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quarta-feira, 1 de novembro de 2023

A REFORMA PROTESTANTE NA ALEMANHA E A POLÍTICA - 2/6

a)   Lutero, um importante Doutor e professor de Teologia da Universidade de Witemberg, CONTESTOU O PODER PAPAL e atraiu sobre si grande perseguição. Antes dele, alguns também haviam se insurgido contra os desmandos do Clero, da Sé Romana. Todos foram devidamente silenciados e até mortos, a exemplo do padre John Huss, no século XV, queimado vivo em Constança, tendo sido violado seu salvo-conduto.

Em 1517 ele fixou suas 95 TESES que denunciavam os desvios da igreja, dentre eles a venda de indulgência que, em última instância, era a venda de perdão, assim como muitos outros absurdos. Essa atitude pode ser reconhecida como O MARCO ZERO da Reforma Protestante, sem prejuízo do trabalho dos chamados Pré-Reformadores;

Em 1520, Lutero recebe a bula ¨Exsurge domine¨, que solicitava “caridosamente” para que Lutero abjurasse, no prazo de 60 dias, de suas doutrinas contra a Igreja Católica Apostólica Romana. Lutero queimou a bula papal em praça pública, juntamente com livros de Direito Canônico. Esse ato representa a RUPTURA FORMAL com a igreja romana;

Em 1521, Lutero é excomungado por meio de uma bula papal;

Ainda em 1521, o Clero da igreja e o Imperador Carlos V (ELEMENTO POLÍTICO) se reúnem num episódio que ficou conhecido como Dieta de Worms. Robert Nichols, em sua História da igreja Cristã, diz que “a bula, para ter efeito, dependia do poder civil para levar Lutero a morte” (NICHOLS, 2000, p.161). A expectativa e o objetivo era o de fazer Lutero se retratar dos seus ensinos. Ele tinha duas opções: pedir perdão ao Clero por tudo que ensinou contra os ensinamentos da igreja roamana ou ser preso e, possivelmente, morto. Tendo sido ordenado que se retratasse Lutero respondeu:

 

É impossível retratar-me, a não ser que me provem que estou laborando um erro, pelo testemunho das Escrituras ou por uma razão evidente; não posso confiar nas decisões dos concílios e dos papas, pois é evidente que eles não somente têm errado, mas se têm contradito uns aos outros. Minha consciência está alicerçada na Palavra de Deus, e não é seguro nem honesto agir-se contra a consciência de alguém. Assim Deus me ajude. Amém (NICHOLS, 2000, p.162).

E, aqui, cabe uma pergunta: porque Lutero não foi PRESO, nem MORTO? Por causa da POLÍTICA.

Robert Nichols diz que depois da negativa de retratação de Lutero “a Dieta dissolveu-se em meio a grande confusão” (Ibid.). E que, enquanto os Espanhóis gritavam contra Lutero: “à fogueira com ele!” (Ibid.), os chamados PRÍNCIPES ELEITORES, da Alemanha (ELEMENTO POLÍTICO): “dele se acercaram; e quando saíram do auditório, todos juntos e Lutero no meio deles, empunharam suas armas e levantaram as mãos acima da cabeça ao modo como costumava fazer um cavaleiro alemão quando derrubava seu antagonista num torneio (Ibid.)

Então, notem: sem esse apoio POLÍTICO Lutero seria preso e morto. Portanto, não seria exagero afirmar: SEM POLÍTICA, SEM REFORMA.

domingo, 1 de novembro de 2009

O REFORMADOR AGOSTINHO DE HIPONA E SEUS DISCÍPULOS DO SÉCULO XVI

O Rev.José Roberto, em seu artigo “31 de Outubro: dia da Reforma ou do Hallowenn?”, disponível em www.historiaedebate.blogspot.com, observa de forma muito feliz a injustiça cometida contra os chamados pré-Reformadores. Diz ele: “Não se pode falar da Reforma sem a ligar, inseparavelmente à pessoa do reformador Martinho Lutero. Todavia uma injustiça tem sido cometida e repetida: a falta de consideração para com aqueles que são denominados de pré-reformadores. Pouco são citados e, conseqüentemente, são pouco conhecidos [..] Jhon Wycliff (1328-84). John Huss (1373-1415).

Concordamos plenamente. Se pudéssemos embarcar numa espécie de máquina do tempo e levássemos conosco a imprensa para fazer a cobertura da Reforma Protestante e também convidássemos a todos os pré-reformadores para se fazerem presentes e também a Agostinho, reunindo todos no século XVI, no dia 01/11/1517 – um dia depois da Reforma – para quem a totalidade dos microfones estariam direcionados? Para Lutero, claro. Depois da coletiva de Lutero, a Rede Globo, certamente, faria uma entrevista exclusiva com Calvino, a Band e SBT entrevistariam Wycliff e a Rede TV Huss, ressaltando suas respectivas contribuições para a Reforma. Agostinho, coitado, talvez fosse, rapidamente, entrevistado pelo canal 22, por um repórter de terceira categoria e que o entrevistaria de olho na “máquina do tempo”, para não perder o vôo de volta ao século XXI. A prova disso é que, apesar de ter o devido reconhecimento pelo conjunto de sua obra, não é nada comum o nome de Agostinho figurar em uma série de Palestras sobre a Reforma Protestante.

Isso, de certa forma, pode ser justificado pelo fato de Agostinho estar separado da chamada “Reforma Protestante do Século XVI” por, nada mais nada menos, que 12 séculos. Se Wycliff e Huss, que viveram nos séculos XIV E XV, respectivamente, recebem, em relação à Reforma, apenas uma leve referência como “pré-reformadores”, quanto mais Agostinho que viveu no século IV?

Penso que não devemos entender a “Reforma da Igreja” como sendo um evento pontual do século XVI. “Ecclesia Reformata Et Semper Reformanda Est”! Significa que todas as vezes que a Igreja do Senhor começa a se desviar das Escrituras e alguém luta contra isso; esse, certamente, é um “Reformador”. Nesse sentido, Moisés foi um “Reformador”, Josué foi um “Reformador”, o Rei Josias foi um “Reformador”, Apóstolo Paulo foi um “Reformador”, Agostinho foi um “Reformador”, “Wycliff e Huss” foram “Reformadores” e não pré-reformadores. Lutero talvez tenha sido o menor de todos.

Nosso objetivo nesse breve artigo é muito simples: Demonstrar que sem Agostinho não teria havido a Reforma Protestante do século XVI.

John Piper, em sua excelente obra "O legado da alegria soberana" confirma isso que acabamos de afirmar. Diz ele:

O fato mais marcante a respeito da influência de Agostinho é que ela flui dentro de movimentos religiosos radicais de oposição. A gostinho é aprecisado como um dos maiores pais da Igreja Católica Romana. Contudo, foi ele que "nos deu a Reforma " - não somente pelo fato de "Luterio ser monge agostinianiano ou de Calvino ter citado Agostinho mais que qualqueer outro teólogo (...) [mas, porque] a Reforma testemnunhou o triunfo final da doutrina da graça de Agostinho sobre o legado da vosão do homem do ponto de vista Pelagiano (PIPER, 2005, p.45).

E ainda:

A experiência da graça de Deus na sua própria conversão determinou a trajetória de sua teologia da graça, que o levou ao conflito com Pelágio e o fez a fonte da Reforma uns mil anos mais tarde (PIPER, 2005, p.55)

QUEM FOI AGOSTINHO

Aurelius Augustinus, mais conhecido como Santo Agostinho, nasceu em Tagaste, província da Numída, atual Argélia, em 13 de novembro de 354. Seu pai era um pagão, de nome Patrício e sua mãe, Mônica, era uma mulher extremamente piedosa que orava constantemente pela conversão do seu filho, o que só ocorreu aos 32 anos de idade, portanto, em 386, após uma vida completamente desregrada e uma longa passagem por uma seita chamada maniqueísmo. Agostinho relatou, em suas confissões, o último diálogo que teve com sua mãe, após uma longa viagem: “o mundo, com todos os seus prazeres, perdia para nós todo valor e minha mãe me disse: “Meu filho, nada mais me atrai nesta vida [...] Deus me satisfez amplamente, porque te vejo desprezar a felicidade terrena para servi-lo”. Foi batizado por Ambrósio em 387; em 391 (A igreja dessa época já havia começado seu processo de centralização do poder dos bispos, mas ainda não era uma igreja com as configurações “Católicas Romanas”, o que só vai ocorrer no século V, com a chamada pretensão petrina) ordenado sacerdote em Hipona (África do Norte) e em 396 tornou-se bispo dessa mesma cidade. Suas principais obras são: Confissões (400), A graça – dois volumes – uma refutação contra os Pelagianos (412-430), e um tratado contra os pagãos – A cidade de Deus (413-426), morreu em 430.

INFLUÊNCIA DE AGOSTINHO SOBRE OS DOIS MAIORES ÍCONES DA REFORMA PROTESTANTE DO SÉCULO XVI

A influência de Agostinho e seu legado sobre os reformadores é algo inegável e exaustivamente já explorado. Como sabemos, muitos fatores contribuíram para a Reforma Protestante – como o Renascimento, por exemplo - mas, nenhum deles foi tão decisivo quanto o contato que tiveram com a obra de Agostinho, o que nos permite afirmar que Agostinho foi responsável direto pelo que aconteceu no século XVI.

A influência de Agostinho sobre Lutero

O fato de ser Lutero um monge da ordem Agostiniana já dispensaria, por si só, a necessidade de tecer outros maiores comentários. Sobre essa influência, Sprool chega a fazer a seguinte afirmação: “A influência de Agostinho sobre Lutero é um assunto digno de registro. No relato de Lutero de sua famosa “experiência da torre”, quando despertou para o evangelho da justificação somente pela fé, ele disse que essa experiência teve como gatilho a leitura de um comentário escrito por Agostinho, séculos antes em relação à justiça de Deus em Romanos 1 [...] Agostinho é considerado como o maior teólogo do primeiro século da história, se não de todos os tempos” (ao dizer isso, Sprool reconhece a superioridade de Agostinho em relação a Lutero e outros reformadores).

Uma das mais conhecidas obras de Lutero, Nascido Escravo, tem traços agostinianos tão marcantes, quanto ao estilo e conteúdo, que dificilmente o leitor que já leu o mínimo de Agostinho não o perceberia nas entrelinhas.

Warfield, chega a dizer que “A grande contribuição que Agostinho deu ao pensamento do mundo (E em especial a Lutero) é personificada na teologia da graça [...]. Essa doutrina da graça veio das mãos de Agostinho com seu esboço positivo completamente formulado”.

A influência de Agostinho sobre Calvino

Assim como em Lutero, a influência exercida por Agostinho em Calvino é algo notório e inquestionável. Sprool chega a dizer que “A pessoa que João Calvino citou mais vezes do que qualquer outro escritor extra-bíblico foi Agostinho”.

Passaremos a verificar agora uma série de citações, retiradas do site http://www.arminianos.com/, que falam sobre a influência de Agostinho em Calvino. Obviamente que, ao fazer isso, esse site tenta diminuir a importância de Calvino, reduzindo-o a um simples plagiador de Agostinho. Agradecemos a contribuição dos irmãos arminianos. Claro que Calvino desenvolve seu próprio ministério e também deixou um maravilhoso legado para o mundo. Mas, qual o problema se ele tivesse apenas dito o que Agostinho disse? Ora, o que Agostinho disse foi o que Paulo disse, logo, todos fazem côro com as Escrituras Sagradas:

Agostinho foi tão vigorosamente calvinista, que João Calvino se referia a si mesmo como um teólogo agostiniano.

Acima de tudo, Calvino considerava seu pensamento como uma exposição fiel das idéias principais de Agostinho de Hipona.


Por toda as Institutas a dívida auto-confessada de Calvino a Agostinho é constantemente aparente.

Ele na verdade incorpora em seu tratamento do homem e da salvação tantas passagens típicas de Agostinho que sua doutrina parece aqui inteiramente contínua com a de seu grande predecessor africano.

Ele empresta de Agostinho pontos de doutrina com ambas as mãos.

Ele fez de Santo Agostinho sua leitura constante, e se sente em iguais condições com ele, cita-o em toda oportunidade, apropria de suas expressões e considera-o como um dos mais valorosos dos aliados em suas controvérsias.

Seja como for, para provar conclusivamente que Calvino era um discípulo de Agostinho, não precisamos olhar além do próprio Calvino. Ninguém consegue ler cinco páginas nas Institutas de Calvino sem ver o nome de Agostinho. Calvino cita Agostinho mais de quatrocentas vezes nas Institutas apenas.

Ele chamou Agostinho por títulos como “homem santo” e “pai santo.” O próprio Calvino até declarou: “Agostinho está tão inteiramente comigo, que se eu quisesse escrever uma confissão de minha fé, eu poderia fazer com toda integridade e satisfação a mim mesmo de seus escritos. De fato, Calvino encerra sua introdução para a última edição de suas Institutas com uma citação de Agostinho.

A SISTEMATIZAÇÃO DOUTRINÁRIA DOS REFORMADORES COMO PLÁGIO DA OBRA DE AGOSTINHO:

Constantemente os reformadores são acusados de plágio da obra de Agostinho. Spurgeon, não via nenhum problema nisso e ainda por cima assumia tal posição. Diz ele: “A velha verdade que Calvino pregava, que Agostinho pregava, que Paulo pregava, é a verdade que eu tenho que pregar hoje [...]. O evangelho de Jonh Knox é o meu evangelho.

Para finalizar, veremos uma série de citações de Agostinho, sobretudo, sobre sua Antropologia e teologia da graça, com a intenção maior de compararmos e tentarmos fazer um paralelo com os principais documentos reformados, pegando como exemplo, por razões obvias, os símbolos de Westmister.

Agostinho disse:

A natureza do homem foi criada no princípio sem culpa e sem vício. Mas a atual natureza, com a qual todos vêm ao mundo como descendentes de Adão, tem agora necessidade de médico devido a não gozar de saúde. O somo Deus é o criador e autor de todos os bens que ele possui em sua constituição: vida, sentidos e inteligência. O vício, no entanto, que cobre de trevas e enfraquece os bens naturais, a ponto de necessitar de iluminação e de cura, não foi perpetrado pelo seu criador, ao qual não cabe culpa alguma. Sua fonte é o pecado original que foi cometido por livre vontade do homem. Por isso, a natureza sujeita ao castigo atrai com justiça a condenação (GRAÇA, 1999, p.114).

Agora veja o que diz a Confissão de Fé de Westminster:

Deus dotou a vontade do homem de tal liberdade, que ele nem é forçado para o bem ou para o mal, nem a isso é determinado por qualquer necessidade absoluta da sua natureza. O homem, caindo em um estado de pecado, perdeu totalmente todo o poder de vontade quanto a qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação, de sorte que um homem natural, inteiramente adverso a esse bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu pr6prio poder, converter-se ou mesmo preparar-se para isso. Deus dotou a vontade do homem de tal liberdade, que ele nem é forçado para o bem ou para o mal, nem a isso é determinado por qualquer necessidade absoluta da sua natureza. O homem, em seu estado de inocência, tinha a liberdade e o poder de querer e fazer aquilo que é bom e agradável a Deus, mas mudavelmente, de sorte que pudesse decair dessa liberdade e poder (WESTMINSTER, 1996, p.11).

Lutero disse:

Erasmo [...] você assevera que o “livre-arbítrio” é a capacidade que a vontade humana tem, por si mesma, de decidir [...] Os pelagianos também fizeram isso. Mas você os ultrapassa! [...] Prefiro até mesmo o ensinamento de alguns dos antigos filósofos aos seus. Eles diziam que um homem entregue a si mesmo só faria o errado. O homem só poderia escolher o bom com a ajuda da graça divina. Eles diziam que os homens são livres para decair, mas que precisam de ajuda para elevarem-se! Porém, é motivo de riso chamar a isso de “livre-arbítrio”. Com base em tais conceitos, eu poderia afirmar que uma pedra tem “livre-arbítrio”, pois só pode cair, a menos que seja erguida por alguém! O ensino daqueles filósofos, põem, ainda é melhor do que o seu. A sua pedra, Erasmo, pode escolher se sobe ou desce! (LUTERO, 1988, p.41).

Agora veja o que disse Agostinho:

Procuremos entender a vocação própria dos eleitos, os quais não são eleitos porque creram, mas são eleitos para que cheguem a crer. O próprio Senhor revela a existência desta classe de vocação ao dizer: Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi (Jo 15: 16). Pois, se fossem eleitos porque creram, tê-lo-iam escolhido antes ao crer nele e assim merecerem ser eleitos. Evita, porém, esta interpretação aquele que diz: Não fostes vós que me escolhestes. Não há dúvida que eles também o escolheram, quando nele acreditaram. Daí o ter ele dito: Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi, não porque não o escolheram para ser escolhidos, mas para que o escolhessem, ele os escolheu. Isso porque a misericórdia se lhes antecipou (Sl 53:11) segundo a graça, não segundo uma dívida. Portanto, retirou-os do mundo quando ele vivia no mundo, mas já eram eleitos em si mesmos antes da criação do mundo. Esta é a imutável verdade da predestinação da graça. Pois, o que quis dizer o Apóstolo: Nele ele nos escolheu antes da fundação do mundo?(Ef 1:4). Com efeito, se de fato está escrito que Deus soube de antemão os que haveriam de crer, e não que os haveria de fazer que cressem, o Filho fala contra esta presciência ao dizer: Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi. Isto daria a entender que Deus sabia de antemão que eles o escolheriam para merecerem ser escolhidos por ele. Conseqüentemente, foram escolhidos antes da criação do mundo mediante a predestinação na qual Deus sabia de antemão todas as suas futuras obras, mas são retirados do mundo com a vocação com que Deus cumpriu o que predestinou. Pois, o que predestinou, também os chamou com a vocação segundo seu desígnio. Chamou os que predestinou e não a outros; predestinou os que chamou, justificou e glorificou (Rm 8:30) e não a outros com a consecução daquele fim que não tem fim. Portanto, Deus escolheu os crentes, mas para que o sejam e não porque já o eram. Diz o apóstolo Tiago: Não escolheu Deus os pobres em bens deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam? (Tg 2:5). Portanto, ao escolher, fá-los ricos na fé, assim como herdeiros do Reino. Pois, com razão, se diz que Deus escolheu nos que crêem aquilo pelo qual os escolheu para neles realizá-lo. Pergunto: quem ouvir o Senhor, que diz: Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi, terá atrevimento de dizer que os homens têm fé para ser escolhidos, quando a verdade é que são escolhidos para crer? A não ser que se ponham contra a sentença da Verdade e digam que escolheram antes a Cristo aqueles aos quais ele disse: Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi (GRAÇA II, 1999, p.194, 195).

Agora compare com o que diz a Confissão de Fé de Westminster:

Pelo decreto de Deus e para manifestação da sua glória, alguns homens e alguns anjos são predestinados para a vida eterna e outros preordenados para a morte eterna. Esses homens e esses anjos, assim predestinados e preordenados, são particular e imutavelmente designados; o seu número é tão certo e definido, que não pode ser nem aumentado nem diminuído.Segundo o seu eterno e imutável propósito e segundo o santo conselho e beneplácito da sua vontade, Deus antes que fosse o mundo criado, escolheu em Cristo para a glória eterna os homens que são predestinados para a vida; para o louvor da sua gloriosa graça, ele os escolheu de sua mera e livre graça e amor, e não por previsão de fé, ou de boas obras e perseverança nelas, ou de qualquer outra coisa na criatura que a isso o movesse, como condição ou causa. Assim como Deus destinou os eleitos para a glória, assim também, pelo eterno e mui livre propósito da sua vontade, preordenou todos os meios conducentes a esse fim; os que, portanto, são eleitos, achando-se caídos em Adão, são remidos por Cristo, são eficazmente chamados para a fé em Cristo pelo seu Espírito, que opera no tempo devido, são justificados, adotados, santificados e guardados pelo seu poder por meio da fé salvadora. Além dos eleitos não há nenhum outro que seja remido por Cristo, eficazmente chamado, justificado, adotado, santificado e salvo. Segundo o inescrutável conselho da sua própria vontade, pela qual ele concede ou recusa misericórdia, como lhe apraz, para a glória do seu soberano poder sobre as suas criaturas, o resto dos homens, para louvor da sua gloriosa justiça, foi Deus servido não contemplar e ordená-los para a desonra e ira por causa dos seus pecados.

Dá-me a graça [Ó Senhor] para fazer o que ordenas, e ordena-me a fazer o que tu queres! ò Santo Deus [...] quando teus mandamentos são obedecidos, é do Senhor que recebemos o poder de obedecê-los (Confissões).

sábado, 31 de outubro de 2009

O LADO NEGATIVO DA REFORMA PROTESTANTE

Para uma melhor compreensão do artigo abaixo é essencial a leitura do seguinte texto:
II REIS 23:1-14 e 22:8-10.

O texto citado acima “pinta” um quadro surpreendente de como um “povo autêntico” de Deus pode desviar-se de suas veredas. Já aqui temos uma lição importante: Isso pode acontecer conosco também; com nossas igrejas; com nossas vidas. Já aconteceu no passado; o que nos garante que não voltará a acontecer? O livro de II Reis, nos capítulos 22 e 23, nos mostra algo notável e que é “fato-presente” na história de todos os grandes desvios do “povo autêntico de Deus”. De forma sintetizada, a situação era a seguinte:

a) O povo de Deus (permita-me dizer uma igreja), completamente desviada dos seus caminhos: corrompida, misturada, devassa; envolta com toda prática de prostituição e misticismo desenfreado; b) Palavra de Deus esquecida, mais que isso: perdida, abandonada. Ninguém sequer a consultava mais; c) Um homem (Josias) tem a oportunidade de ler essa palavra; cai em si; percebe que não somente ele, mas também todo o “povo de Deus” estava à beira do paganismo, precisamente por ter negligenciado e abandonado as Sagradas Escrituras; d) Esse homem não fica com a palavra de Deus só pra ele, antes, apresenta-a ao povo; e) O povo volta-se para Deus, arrependido. Esse quadro lembra algo? Exatamente o mesmo quadro encontrado no século XVI, por Lutero.

É o mesmo quadro encontrado todas as vezes que o “povo de Deus” deixa de ter a Bíblia como sua ÚNICA regra de Fé e Prática. Infelizmente esse modelo cíclico está acontecendo novamente. Josias, o “Lutero de Israel”, promoveu uma verdadeira REFORMA na “igreja” de Deus. Estamos falando do ano 642 a.C; ou seja, cerca de 2.160 anos antes do movimento que ficou conhecido como a REFORMA PROTESTANTE. Mas, será que poderíamos, à semelhança da metáfora acima, chamar Lutero de “O Josias Protestante”? Lutero, de fato, conseguiu atingir seus objetivos? Lutero conseguiu REFORMAR a igreja que fazia parte? O Rei Josias, diferentemente de Lutero, promoveu a REFORMA da “igreja” que fazia parte. Lutero, em nossa opinião, não teve o mesmo êxito (talvez porque, realmente, não era possível reformar uma igreja tão desviada das escrituras, como se tornou a romana; talvez o estrago já estava muito grande - havendo “perda total” -; ou ainda por algum tipo de inabilidade política, ou, quem sabe, até precipitação).

O fato é que Não houve REFORMA (na igreja do ocidente = Católica apostólica Romana). O que houve na verdade foi uma RUPTURA. Robert Nicolls, em sua História da Igreja Cristã, confirma esse nosso argumento:

"Num debate, no qual fora desafiado por um defensor da igreja, ele declarou, como resultado dos estudos que fizera, que o papa não tinha autoridade divina e que os concílios eclesiásticos não eram infalíveis. Essas afirmações significaram seu ROMPIMENTO DEFINITIVO E IRREVOGÁVEL com a igreja papal" (NICOLLS, 2002, p.159).

Isso nos faz refletir: O que seria melhor? Se a Igreja Romana passasse, de fato, por uma REFORMA (como intentava, a princípio, Lutero) e voltasse às Escrituras ou o ROMPIMENTO (que de fato houve?). Penso que essa RUPTURA abriu caminho para uma série de outras rupturas futuras.

Estima-se que, só em São Paulo, a cada dois dias, é aberta uma nova igreja (regularizada). Igreja para góticos, para metaleiros, para surfistas, e até, pasmem, para gays. A revista Eclésia, em sua edição de Nº 91, publicou uma reportagem sob o título “Igrejas para todos os gostos”, onde lista mais de 70 estranhas igrejas. Confira acessando: http://www.eclesia.com.br/revistadet1.asp?cod_artigos=366.


O “protestantismo” é hoje uma imensa “cocha de retalhos” (alguém pode negar?). E a cada nova RUPTURA a nova igreja resultante se aproxima cada vez mais do ROMANISMO, comprovando a velha tese de repetição cíclica da história. Uma das mais graves RUPTURAS, em nossa opinião, foi a que ocorreu em 1906, em Los Angeles, na famosa rua Azuza, onde teve origem o PENTECOSTALISMO, e, com ele, todas as ramificações neo-pentecostais e neo-renovadas (uma verdadeira RUPTURA com o PROTESTANTISMO HISTÓRICO, tornando-se outra coisa, de fato).

Ao nosso ver, este é o mais grave passo de RETORNO AO ROMANISMO. Aparentemente o pentecostalismo é algo muito distinto do ROMANISMO, mas não é. Basta um rápido olhar para percebermos o gritante retorno:

a) Para os irmãos pentecostais, assim como para os católicos, a palavra de Deus não é a ÚNICA regra de fé e prática. Os Católicos têm nas bulas papais e na tradição o mesmo valor de autoridade das Escrituras. Os irmãos pentecostais, da mesma forma, nas NOVAS REVELAÇÕES; b) O catolicismo ensina um SEMI-PELAGIANISMO, isto é, o homem coopera com Deus na salvação. Os irmãos pentecostais pensam do mesmo jeito, quando não superam esse erro, tornando-se, verdadeiramente, PELAGIANOS; c) O catolicismo ensina Salvação pelas obras. E os irmãos Pentecostais? Exatamente igual: É Cristo e mais cabelo, roupas, calos nos joelhos, etc. d) O que não dizer também do conceito de santidade? É exatamente o mesmo. Há alguma diferença nas vestes dos irmãos pentecostais para as dos SANTOS CATÓLICOS?

Esse é, certamente, o lado negativo da RUPTURA PROTESTANTE. E isso é um grande problema para a igreja de Deus.

Para quem acha que estou exagerando, o cantor João Alexandre, em sua extraordinária música "É proibido pensar", ilustrada de forma feliz no vídeo abaixo, aborda sobre o atual e lastimável estado daquilo que se denomina "igreja evangélica". Não deixe de assistir, vale muito à pena. É uma das melhores músicas dos últimos tempos:

Ainda sobre o lado negativo da Reforma Protestante, aproveite e veja também como estamos (e não tem como negar, os Reformados são considados, nesse sentido, "farinha do mesmo saco", portanto, não adianta fingir que não temos nada a ver com isso. Se realmente não temos, então vamos deixar isso muito claro para todos) sendo ridicularizados, aliás, com toda razão. Esse pessoal do CQC sabe mesmo utilizar a "Maiêutica Socrática", isto é, sabe fazer com que os "crentes" cheguem, eles mesmos, à verdade: são massa de monobra de alguns lobos espertalhões travestidos de ovelhas. Mas, o pior de tudo é que, apesar de saberem disso, eles mesmos pedem: me enganem, por favor! Isso é incrível! Vejam o brilhante CQC "nos" ridicularizando na marcha pra Jesus (pra Jesus?).

Apesar de tudo, no sentido principal, o de trazer a igreja INVISÍVEL de Deus de volta às ESCRITURAS SAGRADAS, podemos afirmar ser LUTERO o “JOSIAS PROTESTANTE”, título que deverá ser repartido com os demais “reformadores”.

FELIZ 31 OUTUBRO, COM MAIS HUSS E MENOS LUTERO


Há 492 anos as “marteladas retumbantes” do monge agostiniano Martinho Lutero puseram fim a um longo e doloroso processo de tentativa de “reforma” da então única igreja cristã do ocidente. A partir do século V, com a chamada “pretensão petrina”, a igreja romana intensificou um verdadeiro processo de afastamento das Sagradas Escrituras. Desde então, muitos se levantaram contra esses desvios e desmandos do clero. Muitos morreram - fato comum aos verdadeiros profetas da verdade -, servindo, alguns, de combustível para as fogueiras romanas. Não é necessário repetirmos quantas vidas foram “doadas” em prol dessa “Reforma”. Mas, o fato é que Lutero, apesar de ter a mesma intenção dos chamados pré-reformadores, isto é, o retorno da igreja ocidental às Escrituras Sagradas - reforma -, não conseguiu, pelo menos no que diz respeito à igreja visível, atingir seu objetivo. Na verdade, o que houve foi uma “ruptura” e a formação de outro grupo religioso e não a intentada reforma da igreja que já existia. As bruscas atitudes de Lutero, em relação a Roma, e suas pesadas “afirmações significaram seu rompimento definitivo e irrevogável com a igreja papal” (NICOLLS, 2002, p.159). Como bem sabemos, mesmo antes do século XVI, a insatisfação com a igreja papal era geral. Protestos e levantes ocorriam em todas as partes do mundo. Isso nos faz levantar as seguintes questões: será que a “Reforma” não ocorreria, naturalmente, dentro da própria igreja romana se não tivesse havido a ruptura Luterana? Será que Lutero não precipitou-se na empolgação dos importantes apoios políticos que recebera? O que diriam os chamados “pré-reformadores” que “doaram” suas vidas para que a igreja fosse “reformada”, se tivessem a oportunidade de saber que não foi isso que ocorreu? O que diria John Huss, queimado em Constança, tendo sido violado o seu salvo-conduto? Se a igreja não foi “reformada”, morri em vão? Devemos aprender com a história. Fala-se muito que a IPB precisa, urgentemente, passar por uma “nova reforma”. Novos “Luteros Presbiterianos”, têm surgido, com o “mesmo martelo na mão”, dispostos, inclusive, a provocarem “novas rupturas”. É isso que queremos? Certamente que não! Não podemos negar que muitos líderes da IPB (e não a IPB) estão, perigosamente, se desviando das verdades escriturísticas, sistematizadas através dos seus símbolos de fé: Confissão e Catecismos de Westminster. Contudo, “atitudes isoladas” - quem sabe motivadas pela cobiça à fama de Lutero – em nada contribuem para a melhoria da IPB como instituição. Por que todos querem ser Lutero e não Huss? Todos que amam as “antigas doutrinas da graça” e que querem a firmeza doutrinária da IPB devem “doar” suas vidas, assim como fez John Huss, em busca desse objetivo e não dar “marteladas” anacrônicas, fixando posturas extremadas que só servem para dividir, torná-los chatos e criar antipatia pelos ideais da reforma protestante.

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