DEFININDO ÉTICA
Do grego Ethos (com o som de “É”, aberto) significa, originalmente, morada, habitat dos seres vivos; lugar onde ele se sente acolhido e abrigado. A morada vista metaforicamente indica que a partir do Ethos, o espaço do mundo torna-se “habitável” para o homem, denotando ao atendimento de suas NECESSIDADES ELEMENTARES. Ou seja, aquelas necessidades que são iguais para todos (sem exceção), não importando a localização geográfica e nem mesmo a etnia. A necessidade de sobrevivência, por exemplo, é uma necessidade elementar de todo ser humano, sem exceção.
A Ética não se preocupa com questões circunstanciais; a Ética é universal, no sentido de ser ÚNICA e A MESMA para todos, em qualquer parte do planeta. Isso só é possível porque ela trabalha “apenas” com elementos que sejam comuns a todos os homens. Por ser universal é também invariante (não muda de lugar para lugar, nem de época para época). É crítica, por ser essencialmente ramo ou objeto de estudo da filosofia (outras áreas de conhecimento, a exemplo da psicologia, antropologia, sociologia etc, na tentativa de definir a Ética, a partir de seus próprios pressupostos, estarão incorrendo em grave risco de não defini-la corretamente).
A ética não estabelece normas, antes, pelo contrário, já se depara com ela, cabendo-lhe o papel de criticá-la para validar ou não seus fundamentos, recomendando, inclusive, o não cumprimento caso seu fundamento seja, de alguma forma, prejudicial a alguma necessidade elementar do ser humano. É essencialmente especulativa e não pode ser engessada em uma lei, norma ou código. Ela precisa, à semelhança da filosofia, estar livre para questionar, criticar, propor cumprir, propor não cumprir, dependendo da situação. Por exemplo: sabemos que a “tortura” é errada em qualquer parte do planeta, pois atenta contra a necessidade elementar de integridade física do homem (que é a mesma em qualquer parte do planeta). Matar inocentes também é igualmente errado. Considerando isso, poderíamos então criar “a lei da ética”? A “norma da Ética”? Ou ainda o “código de Ética”? Algo do tipo “é errado torturar e é errado matar inocentes”? A resposta é não. Há determinadas situações em que a ética vai dizer: “torture e mate inocentes”.
O filme “ameaça terrorista”, estrelado por Samuel L. Jackson, nos ajudará a entender melhor essa questão. Um perigoso terrorista arma quatro bombas nucleares em importantes cidades dos EUA. Apesar de preso, ele não dá as coordenadas dos explosivos. É aí que entra em cena o investigador H (Samuel L. Jackson). Para obter essas informações ele tortura o terrorista, sem sucesso. Em seguida mata a sua esposa diante de seus olhos. Como ainda se nega a contar a localização das bombas, o investigador “H” manda trazer seus dois filhos e ameaça matá-los. O terrorista resolve confessar a localização de três das quatro bombas. Sabedor da existência da quarta bomba, o investigador “H” prossegue com sua idéia de matar os filhos do terrorista. Sua chefe, porém, não permite que ele continue. O filme termina supondo que a quarta bomba explodiu dizimando a cidade de New York. Agora responda: quem estava agindo de acordo com a Ética? O torturador e assassino da mulher inocente ou a sua chefe que não permitiu matar os filhos do terrorista? Nesse caso, o torturador e assassino da mulher inocente estava sendo Ético, porque ele estava visando “defender o preceito basilar da vida de milhares de pessoas”; ele estava, em última análise, tentando “proteger a vida”, ainda que tenha utilizado recursos que, normalmente, a Ética abominaria. Nesse caso, porém, foi para um bem maior. Logo, diria a Ética: “pode torturar, pode matar inocentes”. Perceba que o valor de milhares de vidas deverá se sobrepor ao valor de duas ou três vidas, por mais cruel que possa parecer. Essa análise não seria possível com a Ética engessada em uma lei, porque é Moral cumprir a Lei (sempre) é Ético questioná-la e não cumpri-la, se seu fundamento não beneficiar as necessidades elementares dos seres humanos.
DEFININDO MORAL
Palavra grega Ethos (pronunciada com um som de “Ê”), pode ser traduzida por costume. Serviu de base para a tradução latina “morales”, de onde deriva nossa palavra Moral. Referindo-se aos costumes dos povos, conjunto de hábitos, de regras, normas, leis que regulam a conduta de um povo, nas diversas épocas, é mais abrangente, divergente e variante de cultura para cultura e de época para época. É correto afirmar que tudo que diga respeito a Leis, Códigos e Normas está diretamente ligado à moral e não à Ética.
DEFININDO A NOMECLATURA ADEQUADA PARA OS CÓDIGOS PROFISSIONAIS
Como vimos, por força conceitual, é equivocado utilizar-se da terminologia “Código de Ética da profissão A ou B” para os manuais de condutas das diversas profissões, uma vez que tratam de NORMAS, de LEIS, de CÓDIGOS fixos. Isso os ligam diretamente, por força conceitual, repetimos, à MORAL e não à ÉTICA.
A utilização equivocada dessa terminologia tem provocado a ilusão de que uma PESSOA NÃO ÉTICA, ao exercer uma atividade profissional, poderá se transformar em um PROFISSIONAL ÉTICO. Não pode. Ela pode até ser uma pessoa que segue fielmente a MORAL (lei, normas, códigos) de sua profissão, mas daí a dizer que é uma pessoa Ética é outra história. Uma pessoa pode ser Moral e “não Ética” ao mesmo tempo? Pode sim. Podemos citar o caso do infanticídio das tribos brasileiras. A MORAL (leis, normas) dessas tribos exige que se matem todas as crianças que nascem com algum tipo de problema físico. O índio que pratica o infanticídio está sendo MORAL, porque está cumprindo as normas de condutas estabelecidas pela sua sociedade, mas não está sendo ÉTICO porque está atentando contra uma necessidade elementar do ser humano: o direito à vida. Caso ele não pratique o infanticídio a situação se reverte. Ele passa a ser ÉTICO e I-MORAL (por estar descumprindo as normas, leis, a moral de sua sociedade), ao mesmo tempo.
E se o código da profissão estiver em sintonia com os preceitos Éticos? Geralmente estão. Contudo, como esses preceitos estão engessados e se transformaram em leis, em normas, em códigos, que por definição não podem ser questionados, criticados e não cumpridos, tornam-se, imediatamente em MORAL, passivos, inclusive, de novos questionamentos pela ÉTICA, dependendo da situação.
Isso quer dizer que o “profissional” não pode ser Ético? Exatamente isso! Pelo menos em certo sentido. Não existe uma profissão capaz de tornar alguém que não é Ético em Ético. Não existe “ÉTICA COMERCIAL” ou “ÉTICA PROFISSIONAL”. A Ética não pode ser PARTICULARIZADA, pois ela é ÚNICA E UNIVERSAL. Também, como já dissemos, não pode ser transformada em códigos fixos. Portanto, não devemos falar de “ÉTICA PROFISSIONAL” ou mesmo de um “PROFISSIONAL ÉTICO”, e, sim, de UMA PESSOA ÉTICA QUE ESTÁ EXERCENDO UMA ATIVIDADE PROFISSIONAL.
Uma pessoa que é Ética será Ética em sua igreja, em sua comunidade, em seu clube e também na atividade profissional que está exercendo. Por ser uma pessoa Ética, seus preceitos serão, naturalmente, também estendidos à organização em que está gestando ou trabalhando. Portanto, quando se fala, equivocadamente, em “CÓDIGO DE ÉTICA” de uma determinada profissão, na verdade está se falando de “CÓDIGO DE MORAL” (leis, normas) e não de ÉTICA (filosofia, questionamento, crítica, especulação), do que se concluí que o correto seria chamar esses manuais de cada profissão de CÓDIGO DE CONDUTA MORAL DA PROFISSÃO.
O vídeo “Os seis pilares da Ética”, além de muitas outras abordagens importantes também trata do que acabamos de tratar acima. Não deixe de assistir.
PESSOA ÉTICA X PESSOA NÃO ÉTICA: O EXERCÍCIO DA ATIVIDADE PROFISSIONAL
Um exemplo clássico desse binômio PESSOA ÉTICA X PESSOA NÃO ÉTICA, dentro do contexto de ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL é o famoso filme “O diabo veste Prada”. De forma brilhante o filme apresenta dois “estilos” de vida completamente distintos, trabalhando lado a lado: uma “PESSOA ÉTICA” (Andrea Sachs, personagem de Anne Hathaway) e uma “PESSOA NÃO ÉTICA” (Miranda Priestly, personagem de Meryl Streep). O filme é rico em detalhes cujo objetivo é pontuar a diferença entre essas duas formas de viver. Na cena abaixo (figura 1) repetida em vários momentos do filme, Miranda joga, desrespeitosamente, seu casaco em cima de sua “empregada”. O filme intenta demonstrar como as “atitudes naturais” de uma pessoa “NÃO ÉTICA” são estendidas também ao ambiente de trabalho, influenciando, inclusive, a forma de gestão de uma organização, sendo esta apenas um reflexo natural, um prolongamento da vida de uma pessoa “NÃO ÉTICA”. Humilhação, traição, tortura psicológica e muitas outras atitudes são facilmente percebidas na “vida normal” dessa personagem. Ou seja, seu estilo “natural de vida”, sua opção pela FALTA DE ÉTICA, ou ainda de quebra desses preceitos é reproduzido em todas as situações de sua vida (inclusive familiar e de relacionamentos sociais) e não poderia ser diferente na ATIVIDADE PROFISSIONAL
Diferentemente de Miranda, Andrea Sachs (figura 2), com pequenas atitudes de respeito e solidariedade aos outros, representa a pessoa ÉTICA da história. O filme também intenta demonstrar que, igualmente, as “atitudes naturais” de uma pessoa “ÉTICA” são estendidas ao ambiente de trabalho, influenciando, inclusive, a forma de gestão e de trato com os colegas de trabalho, sendo esse estilo de relacionamento apenas um reflexo natural, um prolongamento da vida de uma pessoa “ÉTICA”.
MERCADO DE TRABALHO PARA PESSOAS ÉTICAS
É bem verdade que posturas Éticas nem sempre garantirão a certeza de bons negócios ou ainda de bons lucros, pelo menos a curto prazo. Uma das maiores dificuldades que as pessoas ÉTICAS enfrentarão no mundo empresarial é, certamente, a concorrência desleal. Como se tornar competitivo no mercado se seus concorrentes sempre jogam sujo? Se seus concorrentes sempre burlam licitações e se utilizam de todos os meios ilícitos para fechar uma venda e aumentar seus lucros? Jogar com as mesmas armas? Essa opção, certamente, não é compatível com uma pessoa que pauta sua vida sob os preceitos Éticos. Devemos lembrar sempre da metáfora empregada no vídeo acima “Os seis pilares da Ética”: O PROBLEMA DA CORRIDA DE RATOS É QUE MESMO O QUE VENCE CONTINUA SENDO UM RATO.
Não é correto afirmar que “só se dá bem” no mundo dos negócios as pessoas que são desonestas e que quebram todos os preceitos da Ética e da Moral. Cada vez mais o mercado está interessado por pessoas que cultivem em suas vidas esses valores. Até mesmo o conceito de “competência” tem sido mudado em virtude dos valores Éticos. Não é mais considerado competente o indivíduo que apenas possui CONHECIMENTO, HABILIDADE e ATITUDE. Esses itens não são mais suficientes para classificar um profissional como competente. O mercado requer também, para considerar o profissional competente, que ele tenha VALORES e que também tenha uma boa atitude e preocupação com o ENTORNO, como é apresentado na reportagem da Revista Você SA, abaixo:
“Já diziam, enfáticos, nossos avós: “Quem não tem competência não se estabelece!”. Esse assunto ganhou status de método a partir dos estudos de David McClelland nos anos 70, e nas organizações adotou-se universalmente a fórmula do CHA (Conhecimento, Habilidade e Atitude), ou, como preferem alguns, Saber, Poder e Querer. Considerando que essa equação é um produto, se um dos três for nulo, o resultado final será competência zero. Mas o tempo passa e os conceitos vão sendo aprimorados. Na competência deste século, o CHA vira CHAVE. E a chave da competência ampliada é o acréscimo de duas letras, dois conceitos e duas preocupações. O “V” representa Valores. Em uma sociedade que se diz digna, preocupada com o social e responsável com o futuro, não temos como não incluir uma lista de valores na análise da qualidade dos resultados alcançados. De que adianta produzir sem sustentabilidade, competir sem ética e conquistar sem moral? Assim como atualmente dizemos que só será líder aquele que liderar para o bem e só será competente aquele que produzir sem ferir a ética, o interesse de todos. Um profissional competente sem valores deixa de ser competente. E o “E” da CHAVE significa Entorno, o ambiente onde a competência encontra as condições para ser exercida. Esse é o único elemento que está mais fora do que dentro do indivíduo. O cirurgião não opera sem o centro cirúrgico, sem a anestesia e o bisturi. O executivo precisa da estratégia, dos recursos, da equipe. Eis a grande responsabilidade das organizações: formar pessoas competentes e fornecer-lhes o cenário para que atuem. Essa visão ampliada de competência coloca ordem na casa do mundo moderno e abre espaço para a construção de um futuro em que os resultados não serão obtidos a qualquer custo. Só assim poderemos dizer aos nossos netos: “Quem não tem competência não se enobrece!”. De que adianta competir sem ética? Conforme: http://vocesa.abril.com.br/desenvolva-sua-carreira/materia/nova-competencia-497465.shtml.
A revista Você AS, de julho de 2000, ainda tratando do mesmo tema acima, demonstra como a falta de Ética pode ser prejudicial à empresa e ao próprio profissional, frente ao mercado; uma prova evidente de como os preceitos éticos ganham cada vez mais importância no mundo corporativo:
Não podemos ser inocentes e pensar que empresas são apenas entidades jurídicas. Empresas são formadas por pessoas e só existem por causa delas. Por trás de qualquer decisão, de qualquer erro ou imprudência estão seres de carne e osso. Por isso, quando falamos de empresa ética, estamos falando de pessoas éticas. [...]. Não são apenas funcionários e consumidores que recriminam políticas antiéticas nas empresas. Os investidores também costumam fugir delas. Pegam seu dinheiro e aplicam em outro lugar. Um exemplo disso é o episódio vivido recentemente pela Telefónica, a espanhola que comprou a Telesp, em São Paulo. Suas ações, na Espanha, caíram 5,5% em um dia, após denúncias de que seu presidente mundial, Juan Villalonga, teria usado informações privilegiadas em benefício próprio. Disponível em: http://www.centroatl.pt/edigest/edicoes2000/ed_set/ed71cef-vidap1.html.
Veja abaixo os dois vídeos do programa O Aprendiz 4, de Roberto Justos, que trata exatamente sobre a necessidade de PESSOAS ÉTICAS no mercado de trabalho. O apresentador do programa deixa clara como as empresas líderes do mercado tratam esse assunto:
Lembre-se: Sua atitude gerará, necessariamente, consequências. É sobre isso que trata o vídeo abaixo. Não deixe de assistir:
Caro professor.
ResponderExcluirSou um dos seus alunos da FADE e a algum tempo venho acompanhando seu blog.
Onde na maioria das vezes tenho o mesmo ponto de vista das questoes abordadas.
Fiz uma postagem(claro sem a mesma qualidade das suas) usando tanto no que foi aprendido em sala de aula quanto que vi em suas postagens ( a dos profetas é um bom exemplo).
se tiver tempo e disposicao gostaria que vc a visse no blog de um amigo:
http://eronore.blogspot.com/2010/12/religiao-nao-se-discute.html
e deixasse sua opiniao. Caso n desse grado de qualqer forma.
Vinha desenrolando bem. Aí erra em falar em pessoa com ética e sem ética? Não existe uma pessoa sem ética. Moral é diversa da ética. Ética não se preocupa com o bem ou mal. O ladrão é ético, pois segue uma ética própria.
ResponderExcluirRoger:
ResponderExcluirTalvez revisitar a definição de ética ajude. Se interessar, tem outra postagem aqui que trata da definição. Na minha opinião o ladrão, como vc disse, tem "código de moral" e não de ética, pelo simples motivo de ser um código.
Prezado professor, discordo! O ladrão, a princípio, ele segue o código de moral de que roubar é errado e punível. Ou seja, é ilegal e imoral. Mas ele coloca na balança como disse Cortella: devo, posso e quero e diz para si mesmo devo porque posso e quero porque posso. Ele não liga para um código de conduta. Mas obrigado por ter respondido.
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