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quarta-feira, 28 de março de 2012

A TRANSIÇÃO DO TEMPO PARA A ETERNIDADE COMO UM PRESSUPOSTO MÍSTICO EM AGOSTINHO DE HIPONA - PARTE 1


O problema do tempo tem sido motivo de intensos debates em diversas épocas, trazendo inúmeras questões a serem resolvidas. Uma delas é a de tentar sincronizar o tempo geral das matemáticas e das ciências com o tempo interno do indivíduo. Esta é, de fato, uma das grandes dificuldades da reflexão sobre o tempo. Contudo, um dos maiores e mais polêmicos problemas trazidos por essa reflexão é o que trata da transição de um tempo vivenciado para a eternidade.

São muitas as tentativas de apreender essa espécie de “negação do tempo”, desse “prolongamento de um presente que não passa”.

Teilhard de Chardin, por exemplo, refletindo sobre essa transição dá luz a uma teoria surpreendente:

O tempo é a duração dos acontecimentos ou fenômenos. Por isso o conceito de tempo evoca, necessariamente, o conceito de movimento, que é a sua única razão de ser. Para nossas observações, tempo e movimento são dois termos perfeitamente paralelos. Sem tempo não há movimento e sem movimento não há tempo. A duração do movimento é a própria essência do tempo [...]. O tempo somente deixará de existir com a completa cessação universal do movimento e dos fenômenos. Isso unicamente é possível pelo repouso absoluto da matéria, elevada até o último limite de sua realização, pela atualização de toda a sua potência. Tal situação coincide com a superação definitiva do tempo, transformado em natureza eterna [...]. A limitação do tempo não é somente um postulado da razão, mas é demonstrada pelo própria ciência física, que já possui condições de medir as durações finitas do mundo físico em movimento e transformação. Se o tempo do mundo nunca terminasse, nunca se tornaria eterno, pois somente terminado, ele pode adquirir um sentido de eternidade. A lei da entropia e o enrolamento cósmico vêm demonstrar, pela ciência, a necessidade irrevogável da completa cessação do tempo, pelo total esgotamento das energias físicas que produzem o movimento”[1].

Na história do pensamento encontramos definições muito variadas para o termo “eternidade”. Não é raro encontrarmos também definições desse termo sintetizadas em pequenas frases ou expressões, geralmente baseadas em escritos do Velho e do Novo Testamento, como por exemplo: “Um dia diante do Senhor é como mil anos”, “Eu sou o que Sou”, “Eu sou o Alfa e o Omega, o princípio e o fim”, entre outras definições clássicas. A eternidade, apesar de ser um tema de caráter teológico, possui uma dimensão filosófica[2], de forma que, desde a antiguidade, tem sido pensada por grandes nomes da história da filosofia.

As diversas abordagens da eternidade nos parecem dar a impressão de que estamos falando de “várias eternidades”, isto é, de vários sentidos em que pode ser aplicada ou examinada. Dentre essas variadas abordagens, a elaborada por Agostinho de Hipona é digna de destaque, como bem sugere Borges: “O melhor documento da primeira eternidade é o quinto livro das Enéades; o segundo, ou cristã, o décimo segundo livro das Confissões de Santo Agostinho[3]”.

A Eternidade em Agostinho


Agostinho foi conduzido a analisar a questão do tempo e, conseqüentemente, da eternidade, a partir de algumas controvérsias, principalmente: 


1) com o Maniqueísmo 
2) com Pelágio 


Como veremos mais adiante. Aguarde a continuação na próxima postagem.

[1] POERSCH, J.L. Evolução e Antropologia no espaço e no tempo: síntese da cosmovisão de Teilhard de Chardin. São Paulo: Herder, 1972. p. 21
[2] Sobre a abordagem do termo “eternidade” na filosofia, assim informa ABBAGNANO, 2000, p. 378: “Esse termo tem dois significados fundamentais: 1º duração indefinida no tempo; 2º intemporalidade como contemporaneidade. A filosofia grega conheceu ambos os significados. Heráclito expressou o primeiro ao afirmar que o mundo “foi desde sempre, é e será fogo vivo que se acende a intervalos e a intervalos se apaga” (FR.3º, Diels). Platão contrapôs explicitamente os dois significados: “Da substância eterna dizemos erroneamente que era, que é e que será, mas na verdade só lhe cabe o é, ao passo que o era e o será devem ser predicados apenas da geração que procede no tempo” (TIM. 37e). Aristóteles utilizou ambos os conceitos [...] Plotino repete a concepção de Parmênides e de Platão: eterno é o que não era nem será, mas apenas é. A duração, porém, é peculiar às coisas que estão sujeitas ao momento local e para o resto são imutáveis, como ocorre com o céu, que é, por isso, algo de intermediário entre a eternidade e o tempo. Esse conceito também foi adotado pelo racionalismo moderno. Spinoza identifica a eternidade como a existência da substância, porque implícita em sua essência e, portanto, necessária [...] Leibniz afirma, contra Locke, a precedência de uma “idéia do absoluto”, que serviria de fundamento à noção de eternidade [...]. Toda a filosofia hegeliana é concebida do ponto de vista da eternidade [...]. “Intemporalidade” e “presente eterno” são as expressões mais repetidas também na filosofia contemporânea”.
[3] BORGES, 1991, p. 21.

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