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sábado, 5 de novembro de 2011

PENTECOSTALISMO E REFORMA PROTESTANTE: Pressuposto Ético - Parte III

             
O livro “Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, do sociólogo ateu Max Weber, escolhido como o livro de não ficção mais importante do século XX, por intelectuais como o antropólogo Roberto Damatta,  o filósofo Renato Janine Ribeiro e o economista Eduardo Giannetti, entre outros, a convite da Folha de São Paulo (04/1999), faz uma verdadeira radiografia da influência do Calvinismo no  mundo, sobretudo no que diz respeito à questões Éticas, Morais e Econômicas.

Na contramão do Marxismo, que julgava que as mudanças da economia possuíam como causas apenas fatores econômicos, Max Weber faz brotar uma nova interpretação para a antiga questão. Utilizando a metodologia comparativa entre diversas economias, chega à conclusão que as mais desenvolvidas possuíam um traço em comum: a predominância protestante calvinista nos cargos importantes.

Weber chega à conclusão que há algo no estilo de vida dos protestantes Calvinistas, em sua Ética, que favorece o que ele chama de “espírito do capitalismo”:

“A crença nessa sistematização doutrinária calvinista leva o “eleito” a um imenso sentimento de gratidão a Deus, uma vez que, mesmo sem merecer, recebe esta graça extraordinária. Dessa forma, coube aos puritanos, que se consideravam eleitos, viver a santificação da vida cotidiana. Pois o caráter sectário – a consciência de ser minoria e a motivação de ser eleito de Deus – fazia de cada membro dessas comunidades não mero adepto do rebanho mas, mas um vocacionado que se dedicava simultaneamente ao aprimoramento ético, intelectual e profissional” (WEBER, 2002. p.21).

É fato digno de registro  que um ateu observe a prática dos Calvinistas e reconheça que sua crença nas doutrinas da Soberania de Deus influencia de tal modo suas vidas a ponto de produzir  a necessidade de viver uma vida Ética, que pressupõe, acima de tudo, respeito às pessoas:

“O Deus de Calvino exigia de seus crentes não boas ações isoladas, mas uma vida de boas ações combinadas em um sistema unificado” (WEBER, 2002. p.91).

Não quero me alongar nessa análise, pois retomamos esse assunto apenas como base comparativa daquilo que passaremos a abordar: a “ética” Pentecostal. Caso você se interesse por este assunto, o artigo completo sobre Max Weber está publicado no mês de março 2009 aqui no blog. É só localizar no “Arquivos do Blog”.

Finalizando essa parte introdutória, basta tão somente dizer que a contrapartida das pesquisas de Weber apontava como uma das causas da pobreza e da falta de crescimento intelectual das nações e economias colonizadas pelo Catolicismo Romano, o próprio modo de vida produzido pela Religião Católica, envolta em misticismos e crendices populares.

É exatamente aqui que entra o principal link entre a “ética” produzida pelo Catolicismo Romano e a “ética” produzida pelo Pentecostalismo.

Muito embora os mesmos traços de pobreza e do pouco crescimento intelectual, identificado por Weber nos católicos de diversos países, possam, facilmente, serem identificados, também, entre os pentecostais, como causa e também como conseqüência de sua prática religiosa, queremos aprofundar essa questão e ir além da passividade representada por essas duas características que, em nossa opinião, de forma geral, é uma produção mais peculiar da “ética” produzida a partir do entendimento doutrinário da fé Católica Romana. Como o Pentecostalismo em muito se assemelha ao Catolicismo Romano, como já demonstramos, acaba absorvendo, de tabela, essas influências. Contudo, não é esse o traço marcante na “ética” dos pentecostais.

O arcabouço doutrinário Pentecostal produz, antes, e de forma mais acentuada, o que chamaremos aqui, para fazer um contraponto com a idéia particularizada de “ética” do sociólogo Max Weber, de “Ética da Vantagem.  Isso mesmo. É característica peculiar do Pentecostal querer tirar vantagem de tudo e de todos.

A idéia de um contato, de uma comunicação direta com Deus, via “novas revelações”, produz, no Pentecostal, o efeito contrário que a doutrina da eleição incondicional produz no Calvinista. Faz dele uma espécie de “super-crente”, alguém que tem “poder”, alguém que tem um relacionamento diferenciado com Deus, o que o acaba tornando, inconscientemente, um crente soberbo. Enquanto a Eleição Incondicional, conseqüência direta da doutrina da Depravação Total do Homem, humilha o homem e o deixa consciente de sua inutilidade, comprovando que tudo que possui advem do favor divino, a doutrina da 2ª benção aliada ao semi-Pelagianismo, ao contrário, exalta o homem deixando-o prepotente e orgulhoso de si.

O resultado disso tudo não poderia ser outro: o Pentecostal entende que o mundo deve girar ao seu redor. Todas as coisas devem orbitar em sua volta. Pentecostal tem “o rei na barriga”. Mais que isso: Pentecostal se acha o próprio rei. E, por isso mesmo, ele não consegue enxergar o outro, respeitar o direito do outro, mas apenas seu alvo, que é conquistar o melhor, que é ter o melhor, aquilo que lhe é, supostamente,  de “direito”. Afinal, rei é rei!

Kenneth Hagin, muito embora não seja um legítimo representante do Pentecostalismo da primeira onda, apesar de ter tido dela toda a influência doutrinária, traduz de forma explícita e irrefutante o sentimento que paira no coração do Pentecostal que não teve nenhuma contato com a doutrina humilhante da Depravação Total do homem:

“Você não tem um deus no seu interior, você é um Deus. Uma réplica perfeita de Deus! Diga isso em alto e bom som, “eu sou uma réplica perfeita de Deus”! (A congregação repete um tanto insegura e sem jeito)...vamos digam isto! (Ele conduz a congregação em uníssono). Digam de novo! “Eu sou uma réplica de Deus!”- A congregação começa a se animar e o entusiasmo e o barulho aumentam cada vez que eles repetem a frase”. (NODA, 1997. p.23).

Por isso Pentecostal não respeita filas. Por isso Pentecostal acha que pode comprar e contratar serviços e não pagar. Por isso Pentecostal é péssimo empregado. Por isso Pentecostal é péssimo Patrão. Por isso Pentecostal é Péssimo vizinho. Por isso Pentecostal é péssimo marido. Por isso Pentecostal é péssima esposa. Por isso é cada vez maior o número de pessoas que repetem a já famosa frase “não faço negócio com crente”. Por isso  Pentecostal não assiste socialmente os membros de sua igreja, levando muitos a terem que esmolar na porta da igreja dos outros.

Permita-me colocar o resultado empírico das minhas observações. Todos os dias, juntamente com outros cristãos católicos e espíritas e até ateus, preciso esperar pacientemente o ônibus para ir trabalhar. Ao “entrar na bandeira” o coletivo, não é raro você perceber que algumas poucas pessoas têm a cara de pau de passar na frente e “furar a fila”, como se diz aqui no Nordeste. Um olhar mais treinado e pesquisador, vai  perceber rapidinho que no meio dos “furões” está sempre uma irmã Pentecostal, notadamente reconhecível por sua grife de “crente”, com cocó e tudo mais ou um irmão falastrão com ar de pseudo piedade.  

Outro dia, pasmem, numa pequena fila de frios de um supermercado alguém passou na frente de todo mundo e fez o seu pedido. Imaginei na hora: “deve ser um Pentecostal”. Na mosca. Mais uma vez comprovada minha teoria da “Ètica da vantagem”. Ei, irmão: você é Pentecostal não é? Sim, como você percebeu? Pelas minhas vestimentas santas? Não, porque você “furou a fila”. Esse diálogo só existiu em minha mente, infelizmente. Não tive coragem de iniciar a conversa. Aprendi com meu pai que “quem tem vergonha não faz vergonha”. Mas que tive vontade, ah isso tive. São inúmeros os relatos que poderíamos citar aqui como prova empírica de nossa argumentação. Mas, deixarei para você, caro leitor. Caso você tenha sido testemunha ocular de alguma situação bisonha, por favor, nos conte como comentário. Servirá de subsídios para o aprofundamento da nossa pesquisa.

O vídeo abaixo, da variação Pentecostal que é o neopentecostalismo, é um bom exemplo disso que denominamos de “Ética da Vantagem” Pentecostal.


O antropólogo Sérgio Buarque de Holanda, no seu livro “Raízes do Brasil”, bem como o também antropólogo Roberto Damatta, em seu livro “O que faz o Brasil, Brasil?”, abordam um assunto bem interessante que, segundo eles, é traço marcante do povo brasileiro: o chamado “jeitinho Brasileiro”.

“O jeitinho brasileiro é a transgressão suave já institucionalizada e aceita como característica fundamental e indispensável para o simpático e alegre brasileiro legitimar o seu poder diante dos outros. O seu problema é sempre mais urgente que o do vizinho. E isso, claro que somente isso, justifica que você fure a fila do supermercado”. http://gargalo.wordpress.com/2008/05/28/um-jeitinho-mais-que-brasileiro/.  O "jeito" ou "jeitinho" pode se referir a soluções que driblam normas, ou que criam artifícios de validade ética duvidável. A expressão "jeitinho" no diminutivo em certos casos, assume um sentido puramente negativo, significando não só driblar mas violar normas e convenções sociais, uma forma dissimulada de navegação social tipicamente brasileira na qual são utilizados recursos como apelo e chantagem emocional, laços emocionais e familiares, recompensas, promessas, dinheiro, e outros ou francamente anti-éticos para obter favores para si ou para outrem, às vezes confundido ou significando suborno ou corrupção [...].Os adeptos do "jeitinho" consideram de alto status agir desta forma, como se isto significasse ser uma pessoa articulada, bem posicionada socialmente, capaz de obter vantagens inclusive ilícitas, consideradas imorais por outras culturas” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Jeitinho)

Assim como antes de Max Weber ninguém tinha atribuído fatores relacionados ao desenvolvimento econômico às questões religiosas, desconfio que os pesquisadores do chamado “jeitinho brasileiro” também estão esquecendo de abordar essa importante formuladora da prática cotidiana: a religiosidade. Talvez fosse exagero atribuir ao Pentecostalismo a origem desse famoso “jeitinho brasileiro”, que acabou contaminando a sociedade. Contudo, observando as definições acima, não é exagero nenhum dizer que os Pentecostais, no mínimo, contribuem grandemente para a perpetuação desse modo de viver.

A “Ética da vantagem” Pentecostal tem levado muitos irmãos a serem protagonistas de famosos escândalos. Só pra lembrar alguns: o caso de Sônia e Estevam Hernandes. A máfia dos sanguessugas, protagonizada por grande parte da bancada evangélica. O caso da oração de gratidão pela propina recebida de Leonardo Prudente e Rubens Brunelli.

Todos esses casos e tantos outros que não temos espaço para dizê-los aqui, têm algo em comum: a “presença predominante”, para usar uma expressão weberiana, de Pentecostais envolvidos.

Mas é verdade também que nem sempre os Pentecostais conseguem o que querem, mesmo usando todos os meios espúrios que usam. Pensam que eles se dão por vencidos? Na “Ética da vantagem Pentecostal” não tem espaço para derrotas. Eles continuam tentando. São incansáveis. Por isso os hospícios e sanatórios estão lotados de Pentecostais. Acha que estou exagerando de novo? Então visite um.

Nota: Esse artigo, bem como os outros da série Pentecostalismo e Reforma Protestante não está se referindo a indivíduos Pentecostais. É evidente que existem muitos Pentecostais, mas não a maioria, que são pessoas de bem e que têm um testemunho digno. Pessoalmente conheço alguns. Infelizmente não muitos. Da mesma forma não estamos querendo advogar que todo calvinista tem uma postura ética e moral ilibada. Evidentemente que existem alguns calvinistas que são uma vergonha. Contudo, estamos tratando de uma visão macro dessas relações religiosas. De forma que, de uma maneira geral e abrangente, por tudo que foi argumentado aqui, podemos afirmar: o calvinismo produz no seu crente uma postura ética e moral invejável e digna de registro até de ateus, como  é o caso de Max Weber, enquanto que o Pentecostalismo produz no seu crente o que chamamos aqui de “Ética da vantagem” Pentecostal.

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