Muito se tem falado da “urgência” de se pregar o evangelho ou ainda de se fazer “qualquer” outra coisa para “mudar” a situação da IPB. Fala-se até em “salvar” a IPB da extinção. De fato, as estatísticas não são nada animadoras. Para termos uma idéia, no Censo 1991-2001
, a Igreja Presbiteriana do Brasil, em dez anos, teve um acréscimo de apenas 2.000 novos membros. Isso representa um crescimento de 0,40%, em relação ao número de membros da IPB em 1991 (498.000 membros). Se comparado ao número de pessoas que se tornaram “evangélicas” nesse mesmo período (5.809.000 membros), a situação é ainda mais alarmante: desse total, apenas 0,03% ingressaram na IPB. Com relação à representatividade da IPB na população total de “evangélicos”, tendo como parâmetro os anos de 1991 e 2001, os números também em nada defendem nossa igreja: em
1991 a IPB representava 8% da população total de “evangélicos” (6.252.000 membros). Em 2001, quando o número de “evangélicos” chegou aos 12.061.000 de membros, esse percentual caiu para 4%, ou seja, enquanto o total de “evangélicos” quase dobrou, nesse período, a representação da IPB caiu pela metade.
Para onde afluiu então toda essa multidão se não para a IPB? Basta olhar para a estatística que revela o crescimento de algumas igrejas. Em 1991 a Assembléia de Deus tinha 2.400.000 membros; em 2001 esse número chega a 4.500.000 membros, representando um crescimento de 87,5%. A Igreja Internacional da Graça de Deus, em 1991, tinha 100.000 membros; em 2001 chegou a 270.000 membros, um crescimento de 170%. A Igreja Quadrangular que em 1991 tinha 303.000 membros, em 2001 passou a 1.000.000 de membros, um desempenho de 230,3%. A Igreja Deus é amor em 1991 tinha 170.000 membros e passou a 750.000 membros em 2001, numa excelente performance de 341,18%.
Mas nenhum desses crescimentos acima podem ser comparados com as igrejas “tope de linha” no quesito crescimento. Em terceiro lugar temos a Igreja Universal do Reino de Deus, que em 1991 tinha 268.000 membros e em 2001 atingiu a importante “marca” de 2.000.000 membros; isso representa um crescimento de 646,27%. Em segundo lugar aparece a não menos “famosa” Igreja Renascer em Cristo, da “Bispa” Sônia e do “Apóstolo” Estevam Hernandes, que em 1991 tinha apenas 10.000 membros e ao final de 2001 já “contabilizava” 120.000 membros, experimentando um astronômico crescimento de 1.100%. E, finalmente, a grande campeã: a Igreja Sara Nossa Terra, que em 1991 tinha 3.000 membros e em 2001 alcançou nada mais nada menos que 150.000 membros; representando um espetacular crescimento de 4.900%.
Das Igrejas consideradas “tradicionais”, apenas a Igreja Batista conseguiu um índice de crescimento “satisfatório”: cresceu em dez anos 20%. Mesmo assim, um crescimento muito inferior das igrejas de tendências Neo-Pentecostais e Neo-Renovadas. A Igreja Luterana, nesse mesmo período, decresceu, perdeu 29.000 membros.
As estatísticas apresentadas acima, bem como sua fácil constatação, são responsáveis pelo surgimento de um novo e triste espírito dentro da IPB: um misto de inveja (das igrejas que estão “explodindo”), amor (pela IPB, no sentido de querer vê-la “grande”) e ódio (pelos princípios doutrinários e litúrgicos da IPB, que supostamente impedem seu crescimento).
Vivemos uma situação muito parecida com a registrada em I Samuel 8:1-22, guardadas as devidas proporções, obviamente. O povo de Deus, de fato, havia identificado que algo não estava andando bem:
Ora, havendo Samuel envelhecido, constituiu a seus filhos por juízes sobre Israel [...]. Seus filhos, porém, não andaram nos caminhos dele, mas desviaram-se [...]. Então todos os anciãos de Israel se congregaram, e vieram ter com Samuel, a Ramá e lhe disseram: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam nos teus caminhos. Constitui-nos, pois, agora um rei para nos julgar, como o têm todas as nações.
Podemos identificar nesse diálogo os mesmos elementos que constituem o “espírito” que hoje existe na IPB: Inveja (das outras nações que possuíam um rei e que, pelo menos na visão do povo, viviam melhor e sem problemas); amor (no sentido de querer mudar de alguma forma a situação que se apresentava) e ódio (pelos princípios governamentais outrora estabelecidos). Devemos notar que a preocupação do povo era mais que justificável, porém, o problema não estava nos princípios anteriormente estabelecidos e, sim, em alguns elementos destoantes. Tal disposição de coração “[...] pareceu mal aos olhos de Samuel [...]. Então Samuel orou ao Senhor”. Samuel identificou, nas entrelinhas, da justa preocupação do povo, esse estranho e triste “espírito” e buscou orientação na palavra de Deus, que demonstrou também Sua reprovação quanto a essa disposição de coração. “Disse o Senhor a Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não é a ti que têm rejeitado, porém a mim, para que eu não reine sobre eles”. Mesmo depois de demonstrar todos os problemas que o povo teria que assumir, caso fizesse tal opção (dos versículos 9 ao 18), “o povo, porém, não quis ouvir a voz de Samuel; e disseram: Não, mas haverá sobre nós um rei, para que nós também sejamos como todas as outras nações”.
Acaso seria esse também o desejo do coração de muitos membros, pastores, oficiais e líderes da IPB? Será que de fato queremos ser iguais a essas igrejas que estão crescendo? Porque é a elas que nos referimos como um bom exemplo de crescimento. São elas que são postas lado a lado com a IPB para apontar-lhe a falta de crescimento e os defeitos.
Será que realmente acreditamos que Deus tem aprovado o crescimento de 646,27% da Igreja Universal do Reino de Deus? Os 1.100% da Igreja Renascer? Os 4.900% da Igreja Sara Nossa Terra?
Responder afirmativamente significa admitir que Deus esteja aprovando uma série de esquisitices que são, notadamente, estranhas à Bíblia, como por exemplo, “rosa ungida”, “corrente das mais variadas”, “cair na unção”, “raspar a cabeça”, “palavra profética” (escrita, inclusive) etc. Responder afirmativamente significa também admitir que Deus esteja em pleno acordo com a idolatria hindu dos 33.333 deuses; afinal, essa religião tem mais de um bilhão de membros. E os budistas? Deus também os tem aprovado? E o que não dizer do espiritismo? O Brasil é o maior país espírita do mundo. O espiritismo nega a deidade de Cristo. Deus tem aprovado isso? É o que afirmaremos, caso chegarmos à conclusão que o crescimento dessas igrejas é obra de Deus e conta com Sua bendita aprovação.
O fato, prezados, é que: crescimento numérico não deve e não pode ser um termômetro para medir se a igreja é ou não de Deus ou ainda se a igreja está bem ou não. Menos ainda quando esse crescimento é fruto de técnicas bem ajustadas e em perfeita sintonia com o pragmatismo. Notem: essas igrejas estão crescendo por causa de técnicas e conceitos filosóficos e não pela pregação da palavra de Deus, aliás, é comum vermos membros dessas igrejas evangelizando? Claro que não! Pregando o evangelho genuíno? Menos ainda!
Sobre essa questão, Phil A. Newton
, em seu artigo
“Minha passagem pelo Movimento de Crescimento de Igrejas”, afirma o seguinte:
Edificar uma igreja seguindo os "princípios do Movimento de Crescimento de Igrejas" significava anuência ao pragmatismo, ao invés de ao cristianismo bíblico. O pragmatismo pode resultar em crescimento numérico, mas não pode regenerar um homem incrédulo.
John. F. MacArthur, em seu excelente artigo “Eu quero uma Religião Show”, também comentando sobre esse assunto, afirma, citando George Peters:
O crescimento quantitativo pode ser enganador. Pode não ser mais do que a proliferação de um movimento social ou psicológico mecanicamente induzido, uma contagem numérica, uma aglomeração de indivíduos ou grupos, um crescimento de um corpo sem o desenvolvimento dos músculos e dos órgãos vitais.
E isso, creiam, não é a velha desculpa presbiteriana: “O importante é a qualidade e não a quantidade”! Você pode afirmar: “sei de todos os problemas doutrinários dessas igrejas e que elas, de fato, se afastaram da palavra de Deus, porém, o importante é que vidas estão sendo salvas, jovens estão saindo do mundo das drogas”.
Bem, não podemos negar essa “contribuição social”. Assim como os Espíritas, Mórmons e até instituições não religiosas, essas igrejas também têm conseguido livrar muitos do mundo das drogas e do álcool. Contudo, a alegação de que muitos estão sendo salvos é bem questionável.
Uma característica marcante dessas comunidades é que seus membros são, predominantemente, jovens (e sempre foi assim, desde a fundação). Esse fato é bastante elucidativo e nos inquieta a pensar qual destas duas alternativas são verdadeiras: a) o “apóstolo” Hernandes e Cia Ltda detêm os poderes da “fonte da juventude” (e os membros de sua igreja não envelhecem); b) Existe um elevado grau de rotatividade nesse tipo de comunidade (e isso já é totalmente comprovado). Isso revela, de forma inequívoca, o baixo grau de firmeza de fé e verdadeiras conversões. O texto de Mateus 13:3-7, nos ajudará a entender esse fenômeno:
E falou-lhes muitas coisas por parábolas, dizendo: Eis que o semeador saiu a semear e quando semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho, e vieram as aves e comeram. E outra parte caiu em lugares pedregosos, onde não havia muita terra: e logo nasceu, porque não tinha terra profunda; mas, saindo o sol, queimou-se e, por não ter raiz, secou-se.E outra caiu entre espinhos; e os espinhos cresceram e a sufocaram.A erva nasce, mas vindo o sol, logo é eliminada. E a busca incessante por novos jovens continua!
Os jovens são atraídos, principalmente, pela “qualidade” e “quantidade” dos louvores. Muitos afirmam ter tido um “encontro” com Cristo por intermédio da “gospel music”, diferentemente do que afirma o Apóstolo Paulo em I Cor 1:21: “Visto como na sabedoria de Deus o mundo pela sua sabedoria não conheceu a Deus, aprouve a Deus salvar pela loucura da pregação os que crêem”. A ênfase desproporcional à adoração, diminui, de forma sensível, o tempo de estudos e pregações da palavra de Deus; ou seja, o que, de fato, produz salvos é relegado a segundo plano.
Diante de tudo que já foi exposto, entendemos que é uma grande benção crescer, inclusive numericamente. Ninguém é louco o suficiente para afirmar que crescimento numérico não é importante. Contudo, nossa principal preocupação não deve ser essa. Não devemos nem mesmo pensar em encher nossas igrejas. Não devemos ter nenhum tipo de compromisso com a “conversão” dos pecadores como, muitas vezes, movidos pelas estatísticas, somos tentados a ter, como demonstram práticas do tipo: “sejam bem vindos em nome do Senhor Jesus”, “recepcionistas sorridentes”, “apelos” e tantas outras formas de “agradar” o pecador, convencendo-o a ficar em nossa igreja.
Nosso dever, nossa tarefa, é tão somente pregar o puro, simples e genuíno evangelho do Senhor Jesus. Sola Scripture! Se as pessoas vão se converter ou não, isso, caros irmãos, não deve ser nossa preocupação e nem é nossa tarefa.
Nossa preocupação deve estar voltada para o fato de que “muitos” de nossos pastores estão se tornando, cada vez mais, “executivos de gabinetes”, isto é, não evangelizam, não visitam, não pastoreiam, não “arregaçam as mangas”, não são exemplos de pessoas que produzem frutos para o crescimento, não da IPB, mas do reino de Deus. Podemos negar esse fato? É só fazer uma pesquisa entre todos os presbitérios e veremos uma realidade uniforme: muitos pastores, pouquíssimas igrejas. Será que está faltando campo? Claro que não; já coragem de trabalhar, provavelmente.
Nossa preocupação deve estar voltada para nossos oficiais, presbíteros e diáconos, que vivem na mesma inércia, com um agravante: são responsáveis diretos pela falta de identidade doutrinária da IPB. E quanto aos membros que vivem apontando a falta de crescimento da IPB? Bem, esses merecem um certo desconto, pois, não possuem nenhum bom exemplo, porém, só criticam, também não produzem. Esquecem que a responsabilidade de comunicar o evangelho é individual. Vivem dizendo: “a IPB não evangeliza”, quando deveriam dizer: “eu não estou evangelizando, preciso obedecer, urgentemente, ao “ide” do mestre.
Devemos pregar “a tempo e fora de tempo”, como nos diz o verdadeiro Apóstolo
de Cristo
em II Tm 4:2. Devemos pregar não porque “almas estão indo para o inferno, enquanto estudamos nossa teologia”, como afirmam alguns. Aliás, essa é uma afirmação teológica, saibam as pessoas que dela fazem uso ou não. Estão indo para o inferno aqueles pelos quais Cristo derramou seu precioso sangue? Isso equivale a dizer que o sacrifício de Cristo não foi eficaz. Não podemos esquecer que todos aqueles pelos quais cada gota do Bendito sangue foi derramado, indubitavelmente, serão salvos, nenhum a mais ou a menos, pela pregação de palavra, nossa responsabilidade. O sangue expiatório do Cristo não escorreu por todos, mas apenas pela sua igreja: “Cuidai pois de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele comprou com seu próprio sangue” (Atos 20:28). Em plena harmonia com esse ensinamento, a Confissão de Fé de Westminster, interpretando as escrituras, afirma que “todas aqueles eleitos, antes da fundação do mundo, serão salvos e virão à Cristo e nenhum deles se perderá”. Portanto, esse argumento de “almas caminhando para o inferno”, definitivamente, não deve ser nossa motivação para pregar o evangelho e não será nossa pregação que mudará essa preordenação divina.
Todos aqueles que Deus predestinou para a vida, e só esses, é ele servido, no tempo por ele determinado e aceito, chamar eficazmente pela sua palavra e pelo seu Espírito, tirando-os por Jesus Cristo daquele estado de pecado e morte em que estão por natureza, e transpondo-os para a graça e salvação.
A nossa (única) motivação para pregar o evangelho deve ser outra. Devemos pregar porque Cristo mandou pregar e pronto. Devemos pregar por obediência aos mandamentos do senhor, sabendo que esse foi o meio pelo qual Deus decidiu chamar eficazmente seus eleitos.
Pregar o evangelho é um imperativo de Cristo. Assim aprendemos, conforme registrado em Mateus 28:19-20: ”Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado”.
Nesse texto, devemos observar que a ordem para “ensinar todas as coisas que Cristo ordenou” é tão imperativa quanto a ordem para evangelizar. É “Ide” também. Esse, queridos, deve ser nosso grande desafio.
Queremos crescer, podemos crescer; mas não como muitas igrejas estão crescendo. Podemos e queremos crescer como Igreja Presbiteriana do Brasil. Uma igreja que tem a bíblia como Única Regra de Fé e Prática; uma igreja que põe o homem no seu lugar de criatura decaída e que reconhece a total Soberania de Deus.
Caros irmãos, não nos interessa crescer de qualquer forma, com uns membros atrofiados e outros desproporcionalmente alongados, como muitas igrejas “mutantes” estão crescendo. Queremos crescer o crescimento que provém de Deus:
E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres,com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor (Efésios 4: 11-16).