A
problemática do tempo tem sido motivo de intensos debates em diversas épocas.
Como sabemos, essa questão traz inúmeras outras questões a serem resolvidas. Uma delas
é a de tentar sincronizar o tempo geral das Matemáticas e das Ciências em
relação ao tempo interno de cada indivíduo. Contudo, um dos maiores e mais
polêmicos dos problemas trazidos pela reflexão acerca do tempo é o que trata da transição de um tempo vivenciado em
vida para o além-vida-corpo: a eternidade. São muitas as tentativas de apreender esta espécie de negação do tempo
enquanto sucessão e ao mesmo tempo esse prolongamento de um presente que não
passa. Em seu livro “História da
Eternidade”, Jorge Luis Borges constata que a eternidade, assim como a conhecemos,
foi inaugurada por Irineu, muito embora, outros escritos pareçam apontá-la, às
vezes de forma tímida, outros de forma mais aproximada, como os de Platão, por
exemplo. Afirma o supracitado autor:
Pode-se
afirmar, com suficiente margem de erro, que “nossa” eternidade foi decretada
poucos depois da doença crônica intestinal que matou Marco Aurélio [...] essa
eternidade coercitiva foi muito mais um simples paramento sacerdotal ou um luxo
eclesiástico: foi uma resolução e foi uma arma: O verbo é engendrado pelo Pai,
o espírito Santo e gerado pelo Pai e pelo Verbo, os gnósticos costumavam
inferir duas inegáveis operações que o pai era anterior ao verbo, e os dois ao
Espírito. Essa inferência dissolvia a Trindade. Irineu explicou que o duplo
processo - geração do Filho pelo Pai, emissão do Espírito pelos dois - não
aconteceu no tempo, mas que esgota de uma só vez o passado, o presente e o
futuro [...] Assim foi promulgada a eternidade, antes apenas tolerada na sombra
de algum desautorizado texto platônico[...]. Desde que Irineu inaugurou a eternidade[1].
Apesar de
encontrarmos registros na história do pensamento e principalmente da Teologia,
a questão da eternidade, em linhas gerais, tem sido limitada à apreensão de todas as frações de tempo; não
sendo raro encontrarmos definições, em Dicionários Teológicos que simplesmente
se contentam em repetir algumas frases isoladas, retiradas dos escritos
hebraicos do Velho Testamento como: “um dia diante do Senhor é como mil anos”,
“Eu sou o que Sou”, “Eu sou o Alfa e o Omega, o princípio e o fim” entre outras
definições clássicas.
As
diversas abordagens da eternidade parecem nos dar a impressão que estamos
falando não de uma, mais de várias eternidades, isto é, de vários sentidos em
que pode ser aplicada ou examinada. Dentre essas variadas abordagens a
elaborada por Agostinho de Hipona é digna de destaque, como bem sugere Borges:
Examinemos uma eternidade
que é mais pobre que o mundo. Resta-nos ver como nossa igreja a adotou e lhes
confiou um caudal superior a tudo o que os anos transportam. O melhor documento
da primeira eternidade é o quinto livro das Enéades; o segundo, ou cristã, o
décimo segundo livro das confissões de Santo Agostinho[2].
Agostinho
foi conduzido a analisar a questão do tempo e, conseqüentemente, da eternidade,
a partir de três controvérsias: a primeira contra os maniqueus, que
ridicularizavam a criação de todas as coisas em “um determinado princípio”,
pondo em dúvida também a própria eternidade de Deus, pois se houve um princípio
que Deus resolveu “criar”, isto é, se houve mudança, em certo sentido, na
atitude de Deus, como poderia ser ele eterno já que é propriedade da eternidade
não mudar? :
Agostinho
é levado a teorizar sobre o tempo por conta da controvérsia com os maniqueus.
Sua teoria do tempo passa obrigatoriamente por esse prisma, pois é por conta
dessa controvérsia que ele desenvolve seus argumentos sobre a temática[3].
A segunda
controvérsia, ainda contra os maniqueus, tratou do problema do mal;
controvérsia essa que, em certo sentido, é uma espécie de desdobramento do
primeiro embate.
A
terceira controvérsia que levou Agostinho a teorizar sobre o tema, desta feita,
de forma mais especificamente em relação à eternidade, foi a controvérsia
contra os pelagianos. Esta controvérsia, como veremos, passa necessariamente
por questões sotereológicas já que a argumentação pelagiana apelava para uma
escolha feita por Deus, para salvar alguns, baseada no seu atributo da
presciência e, principalmente, na própria vontade livre do homem; que em certo
sentido, transfere a responsabilidade de escolha no homem e não mais em Deus;
diferentemente de Agostinho que rejeitava essa idéia e afirmava que Deus, deste a eternidade, havia
decretado escolher seus eleitos para a salvação de suas almas:
A
eternidade permaneceu como atributo da ilimitada mente de Deus, e sabe-se muito
bem que as gerações de teólogos tem trabalhado essa mente a sua criação e
semelhança. Nenhum estímulo tão vivo quanto o debate da predestinação.
Quatrocentos anos depois da paixão e morte de Cristo, o monge inglês Pelágio
incorreu no "escândalo" de pensar que os inocentes que morrem sem o batismo
alcançam a glória. Agostinho, bispo de Hipona, o refutou com indignação
aclamada por seus editores. Observou a heresia dessa doutrina: a negação de que
no homem Adão todos nós homens já
pecamos e perecemos, o esquecimento horrível de que essa morte se transmite de
pai para filho pela geração carnal – adiante que segundo a justiça todos nós
merecemos o fogo sem perdão, mas que Deus determina salvar alguns, segundo seu
arbítrio[4].
Veremos,
de forma sintetizada, acerca dessas três disputas pois cremos encontraremos as
bases da eternidade agostiniana; posteriormente nos deteremos mais
especificamente sobre a eternidade em relação a alma do homem, isto é, à
continuidade da atividade da alma após a morte do corpo: a imortalidade da
alma.
Obrigado pelas postagens de agostinho espero ler toda em breve, acabei de conhecer seu blog estou gostando muito, já adicionei aos favoritos :D Sou um aspirante ao ministério e seu blog já me edificou muito, peço a Deus, que te abençoe com seu blog para edificação de muitos santos do Senhor.
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