repicando como sinal de boas-vindas (trecho da obra O peregrino).

2) Outro puritano, Thomas Manton, escrevendo sobre "o que aguarda cada pessoa", afirma: "Naquele dia, o bodes serão separados das ovelhas [...]; essa distinção permanecerá para sempre, um daqueles grupo ocupará o CÉU, e o outro o inferno" (BEEKE, JONES, 2016, p.1127). E ainda: "O longo estudo de Manton oferece uma exposição daquilo que é resumido na Confissão de Westminster" (BEEKE, JONES, 2016, p.1127)

3) Escreve o puritano John Dod; "A cada manhã considere: 1. Vou morrer. 2. Posso morrer antes do anoitecer.3.Para onde irá minha alma: para o CÉU ou para o inferno?  (BEEKE, JONES 2016, p.1156)

4- Richard Baxter escreveu "O descanso eterno dos santos. Um guia para o CÉU e para longe do inferno" (BEEKE, 2016, p.1156).

5- O puritano Samuel Rutherford, no leito de morte afirmou: "Estarei radiante - eu o verei como ele é - eu o verei reinar [...] meus olhos, estes meus próprios olhos, e não outros, verão meu Redentor". O CÉU tinha muitas glórias, mas a visão de Cristo, o redentor, era a glória principal (BEEKE, JONES, 2016, p.1160).

6) Chistopher Love, puritano DELEGADO DA ASSEMBLEIA DE WESTMINSTER, escreveu sobre "as glórias do CÉU e o pavor do inferno", uma série de de dezessete sermões que falavam sobre  o CÉU e o inferno. Em um deles, sobre a segunda vinda de Cristo, afirma:
Aquela condição felicíssima e imutável [...], que Deus preparou para os eleitos no CÉU, para ser desfrutada depois do dia do juízo, ocasião em que o corpo se levantará da sepultura e ser unido à alma, e ambos receberão para sempre a glória com de Deus, jesus cristo, O Espírito Santo, os santos e os anjos. É isso que chamamos de glória: esse ajuntamento do corpo e da alma, em que ambos participarão da glória, desfrutando das três pessoas da Trindade, de todos os santos e anjos para sempre (BEEKE, JONES, 2016, p.1163).
Beeke, comentando sobre o pensamento escatológico de Love, para não deixar nenhuma dúvida, afirma: "Esse estado envolve a glorificação tanto do corpo quanto da alma. Love, delegado da Assembleia de Westminster, reflete o ensino puritano padrão da Confissão de Fé de Westminster (CFW)" (BEEKE, JONES, 2016, p.1163) e ainda: 
Love comenta que o CÉU, que é a morada de Deus e a capital do seu reino [...] é o local onde a alma é glorificada no momento de sua morte e onde mais tarde o corpo e a alma serão glorificados por ocasião da ressurreição. o CÉU existe como paraíso (Lc 23;43), habitação eterna (Jo 14.2; 2 Cor 5.1; Lc 16.9), cidade que virá (Lc 23;43), habitação eterna (Col 1.12) e lugar de alegria (Sl 16.11). Quanto a localização, Love rejeita a ideia de "que existirá um novo CÉU e uma nova terra e que aqui [i.e., na nova terra] os eleitos viverão e serão glorificados". Ele também rejeita a ideia de que o CÉU é simplesmente qualquer local onde Deus habita, sem estar ligado a um lugar em particular. Em vez disso, ele defende [...] que o CÉU é aquele espaço mais brilhante e glorioso bem acima dos céus visíveis, chamado terceiro CÉU, onde Deus manifesta sua glória a anjos e santos benditos (BEEKE,JONES, 2016, p.1167).
Essa é a INTERPRETAÇÃO padrão dos puritanos acerca da "morada final dos santos", transmitida aos Símbolos de Fé de Westminster, como já deixaram claro Joel Beeke e Mark Jones, citados acima.

Portanto, não há possibilidade de assumir para si outra INTERPRETAÇÃO sem rejeitar essa INTERPRETAÇÃO dos puritanos e dos próprios símbolos de Fé, como demonstrei também na outra postagem citada acima.
Os escritos de Love sobre o CÉU e o inferno são uma expressão fiel das ideias puritanas comuns sobre o assunto. Embora as posições de Love e a de seus contemporâneos sobre o CÉU não tenham as mesmas nuanças que encontramos em estudos reformados atuais sobre o tema [...], não há dúvida de que até o século 17 não houve geração alguma de teólogos que se equiparasse aos puritanos no que diz respeito a expor as glórias do CÉU e os pavores do inferno. A obra de Love está entre as melhores (BEEKE, JONES, 2016, p.1188).
Como já está claro, tudo se resume à escolha entre as duas escolas de INTERPRETAÇÃO que tratam sobre MORADA FINAL DOS SANTOS - a escola Puritana, refletida, também, nos Símbolos de Westminster e a escola dos teólogos atuais.

7) Thomas Goodwin, puritano, ao escrever sobre "o bendito estado de glória que os santos possuirão após sua morte", afirma; "Não há nada mais encorajador para os piedosos [...] que o fato de poderem caminhar [...] com o coração erguido ao CÉU (BEEKE, JONES, 2016, p.1159).

8) John Owen, afirmou; "os santos na terra anseiam pelo CÉU (BEEKE, JONES, 2016, p.1165).

9) Richard Sibbes, puritano, afirmou: "Sem Cristo o CÉU não é CÉU" (BEEKE, JONES, 2016, p.1165).

10) Outro puritano, Robert Bolton, afirma: "CÉU é aquele lugar ao qual Cristo ascendeu e onde Deus, de forma bem especial, habita, e é o lugar onde todos os benditos estarão para sempre" (BEEKE, JONES, 2016, p.1168).
Bolton e Love refletem a ideia histórica e comum cristã de que a morada eterna dos santos ressuscitados - e não somente a morada das almas de homens justos aperfeiçoados - será  [...] o CÉU (BEEKE,JONES, 2016, p.1168). 

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

REFORMA 501 ANOS: A NECESSIDADE DE REFORMA E AS CONDIÇÕES NECESSÁRIAS PARA QUE ELA OCORRA


O que foi a Reforma Protestante? De forma sintética, podemos dizer: foi um movimento de retorno aos princípios basilares das Escrituras Sagradas, que haviam sido pulverizado a ponto de quase desaparecerem. Ou seja, a Reforma não foi um movimento pontual, circunscrito a um tempo, visto que o que gerou sua necessidade pode ocorrer, e tem ocorrido, em todo e qualquer tempo. Desviando-se do princípio de Sola Scripture a Igreja de Cristo, nasce junto a necessidade de Reforma.

Foi assim com a igreja de Roma, única igreja cristã no ocidente, até o século XVI. Foi assim também na Igreja da Inglaterra - Anglicana -, separada da igreja Romana por motivos espúrios e conveniência do Rei Henrique VIII. Separou-se da Igreja Romana, mas não promoveu as Reformas necessárias para que a igreja retornasse às Escrituras Sagradas, motor que move todo e qualquer movimento de Reforma da Igreja de Cristo. Lloy-Jones, comentando sobre essa questão, afirma:

"Henrique VII, como se sabe muito bem, estava realmente interessado em uma só coisa, e essa era poder conseguir o divórcio e novo casamento. Isso o levou  ao desejo de livrar-se do Papa e da sua autoridade, para que ele próprio se tornasse o chefe da igreja da Inglaterra" (LLOY-Jones, 2016, p.282).

Isso deixa claro que não basta afastar-se do epicentro do erro. É preciso muito mais que isso pra que se crie um ambiente adequado e favorável à Reforma da igreja. Não basta nem mesmo ser apenas combativo; é preciso ser assertivo e proativo.

Já aqui passamos a refletir sobre as condições necessárias para que aja essa Reforma. Não é preciso muito. Basta, tão somente, haver homens ou pelo menos um homem com a consciência de que as Escrituras Sagradas devem nortear todos os princípios de Fé e de Prática da igreja. E, na Igreja da Inglaterra, assim como Lutero na Igreja Romana, eles existiam. Eram os Puritanos. Ainda que exista alguma dificuldade para determinar a data de nascimento do movimento Puritano na Inglaterra,  Lloy-Jones defende que ser Puritano não é simplesmente fazer parte de um grupo temporal. Ser Puritano é ter uma "atitude Puritana", que é sumarizada no desejo e no empenho para que a Igreja de Cristo tenha as Escrituras como única regra de Fé e de Prática.

Algumas controvérsias na Igreja da Inglaterra, acabaram por deixar claro a diferença entre o que  Lloy-Jones chama de "espírito Anglicano" e "espírito Puritano". Uma delas tratava sobre a necessidade e obrigatoriedade do uso dos paramentos clericais:

"Essas questões indiferentes são sem importância e, contanto que o evangelho esteja sendo pregado e a igreja esteja sendo preservada, todos deveriam ficar satisfeitos" [...]. A isso, replicavam os puritanos: se não são importantes, por que vocês as impõe obrigatoriamente? [...]. O conceito anglicano é progressivo, evolutivo, é o conceito tipicamente "católico", ao passo que o dos puritanos é um conceito estático, que declara que essas coisas são determinadas pelo Novo Testamento, e isso de uma vez por todas [...]. Essa é uma exposição ampla da diferença. O anglicanismo sempre ensinou esta ideia progressiva, esta ideia evolutiva que acentua que a igreja, em sua experiência e sabedoria, continua a fazer descobertas e obtém novas percepções do ensino das Escrituras. Isso leva a certos desenvolvimentos e  acréscimos na igreja, em questões de governo, cerimônia e assim por diante. Por outro lado, os Puritanos diziam: Não, o ensino é fixo no Novo Testamento, e devemos permanecer nele" (LLOY-Jones, 2016, p.285.287).

E, ainda, tratando sobre o "rosto" que a igreja de Francoforte deveria ter:

Diziam os Anglicanos: "eles teriam que fazer como haviam feito na Inglaterra, e teriam que ter o rosto de uma igreja inglesa. Ora essa era uma declaração tipicamente anglicana [...]. A isso Jon Knox replicou: Queira o Senhor que ela tenha o rosto da igreja de Cristo. Igreja inglesa - igreja de Cristo. Aí vocês têm a divisão essencial entre anglicano e puritano" ((LLOY-Jones, 2016, p.287).

Na igreja de Cristo sempre haverão aqueles que apresentarão o "espírito anglicano/católico", que não entende inclusões e inovações (extra-bíblicas) no culto e nas práticas religiosas como problemáticas. Mas, também, em todos os tempos, haverão homens e mulheres com o "espírito puritano", que conclamarão a igreja de Cristo a voltar para as Escrituras Sagradas, somente.

Qual a postura e o "espírito" que você tem adotado na sua comunidade cristã?

Lembre-se: "não é preciso muito. Basta, tão somente, haver homens ou pelo menos um homem com a consciência de que as Escrituras Sagradas devem nortear todos os princípios de Fé e de Prática da igreja".

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