Por
fim, a REFORMA PROTESTANTE que gerou legados mais estruturantes para a POLÍTICA
e para o mundo Ocidental: a INGLESA.
Diferentemente
do que aconteceu na Alemanha, na Inglaterra, talvez, a REFORMA não tenha
ocorrido pelos mesmos motivos nobres de Lutero, Calvino e outros Reformadores,
que almejavam trazer a igreja de volta às Escrituras.
Basta
dizer que quem empreendeu a REFORMA na Inglaterra foi o próprio Rei Henrique
VIII. Portanto, ELEMENTO POLÍTICO presente em intensidade máxima. Ele era
católico e assim continuou, pelo menos em suas crenças, até o final de sua vida,
conforme muitos acreditam. Então, porque gestou a REFORMA na Inglaterra?
Basicamente por dois motivos:
a) Ele
soube que, como consequência natural, os príncipes da Alemanha que apoiaram
Lutero acabaram ficando com os bens da igreja. “Henry se encontrava cada vez mais desprovido de recursos financeiros, e
as propriedades da igreja pareciam uma presa convidativa” (CHURCHILL, 2009, p.159);
b)
O segundo motivo:
ele era casado com a princesa Catarina de Aragão, uma de suas seis esposas.
Conheceu Anne Boleyn e queria casar-se com ela. Então, “juntos, Henry e Anne
trataram de enviar um embaixador real especial à presença do Papa Clemente VII
[...], a fim de obter não somente a anulação do casamento do Rei, mas a
autorização para ele se casar de novo” (Ibid.,
p.152). Mas, “a recusa seguiu-se” (Ibid.). Henrique VIII foi,
finalmente, “excomungado e, teoricamente, destituído do trono pelo Papa” (Ibid., p.155). Pronto! “A ruptura entre
a Inglaterra e Roma estava completa” (Ibid.,
p.154), em 1534, portanto, ainda século XVI. A partir daqui a igreja oficial da
Inglaterra passa a ser a IGREJA ANGLICANA, tendo preservado muita coisa do
catolicismo romano.
Martin
LLoy-Jones chega a dizer que a Reforma da Inglaterra parou entre “Roma e
Genebra” (LLOYD-JONES, 2016, p.181). Isso
gerou DESCONFORTO em muitos líderes religiosos ligados à nova igreja da
Inglaterra. Posteriormente eles foram chamados de PURITANOS: buscavam UMA
REFORMA COMPLETA na igreja da Inglaterra.
Já no tempo de Henrique VIII um Puritano lhe deu muito trabalho: o REFORMADOR
William Tyndalle (1484-1536), contemporâneo de Lutero, considerado o PAI DA LÍNGUA INGLESA MODERNA. Assim como Lutero, ele enfrentou o clero Anglicano e
traduziu a bíblia para o Inglês.
Por muitos anos, pastores e líderes anglicanos-puritanos
tentaram COMPLETAR a Reforma na igreja da Inglaterra. Sempre FRACASSARAM porque
era uma IGREJA ESTATAL e quem mandava era o rei. Somente DERRUBANDO o Rei e a
própria monarquia seria possível implementar a REFORMA NA IGREJA.
Mas, como se insurgir contra o rei sem QUEBRAR O
QUINTO MANDAMENTO?
Lutero e Knox já haviam elaborado, de alguma
forma, esboços de uma Teria da Resistência. A ideia de "sacerdócio universal dos crente", trazida por Lutero, de alguma forma, acabou por ser aplicada, sem as devidas adaptações, à política, por Thomas Muntzer e acabou por gerar a revolução dos camponeses. Lutero, por óbvio, não aprovou tal revolução, embora, indiretamente, de alguma forma, tenha contribuído com ela. Já Knox ensinava que qualquer crente poderia se rebelar contra o Magistrado Civil que tivesse se transformado em um déspota.
Mas, foi Calvino quem elaborou uma
verdadeira e completa TEORIA DA RESISTÊNCIA, baseado em Atos 5:29 e outros textos, segunda
a qual SOMENTE UM MAGISTRADO CIVIL poderia se insurgir contra outro MAGISTRADO
CIVIL. Essa parece ter sido a medida mais adequada para uma Teoria da Resistência equilibrada.
Os puritanos entenderam, então, que a única
forma de efetivamente REFORMAR a igreja era entrar para a POLÍTICA. O
PARLAMENTO INGLÊS, então foi INUNDADO de Puritanos. Eles, então, começaram sua
luta em duas frentes: CONTRA A MONARQUIA e CONTRA O CLERO ANGLICANO, pois ambos
agiam como verdadeiros déspotas.
Criaram um EXÉRCITO para o PARLAMENTO, cujo
líder era o PURITANO OLIVER CROMWELL, tendo o puritano Baxter como capelão.
Guerrearam contra o Rei (REVOLUÇÃO PURITANA DE 1640), já século XVII, julgaram
e prenderam seus principais ministros e sacerdotes, prenderam o Rei e por fim o DECAPITARAM, EM 1649. Quem presidiu o julgamento do principal ministro do Rei, inclusive, o
arcebispo LAUD, foi John Pym, um convicto presbiteriano e um dos mais
importantes líderes do Parlamento Inglês, tendo também papel importante no
julgamento do Rei.
A Inglaterra, então, foi governada por cerca de 10 anos
(1649-1660), pelos Puritanos, No ÚNICO PERÍODO EM QUE A INGLATERRA FOI UMA
REPÚBLICA. Nesse período FORMULARAM A CONFISSÃO DE FÉ E OS CATECISMOS DE
WESTMINSTER, ALÉM DE UM DIRETÓRIO DE CULTO E UMA MANUAL DE GOVERNO.
Implantaram um novíssimo REGIME DE GOVERNO CIVIL, nunca visto antes, baseado
no SISTEMA DE GOVERNO ECLESIÁSTICO PRESBITERIANO. Ou seja, transformaram a
igreja da Inglaterra em Presbiteriana e ainda por cima MIGRARAM O REGIME DE
GOVERNO DA IGREJA para a sociedade civil e assim nasceu A DEMOCRACIA MODERNA OU
REPRESENTATIVA.