Nós e
nossa mania de perfeição. Julgamo-nos bons além da conta, mas para que isso não
pareça prepotência, sendo, nos fazemos de coitadinhos para justificar nossa
falta de compromisso com a verdade Revelada de Deus. Se não tomarmos cuidado,
se não tivermos clareza do que realmente somos a religiosidade nos empurrará, impreterivelmente,
aos famosos “túmulos caiados”.
Somos
pecadores e essa condição não nos largará até sermos recolhidos ao Senhor, de
uma forma ou de outra. Por conta disso, simplesmente não conseguimos cumprir a
Lei Moral de Deus e seus demais preceitos em sua inteireza.
Isso deve
nos levar a uma condição de desconforto diante de Deus. Era assim que se sentia
o apóstolo Paulo, quando anunciava em tom trágico:
“Porque eu sei que em mim, isto é, na
minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não,
porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero,
esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o
pecado que habita em mim. Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o
mal reside em mim. Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de
Deus; mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da
minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros.
Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? (Romanos
7:18-24)”.
Segundo o
Catecismo Maior de Westminster, essa agonia sentida por Paulo é provocada, de
forma proposital, pela própria Lei Moral de Deus, que:
1º) Primeiro nos ordena
obedecer sem pestanejar:
Pergunta 93: Que é a lei moral?
A lei moral é a
declaração da vontade de Deus, feita ao gênero humano, dirigindo e obrigando todas as pessoas à conformidade e obediência
perfeita e perpétua a ela - nos
apetites e disposições do homem inteiro, alma e corpo, e no cumprimento de
todos aqueles
deveres de santidade e retidão que se devem a Deus e ao homem (Deut.
5:1, 31, 33; Luc. 10:26-28; Gal 3:10; I Tess. 5:28; Luc. 1:75; At. 24,:16; Rom.
10:15).
Pergunta 95: De que utilidade é a lei moral
a todos os homens?
A lei
moral é de utilidade a todos os homens, para os instruir sobre a natureza e
vontade de Deus e sobre os seus deveres para com
Ele, obrigando-os, a andar conforme a essa vontade.
2º) Nos mostra que não
temos a menor condição de obedecê-la:
Pergunta 94: É a lei moral de alguma
utilidade ao homem depois da queda?
Embora nenhum homem,
depois da queda, possa alcançar
a retidão e a vida pela lei moral, todavia ela é de grande utilidade a todos os
homens (Rom. 8:3; Gal.
2:16; I Tim. 1:8).
95. De que utilidade é a lei moral a todos
os homens? (Continuação)
A lei moral é de
utilidade a todos os homens [...] para os convencer de
que são incapazes de a guardar e do estado poluto e pecaminoso da sua natureza,
corações e vidas; para os humilhar, fazendo-os
sentir o seu pecado e miséria, e assim ajudando-os a ver melhor como precisam
de Cristo e da perfeição da sua obediência (Lev.
20:7-8; Rom. 7:12; Tiago 2:10; Miq. 6:8; Sal. 19:11-12; Rom. 3:9, 20, 23 e 7:7,
9, 13; Gal. 3:21-22; Rom. 10:4).
O
resumo da “ópera’ é mais ou menos o seguinte: Deus é Santo e o Padrão ou o
modelo de Moral exigido por Ele é Ele mesmo. Ele não baixará esse nível de Santidade
exigido de suas criaturas somente porque elas não conseguem atingi-lo. Não é
sem motivos que ele prescreve “Sede santos porque Eu sou Santo” (I Ped 1:16).
Ou seja, atingir esse modelo de Santidade é nosso alvo mas, ao mesmo tempo,
sabemos que não conseguiremos jamais mas, mesmo assim, devemos continuar
tentando, sempre, sempre e sempre. Desistir de tentar atingir esse padrão
tonar-se pecaminoso.
Diante
disso, quem não repetiria com Paulo “Desventurado homem que sou”?
Nessa
altura de nossa breve reflexão algumas perguntas ecoam em nossas mentes,
insistindo em não calar:
O que fazer, então?
Liberar geral? Deixar de ensinar os Preceitos Corretíssimos e Santíssimos da
Palavra de Deus porque nós mesmos não os conseguimos cumprir?
Tenho
ouvido com preocupação esse argumento, escondido em frases do tipo: “quem é que
cumpre todos os mandamentos aqui? Quem guarda o dia do Senhor como deve ser
guardado?”.
Esse tipo de pergunta
retórica, que só abre espaço para respostas do tipo “ninguém e ninguém”
(conforme já demostrei pelo Catecismo Maior, acima), são extremamente falaciosas
e perigosas. Beiram à heresia e estão carregadas de “dardos inflamados do maligno”.
É assim porque, certamente, a sentença que vem a seguir é: “então ninguém pode
cobrar que isso ou aquilo deixe de ser feito ou passe a ser feito”, ainda que o
que é requerido seja claramente ensinado ou proibido nas Escrituras Sagradas.
Finalmente,
devemos deixar de obedecer e ensinar alguns ensinamentos e preceitos Bíblicos
porque não conseguimos obedecer outros ou eles mesmos? Absolutamente. Nossa
incapacidade natural não nos isenta de tentarmos seguir esses preceitos
novamente, novamente e sempre. É cair aqui, levantar-se e seguir de novo para o alvo.
Era assim
que agia o Apóstolo Paulo. Sabedor que não conseguiria cumprir fielmente os
mandamentos e preceitos do Senhor, ele não desistiu de tentar, não se permitia usar
isso como desculpa para não continuar tentando, como muitos querem fazer.
Apesar dessa angustiante luta, descrita por ele em Gálatas 5:17, Paulo prosseguia.
Ele não recuava;
ele teimava em tentar obedecer os preceitos eternos da Palavra de Deus.
Vejamos o
que ele diz:
Mas o que, para mim, era lucro, isto
considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda,
por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor
do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo
e ser achado nele, não tendo justiça
própria, que procede de lei,
senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé;
para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus
sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte; para, de algum modo,
alcançar a ressurreição dentre os mortos. Não que eu o tenha já recebido ou tenha já
obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar
aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das
coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o
alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus (Filipenses 3:7-14)
Façamos como o apóstolo Paulo: Prossigamos para o alvo, sempre. Desistir de tentar
obedecer os mandamentos e preceitos da palavra de Deus, sob o argumento que “ninguém
consegue” é pecaminoso.