Como
vimos na postagem anterior, a afirmação de Luiz Gonzaga em sua lendária música “Apologia
ao jumento” é que o homem é mau. Provavelmente o Rei do Baião, como
já dissemos, não tinha noção das implicações teológicas de sua afirmação. Mas,
a partir dela, iremos desenvolver o tema acerca da condição do homem. Por que é
importante saber da condição do homem diante de Deus? Primeiro porque esse
assunto está diretamente ligado à sua própria salvação. Segundo porque só há uma forma de receitar o remédio correto:
através de um correto diagnóstico da doença. Ou seja, se o homem é bom, o remédio será um; provavelmente bem
fraco ou até mesmo não haja necessidade de sua prescrição. Se, ao contrário, o
homem é realmente mau, como afirma Gonzaga, o remédio prescrito será bem mais
poderoso; talvez o mais poderoso de todos.
Devemos
nos certificar sobre o estado do homem no que diz respeito ao seu direito de
escolha, à liberdade que supostamente tem, ao seu Livre-arbítrio. Para tanto
iremos abordar o primeiro ponto da doutrina calvinista: A depravação
total do homem, contudo, para fins analíticos, vamos transcrever tanto o
primeiro ponto do calvinismo como também o primeiro ponto do Arminianismo,
refutador principal da doutrina de Calvinista. Começaremos com ele:
ARMINIANISMO
O
homem é dotado de vontade livre. Armínius acreditava que a queda do homem não foi total
e sustentou que, no homem, restou bem suficiente, capaz de habilitá-lo a querer
aceitar Cristo como Salvador.
CALVINISMO
O
homem não regenerado é totalmente incapaz de exercer sua própria vontade
livremente para salvar-se, sendo absolutamente escravo do pecado e, dependendo,
portanto, da intervenção de Deus,
que vivifica o homem (regeneração) antes
que este possa crer em Cristo.
A
DEPRAVAÇÃO TOTAL DO HOMEM
a)
Situação
do homem antes da queda, conforme a interpretação dos teólogos da Assembleia de Westminster:
Deus
dotou o homem de liberdade natural, e não era obrigado a fazer nem o bem nem o mal (Tiago
1:14; Deut. 30:19; João 5:40; Mat. 17:12; At.7:51; Tiago 4:7). O homem,
em seu estado de inocência, tinha a liberdade e o poder de querer e fazer
aquilo que é bom e agradável a Deus, mas mudavelmente, de sorte que pudesse
decair dessa liberdade e poder (Ec. 7:29; Col. 3: 10;
Gen. 1:26 e 2:16-17 e 3:6),
conforme Confissão de Fé de Westminster, Capítulo IX.I,II.
b)
Situação
do homem depois da queda, conforme a
interpretação dos teólogos da Assembleia
de Westminster:
O
homem, caindo em um estado de pecado, perdeu totalmente todo o poder de vontade
quanto a qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação, de sorte que um
homem natural, inteiramente adverso a esse bem e morto no pecado, é incapaz de,
pelo seu pr6prio poder, converter-se ou mesmo preparar-se para isso (Rom 5:6 e 8:7-8; João 15:5; Rom 3:9-10,12,23; Ef.2:1, 5;
Col. 2:13; João 6:44, 65; I Cor. 2:14; Tito 3:3-5.). Quando Deus
converte um pecador e o transfere para o estado de graça, ele o liberta da sua
natural escravidão ao pecado e, somente pela sua graça, o habilita a querer
e fazer com toda a liberdade o que é espiritualmente bom, mas isso de tal modo
que, por causa da corrupção, ainda nele existente, o pecador não faz o bem
perfeitamente, nem deseja somente o que é bom, mas também o que é mau. (Col 1:13; João 8:34, 36; Fil 2:13; Rom 6:18,22; Gal 5:17;
Rom 7:15, 21-23; I João 1:8, 10) , conforme Confissão de Fé de
Westminster, Capítulo IX.III,IV.
Como
vimos acima, o homem, antes da queda, possuía uma natureza boa. Depois da queda
ela é totalmente corrompida pelo pecado, ficando o homem completamente averso às
coisas de Deus, como se, de fato, estivera morto espiritualmente, sendo assim, completamente incapaz de, por ele
mesmo, buscar a Deus ou mesmo desenvolver bondade tal que o habilite, por
merecimento, a um retorno à comunhão com Deus.
O homem recebeu uma ameaça solene de Deus: “De toda árvore
do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do
mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente
morrerás.” (Gêneses 2:16,17). Satanás,
porém, mentindo, disso o contrário: “É certo que não morrereis” (Gêneses 3:4). Acreditar que a queda não trouxe morte espiritual
ao homem, isto é, a depravação total de sua natureza, como afirmam Agostinho,
Lutero, Calvino e até Luiz Gonzaga, é dar ouvido a voz de Satanás e desprezar a
ameaça solene de Deus.
O
homem é tão degradado quanto pode ser. O
homem está além de toda capacidade de se auto-ajudar, como diz Paulo em (Ef 2:2-3). Ponto também defendido por Lutero, Calvino
e Knok. O espírito do homem está morto.
O
homem em seu estado natural é incapaz de fazer qualquer coisa ou desfazê-la
para agradar a Deus, no que se refere à salvação (Gn
6:5).
Do
ponto de vista de Deus, todos os homens (não regenerados) estão sob condenação,
porque amou o pecado e este o impede de dar glória a Deus. E para os que
afirmam que existe no coração do homem o bem divino, veja as afirmações da bíblia
nestes textos (Rm 3:10-11; Jo 3:19).
O
homem é totalmente depravado, no sentido de que tudo, na sua natureza, é
rebelião contra Deus (Is 64:6). A depravação
total significa que o homem, por sua livre vontade, nunca se decidirá por
Cristo (Jo 5:40,42). E por que Jesus diz isto?
Paulo explica a Timótio (II Tm 2:26).
A
depravação total significa que o homem natural é incapaz de discernir a verdade
de Deus (I Co 2:14).
Só
pode ver ou discernir as coisas de Deus quem é regenerado pelo Espírito Santo (Jo 3:3-4).
O
homem natural não pode ver a “luz”, porque nasceu espiritualmente morto (Sl 51:5). A fé só vem depois do dom ou
dádiva da vida (espiritual), e tanto
a fé como a vida é Deus quem os dá (Ef 2:1,4,5).
O
homem não é salvo por algum ato de sua livre vontade. Ele é salvo pela graça (Ef 2:8-9).
As
escrituras afirmam que o homem é escavo do pecado, está espiritualmente morto,
que amou mais as trevas do que a luz, e que só pode ouvir a voz de satanás, a
menos que Deus lhe dê ouvidos para ouvir e olhos para ver (Pv 20:12; Jo 8:43-44, At 16:14).
Depravação
total significa que o homem não
regenerado está enredado no pecado, sem esperança e atado a satanás com laços
da morte espiritual, e por isso desinteressado pelas coisas do criador, até o
tempo daqueles laços serem quebrados, da morte ser substituída pela vida
eterna, coisa que só a obra de Deus pode realizar. Veja o que Paulo diz aos eleitos
(Ef 2:11-13).
Assim
como Lázaro jamais teria ouvido a voz de Jesus nem jamais teria “saído do
túmulo”, sem que primeiro Jesus lhe tivesse dado vida, assim todos os
homens, mortos em seus delitos e pecados, devem primeiro receber a vida de
Deus (regeneração), antes de poder
querer a vida, por sua “livre vontade” (Jo 10:26-28).
A
doutrina da Depravação Total afirma que a única esperança do “morto pelo
pecado”, do homem perdido, está na eleição (Jo 8:47).