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segunda-feira, 10 de outubro de 2016

A CONTRIBUIÇÃO DO CALVINISMO NA CRIAÇÃO DE UM AMBIENTE FAVORÁVEL À ÉTICA E À MORAL, A PARTIR DA ATITUDE INDIVIDUAL - Parte 3/3


Essa nova atitude traz profundas implicações éticas e morais, criando no “eleito”, naturalmente, uma espécie de doutrina da “prova” de sua eleição, isto é, o eleito deveria viver de tal forma que sua pregação fosse completamente ajustada e alinhada à sua práxis, bem como deveria fazer girar todos os seus outros objetivos em órbita daquele que é a razão da sua própria vida nova: a glória de Deus; eliminando também, com isso, por completo, qualquer possibilidade alienante de “salvação por obras ou por sacramentos mágicos”.

Além disso, a antiga dicotomia romana entre Sagrado e Profano cai por terra. Para Calvino e seus seguidores não apenas as atividades relacionadas à religião e a fé deveriam glorificar a Deus, antes, pelo contrário, absolutamente tudo, inclusive atividades consideradas “seculares”, como a comercial, por exemplo, deveriam ser direcionadas aos céus, sob pena de não serem realizadas, não havendo nem mesmo um só instante que ficasse de fora, todos eles deveriam trazer em si a preocupação de glorificar a Deus.

Weber parece ter percebido isso com muita clareza quando afirma:  “O Deus de Calvino exigia de seus crentes não boas ações isoladas, mas uma vida de boas ações combinadas em um sistema unificado” (WEBER, 2002. p.91).

Como já vimos o Calvinismo não é apenas uma questão de fé nem tão pouco um complicado conglomerado metafísico que não reflete nas atitudes do cotidiano das pessoas, antes, pelo contrário, o Calvinismo invade todas as áreas do ser, inclusive a que o catolicismo considera “secular”, como observa Weber:
 
O efeito da Reforma foi o de aumentar em si mesmo, se comparado à atitude católica, e aumentar de forma poderosamente a ênfase moral e a sanção religiosa em relação ao trabalho secular organizado no âmbito da vocação” (WEBER, 2002. p.128).

É uma verdadeira avalanche mista de conhecimento profundo e prática anexada: “O teólogo norte-americano BB.Warfied descreve o Calvinismo como sendo a visão da majestade de Deus que permeia a vida e a experiência como um todo” (MARTINS, 2001, p.9).

Seguindo a orientação Paulina, os Calvinistas procuram “fazer todas as coisas como se estivessem fazendo para Deus” (RM 14:23, FP 2:3-15).

Weber confirma isso ao afirmar que: “No curso de seu desenvolvimento, o calvinismo acrescentou algo de positivo a isso tudo, ou seja, a ideia de comprovar a fé do indivíduo pelas atitudes seculares” (WEBER, 2002. p.120).

Finalmente, concluímos com as palavras sintetizadoras de Bieller:

Este dogma da predestinação engendrou o individualismo [...], este dogma teve principal efeito engendrar, entre aqueles que aceitavam as suas grandiosas consequências, indefectível sentimento de comunhão individual com Deus, comunhão que nada no mundo poderia alterar [...]. É esta inabalável e exclusiva confiança na só decisão de Deus sobre a sorte de cada um que e causa do tão acusado individualismo que caracteriza todas as populações influenciadas pelo Puritanismo [...]; eis aí um dos caracteres que o calvinismo comunicará a toda organização social que criará e que, ainda hoje, permanece vivo, na condição de um sentimento profano, nas populações protestantes secularizadas [...]. Este individualismo imprime igualmente sua marca na concepção peculiar do Calvinismo do amor ao próximo. Não é o próximo considerado em si mesmo, que é gerador deste amor; é-o a ordem e o mandamento de Deus que quer que todo o universo se conforme a Seu propósito, para Sua só glória. É assim que o exercício de um trabalho e de uma profissão é uma atividade divina ordenada para o serviço do próximo [...]. O autêntico serviço do próximo é a busca da glória de Deus e não da glória da criatura. Tudo quanto o homem empreende, para seu Deus ou para seu próximo tem, pois, certo caráter utilitário: deve ser útil à glória de Deus. E é este fim último comum a todos os atos e a todas as atividades da vida que dá à existência inteira, segundo a moral calvinista, um caráter ascético[1] (BIÉLER, 1999. p.630,631).


REFERÊNCIAS

BIÉLER. André. O Pensamento Econômico e Social de Calvino. São Paulo: CEP, 1990. p

LEITE. Cardoso. Cosmovisão Cristã e Transformação: espiritualidade, razão e ordem social. Ultimato: Viçosa-MG, 2006. pg.57

LEMBO. Cláudio. O Pensamento de João Calvino. São Paulo: Makenzie, 2000. 117.p

MARTINS. A.N. As inplicações Práticas do Calvinismo. São Paulo: Ed.Os Puritanos, 2001. p

NICODEMUS. Augustos. FIDES REFORMATA. V.1, n.1. São Paulo: Editora Makenzie, 1996, p.

PACKER.J.I. Entre os Gigantes de Deus. São Paulo: Ed.Os Puritanos. 1991. p

PORTELA. Solano. FIDES REFORMATA. V.1, n.1. São Paulo: Editora Makenzie, 1996, p.

RYKEN.Leland.Santos no Mundo. São José dos Campos-SP: Editora Fiel. 2013.p

WEBER.Max. Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo: Martin Claret, 2002.224 p.

WESTMINSTER. Confissão de Fé de Westminster. Rio de Janeiro: Cultura Cristã, 1999. p.

WESTMINSTER. Catecismo Maior. Rio de Janeiro: Cultura Cristã, 1999. p.



[1] O ascetismo ou asceticismo é uma filosofia de vida na qual são refreados os prazeres mundanos, onde se propõem a austeridade. Aquelas que praticam um estilo de vida austero definem suas práticas como virtuosa e perseguem o objetivo de adquirir uma grande espiritualidade.

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